sábado, 5 de outubro de 2024

COMO A DIRECCÇÃO VOLTOU ATRÁS NO SEU PEDIDO DE DEMISSÃO, GRAÇAS A UM ÓRGÃO DE APOIO, E COMO (COMO TANTAS VEZES TEM SUCEDIDO) O VITÓRIA SAIU FORTEMENTE REVITALIZADO APÓS UMA CRISE!

O jornal Comércio de Guimarães de 26 de Maio de 1950 trazia o anúncio. Iria decorrer uma Assembleia-Geral "afim de ser apreciado o pedido de demissão da actual direcção e, possivelmente, ser nomeada uma Comissão Administrativa."

Na verdade, a demissão de Antero Henriques da Silva do cargo de presidente da direcção, pelo facto de sentir-se pouco apoiado, como foi explicado na referida Assembleia-Geral e que foi noticiada pelo sobredito periódico em 02 de Junho desse ano. Na verdade, "a Direcção (...) vai-se embora, porque não pode nem deve continuar a suportar, sózinha tão pezados encargos", uma vez que existia uma "diminuição de receitas, pois muitos sócios não pagavam as suas quotas e outros as mandavam anular." Assim, para continuar em exercício, deveriam os associados auxiliá-la moral e materialmente, já que "são grandes (...) as despezas a fazer, porque o Vitória precisa de se preparar para a nova época."

Porém, desde o momento em que a demissão foi apresentada sentia-se que tal não era o passo correcto a tomar. Na verdade, o já referido Comércio de Guimarães, em artigo datado de 26 de Maio, escrevia que " É tão fácil a crítica, mas é difícil encontrar valores que igualem, em boa vontade e sacrifício, os que teem gerido os interesses do Club Vimaranense." Por isso pedia-se para que todos exortassem à retirada do pedido de demissão, o que efectivamente se verificou.

Nesta reunião magna, ficaria famosa a intervenção do Engenheiro Alberto Costa que leu uma comunicação de Jorge da Costa Antunes que, "não sendo vimaranense, muito tem trabalhado pelo Vitória e por Guimarães" e que nesta houvera escrito que "o Vitória não póde ser Vitória sem a sua atual Direcção, e que Guimarães sem o Vitória e as Gualterianas, não poderia continuar a impor-se a Nacionais e a Estrangeiros." Por isso, terminou a fazer "um apelo à Indústria e ao Comércio, aqueles que mais recebem, com a sua vida, para que o subsidiem, como podem, como devem, como lhes cumpre, para que o Vitória possa continuar a singrar."

A Direcção seria assim persuadida a ficar em funções, mas passaria a continuar com o apoio de uma Comissão, que em conjunto com o órgão directivo, deveria "estudar a melhor forma de angariar os meios necessários à vida do Club", que tornou-se no verdadeiro leit-motiv da manutenção dos órgãos sociais.

Porém, no final, um curioso alerta, proveniente do presidente da Assembleia-Geral surgiria: "- É preciso que se proponham novos sócios, e que se tragam ao bom caminho os que andam transviados, pois é preciso que o Club tenha nova vida."

O Vitória saía revitalizado depois de uma crise...como, tantas vezes, tem ocorrido na sua história!

COMO FINALMENTE O VITÓRIA RESPIROU DE ALÍVIO COM AQUELE TRIUNFO SOBRE O ESTORIL E, TAMBÉM, COM O APOIO DE UMA INESPERADA ALIANÇA...

Aquela temporada de 1949/50, até aquele momento, fora absolutamente agónica. Plena de sofrimento, com o Vitória incapaz de descolar dos derradeiros lugares da tabela e a fazer contas de cabeça a uma manutenção que, por vezes, pareceu querer fugir.

Porém, a contribuírem para que a história tivesse um final feliz, três momentos chave, numa equipa que, apenas, triunfou por sete vezes em vinte e seis partidas: o êxito caseiro perante o Elvas por três bolas a uma, depois de ter estado a perder com golos de Franklim, Brioso e de Teixeira da Silva, o empate obtido no sempre difícil terreno da Olhanense e, por fim, aquele jogo com o Estoril a 30 de Abril de 1950.

O jogo com os canarinhos revestia-se de um dramatismo muito especial. Na verdade, estando o campeonato na sua penúltima jornada e com os Conquistadores igualados em pontos com estes e com o Elvas, o resultado assumia contornos de decisivo para escapar aos temidos "play-off" com o segundo classificado da Segunda Divisão, pois o último lugar que significava despromoção directa parecia já ser pertença do Lusitano de Vila Real de Santo António.

Com o Vitória a alinhar com Silva; Ferreira, Cerqueira, Costa; Magalhães, Rebelo; Franklim, Miguel, Teixeira da Silva, Brioso e Custódio, na Amorosa percebeu-se a existência de uma curiosa falange de apoio. Com efeito, como refere o Comércio de Guimarães de 05 de Maio de 1950, "de notar de de louvar o aparecimento de bastantes bandeiras do Sporting de Braga que vieram trazer-nos o seu apoio e incitamento". Concluía o cronista que "de facto, os dois clubes, que tão bem representam a província, necessitam viver unidos, para que o Desporto nesta região, cada vez mais se imponha e sirva as terras que o acarinham."

Para que tal sucedesse, muito ajudou um comunicado emitido num jornal da cidade vizinha, em que a direcção do eterno rival exortava a que "consciente da camaradagem desportiva que existe entre estas duas equipas minhotas, sente-se no dever de convidar os seus associados a irem a Guimarães incitar o grupo local a fim que este se sinta completamente apoiado pelas falanges desportivas das duas cidades".

Assim, com as bancadas cheias, "os atletas do Vitória compenetrados da responsabilidade que sobre eles pesava, jogaram para ganhar e pode dizer-se que exerceram do princípio ao fim, grande domínio". Um domínio que, refira-se, nem sequer se sentiu ameaçado quando o adversário, contra a corrente do jogo, abriu o activo à passagem do décimo minuto da partida. Com efeito, Miguel empataria a contenda quase de imediato, para Teixeira da Silva no final da primeira parte e Franklim durante a segunda selarem o resultado final.

O Vitória podia respirar de alívio, ainda que como escreveu José da Amorosa na sua rubrica no Comércio de Guimarães, a equipa "alinhou na zona perigosa e os seus adeptos sofreram maus Domingos. Porém a bola e os seus assuntos são assim: para que uns cantem hossanas, vão carpir outros os seus desgostos. E a incerteza, no desfecho da luta, é que proporciona que as multidões encham os rectângulos".

Porém, depois do alívio, ressaltaria um gesto de profundo cavalheirismo do Vitória. Assim, dois dias depois da decisiva partida, mandaria publicar no Diário do Minho um agradecimento em que se dizia "profundamente sensibilizado com a exortação que o Sporting Club de Braga publicou neste jornal, vem agradecer muito reconhecidamente tamanha prova de solidariedade e desportivismo, tornando extensivo o seu agradecimento ao povo desta velha e nobre cidade, que correspondendo ao apelo do seu glorioso clube, tão espontaneamente acorreu ao Campo da Amorosa a incitar com a sua presença e os seus aplausos os atletas que muito galhardamente souberam manter a supremacia do desporto minhoto".

Outros tempos...

COMO AQUELA DERROTA COM O BENFICA, FEZ DESENCADEAR UM DRAMÁTICO APELO PELA SALVAÇÃO DO VITÓRIA...

Aquela temporada de 1949/50 foi um verdadeiro suplício...

Um suplício que teve fim na derradeira jornada frente ao Estoril, com o apoio dos adeptos do eterno rival que deslocaram-se a Guimarães para apoiarem o conjunto vitoriano.

Porém, antes disso, tocaram sinos a rebate com medo da descida.

Na verdade, após uma derrota por cinco bolas a três na Amorosa, com o Benfica, em que os Conquistadores alinharam com Silva; Ferreira, Costa; Magalhães, Cerqueira, Miguel; Franklim, Rebelo, Brioso, Custódio e Melo, tudo pareceu ficar demasiado preocupante para a equipa.

Com efeito, como escreveu o Notícias de Guimarães de 12 de Março de 1950, "apesar do esforço dos seus homens e o anseio premente dos seus adeptos" a verdade é que "sobre os nossos paira a acabrunhante ameaça de descida à Segunda Divisão" Porém, diga-se que "deste encontro o Vitória não saiu diminuído", apontando três golos com um bis de Custódio e outro de Magalhães... sofrendo, porém, cinco o que o fez cair nos lugares de despromoção.

Tal levou a que no jornal consultado fosse realizado um curioso apelo, em que se dizia que "aqueles vimaranenses que afirmam não sentirem pesar se o Vitória for forçado a deixar a honrosa posição que há cerca de dez anos ocupa no primeiro plano do futebol nacional, sempre queremos lembrar que se tal acontecer - e longe vá o agoiro - a terra onde nasceram dificilmente poderá orgulhar-se de oferecer espectáculos como o de Domingo.

(...)

O homem só tem a verdadeira noção do que a saúde vale, quando esta lhe falta. Se amanhã o nome de Guimarães for riscado do número de terras das grandes competições desportivas, o pesar e o arrependimento de todos os vimaranenses será então coisa certa.

Mas será, demasiadamente tarde.

Portanto, tudo pelo Vitória, que ainda é tempo!"

E seria, de modo, quase miraculoso... mas isso será outra história!

COMO UM SABOROSO PONTO EM BRAGA, NUMA INELUTÁVEL MANIFESTAÇÃO DE AMOR AO VITÓRIA POR PARTE DE COSTA, AJUDOU A EQUIPA A ESCONJURAR OS FANTASMAS QUE SOBRE SI PENDIAM...

Aquela época de 1949/50 foi tudo menos fácil. Bastará dizer que o Vitória na segunda volta do campeonato, apenas triunfou em três partidas nas 13 partidas disputadas. Um cenário preocupante que não se tornou dramático pelos Conquistadores terem conseguido acabar o campeonato dois pontos acima da linha de água.

A ajudar a esta realidade, o saboroso ponto conquistado em Braga no Campo da Ponte. Naquele dia de Fevereiro de 1950, a alinhar com Silva; Ferreira, Francisco Costa; Rebelo, Martim Magalhães, Armando Ramos; Teixeira da Silva, Franklim, Miguel, Custódio Coelho e José Brioso, surpreendentemente, atendendo ao momento de forma que a equipa vivia na altura, teve um desempenho "excelente", tal como escreveu o Notícias de Guimarães de 19 de Fevereiro de 1950.

Com efeito, "contra os presságios de alguns - daqueles que só ajudam quando não é preciso - a sua actuação no campo da Ponte não desmereceu das tradições do Clube." Assim, aludia-se que tinha feito uma primeira parte magnífica, para na segunda, após ter sofrido o golo bracarense, ter assumido as rédeas da contenda. "Que jogou a satisfazer, prova-o o facto do guarda-redes do Sporting ser considerado, por um dos críticos de Braga, o melhor homem no terreno." Assim, o empate conseguido perto do final por Teixeira da Silva serviu para colocar (alguma) justiça no derby, garantindo um ponto que no final do campeonato viria a ser precioso.

Além disso, num desafio sempre difícil, sobressaiu o espírito conquistador do jogador Costa. "Ferido por deslealdade de uma adversária na fronte, e sangrando abundantemente nem assim quis abandonar o seu posto. Obrigado a ir receber socorros, quando pôde voltou ao terreno, e se bem que no seu semblante fosse visível sofrimento, continuou a lutem sem renúncia nem hesitação. Valente rapaz!" Deste espírito sempre se fez o Vitória...

PROVAVELMENTE, UMA DAS DESLOCAÇÕES MAIS DIFÍCEIS DA HISTÓRIA AO BENFICA...

Aquela temporada de 1949/50 não estava a correr bem...

O Vitória, orientado pelo húngaro Janos Biri, que trabalhara durante muitos anos no Benfica e fora o escolhido para substituir Alfredo Valadas, teimava em não acertar o passo. Assim, o primeiro triunfo só chegou à quarta jornada, ainda que de forma saborosa frente ao eterno rival por três bolas a uma, com um bis de Custódio Coelho e outro de Teixeira da Silva.

Porém, tal não foi o suficiente para a equipa arrepiar caminho e o jogo disputado frente ao Benfica, no Campo Grande, a 20 de Novembro de 1949, teve foros de dramatismo.

Na verdade, poucos dias antes da partida, o treinador, Janos Biri, sofreu um acidente de viação que o atirou para uma cama de hospital, com ferimentos de alguma gravidade e com várias contusões.

Na cama do hospital, tal como relatou o director vitoriano da altura, António dos Santos Simões, pediu a este que junto dos seus pupilos os inspirasse a lutar de forma digna e vibrante.

Porém, a alinhar com Silva; Garcia, Francisco Costa; Rebelo, Manuel, Martim; Teixeira da Silva, Miguel, José Brioso, Franklim e Lelo nem sequer seria capaz de, num assomo, de fazer frente às adversidades. Aos 4 minutos sofreu o primeiro golo, para ser derrotado por quatro tentos sem resposta, num desafio em que o início do campeonato e o infortúnio do treinador ajudaram a que a equipa se entregasse.

Confirmava-se o vaticínio do seu director que na mesma entrevista disse que “o Vitória atravessa uma crise que não tem explicação. O mal agravou-se, agora, com este desastre estúpido que teve sérias repercussões no moral dos atletas e inibe o treinador de cuidar da turma, durante algum tempo.”

O Vitória haveria de se salvar, classificando-se no décimo segundo posto entre catorze participantes, evitando uma liguilha com o segundo classificado da segunda divisão por dois pontos. Numa época cheia de dificuldades, salvou-se o essencial... a permanência no principal escalão do futebol português.

COMO O PRIMEIRO PONTO DAQUELA ÉPOCA, COM JANOS BIRI AO LEME, NÃO SIGNIFICOU QUALQUER TRANQUILIDADE, SERVINDO, ALIÁS, PARA UMA PREMONIÇÃO QUE (INFELIZMENTE) QUASE SE CONFIRMOU!

A temporada de 1949/50 pressupôs uma alteração no comando técnico do Vitória.

Como escreveu o Notícias de Guimarães de 24 de Julho de 1949,

"quando tudo parecia adormecido no mundo da bola, eis que surge a agradável notícia que a Direcção do Vitória tinha contratado para a preparação das suas equipas de futebol um dos mais competentes técnicos da especialidade que actualmente existem em Portugal." Era Janos Biri, um húngaro, naturalizado português, e que no Benfica houvera conquistado vinte e três títulos.

Não teria vida fácil para confirmar os seus pergaminhos, com o Vitória só a conseguir vencer uma partida até à sétima jornada do campeonato. Sê-lo-ia, contudo, contra o eterno rival, por três bolas a uma numa grande tarde de Custódio que bisou, tendo sido o outro golo vitoriano marcado por Teixeira da Silva.

Porém, o resultado que poderia desencadear a esperança vitoriana numa boa temporada, que não viria a suceder, classificando-se os Conquistadores no décimo segundo posto entre catorze equipas participantes na Primeira Divisão, ocorreu a 16 de Outubro de 1949, numa partida frente ao FC Porto, mas que tratou logo de ser desmentido por quem assistiu ao jogo.

Nessa tarde de Domingo, com o Vitória a alinhar com Silva; Ferreira, Francisco Costa; Armando Ramos, Martim Magalhães, Cerqueira; Rebelo, Miguel, Custódio, Franklim e Teixeira da Silva, "o encontro, presenciado por multidão considerável de adeptos dos dois grupos, valeu apenas pelo entusiasmo e vivacidade com que foi disputado parte a parte...". Todavia, "tecnicamente pouco representou", sendo que "de um lado e de outro a preocupação dominante era não perder."

O Vitória, esse, andou duas vezes atrás no resultado, conseguindo o empate a dois graças aos golos de Custódio e Rebelo. Não obstante isso, não conseguiu o triunfo, pois "o seu ataque, como de costume, na zona de remate, foi sempre de uma lentidão e ineficácia espantosas." Tal levava ao lamento que "parece impossível que daqueles cinco homens, nem um só se decida atirar à baliza com convicção." Por isso concluía-se que, pelo nervosismo patenteado por Valongo, o guarda-redes contrário, que se este fosse mais testado outro resultado poderia ter surgido.

Por fim, ficava a cominação que se haveria de confirmar, atento o sofrível campeonato. vitoriano, com apenas sete triunfos obtidos em vinte e seis jogos: "É, pois, absolutamente, preciso mudar de rumo, se não quisermos ter sempre presente o espectro da lanterna..." premonitório, no mínimo!

COMO, NO ANO DA MELHOR QUALIFICAÇÃO DO VITÓRIA ATÉ ENTÃO, O JOGO CONTRA O ETERNO RIVAL FOI DE EXCELÊNCIA E ONDE SE COMPROVOU A INJUSTIÇA FEITA A FRANKLIM..

O Vitória, na temporada de 1948/49, fez um o seu melhor campeonato até aquela data. Com efeito, os comandados de Alfredo Valadas tiveram um desempenho meritório, conseguindo bons resultados na Amorosa, ao bater o FC Porto e o Belenenses e ao empatar com o Benfica.

Além destes jogos, merecerá destaque o desafio perante o eterno rival, o SC Braga, que no dia 16 de Janeiro de 1949, visitou Guimarães, para uma contenda que seria apaixonante. A comprovar isso, as linhas vertidas no Notícias de Guimarães de 23 de Janeiro desse ano, que diziam que "muitos milhares de pessoas de toda a província acorreram domingo passado ao Campo da Amorosa que registou a maior enchente da temporada e das maiores desde a sua inauguração para o presenciarem o encontro sempre emotivo entre os velhos rivais..."

O Vitória a alinhar com Machado; Ferreira, Costa; Teixeira da Silva, Curado, Jorge; Franklim, Rebelo, Brioso, Teixeira e Custódio, travou "uma luta (...) de verdadeira feição de autêntico despique de campeonato, tendo os vinte e dois homens actuado com extraordinário despique e inquebrantável vontade."

Seria o Vitória a adiantar-se no marcador por intermédio de Teixeira, ainda que o rival em cima do intervalo empatasse a partida, para logo no início da segunda dar a volta ao jogo. Os Conquistadores, rapidamente, recompor-se-iam dos golpes, para Brioso, de imediato, empatar a contenda. Pouco tempo depois, “Teixeira fez subir o marcador para 3-2, em resultado de um livre apontado por Custódio."

O Vitória passava para a frente e começaria a gerar a partida, garantindo um saboroso triunfo sobre o rival e igualando-o no sexto posto... haveria de o ultrapassar para conseguir a melhor classificação dos seus 27 anos de vida.

Porém, a partida ficaria, também, marcada por uma curiosa comparação. Na verdade, o arsenalista Diamantino houvera sido chamado aos trabalhos da selecção nacional. Apesar de não ter-se estreado, tal convocatória suscitou a indignação dos vitorianos, pois consideravam que a estrela da companhia Franklim era merecedor de tal honra, ao invés do jogador do rival. Segundo o jornal citado "tivemos o ensejo de constatar (...) a injustiça feita ao extremo direito do Vitória, Franklim. Sendo, inegavelmente, Diamantino, um jogador habilidoso que diferença há, contudo, entre este e o citado extremo do Vitória! Franklim é um jogador que possui bom físico e bem ginasticado, domínio absoluto de bola, intuição, subtileza e poder e facilidade de remate. Enquanto Diamantino se fica pela habilidade que possui e... por um aspecto de debilidade física impressionante." Concluía-se, em tom de ironia, que "são sortes!..." Tal, como, hoje, em alguns momentos sucede...

COMO O VITÓRIA, EM DIA DE GRANDE EXIBIÇÃO, DEMONSTROU ESTAR A CAMINHO DA MELHOR CLASSIFICAÇÃO DE SEMPRE ATÉ AQUELE MOMENTO...

O cartoon da revista Stadium não deixa enganar.

Até à data, aquela temporada de 1948/49 haveria de ser a melhor da história vitoriana, ao conquistar um belo sexto posto, apenas atrás dos quatro mais fortes do país na altura e do sensacional Estoril que a todos surpreendeu.

Nessa caminhada, os homens orientados por Alfredo Valadas conseguiram resultados interessantes como a goleada frente ao Estoril logo no início do campeonato, ou, ainda, os triunfos caseiros perante SC Braga, Belenenses ou FC Porto.

Aliás, a caminhada na Amorosa foi tão forte que o jogo contra o Benfica terá sido o melhor do campeonato, ainda que os Conquistadores não o tivessem conseguido vencer. Emparam a três, mas como legendava o cartoon "O Benfica mais uma vez não ganhou...para o susto!..."

Na verdade, a equipa vitoriana que entrou em campo naquele dia 31 de Outubro de 1948, composta por Machado; Ferreira, Costa; Armando, Curado, Jorge; Franklim, Miguel, Brioso, Custódio e Teixeira, beneficiou de um dia de grande acutilância ofensiva. Como escreveu a revista Stadium de 3 de Novembro de 1948, "o conjunto vimaranense, porém, conseguiu impressionar a defesa encarnada, contribuindo peara o desacerto do homem da baliza".

Um desacerto que começou logo quando Franklim abriu o activo, para no mesmo minuto, o 38, vitorianos e encarnados fazerem a bola beijar as redes, num momento futebolístico insano que colocou o Vitória à frente no marcador.

Assim, se chegaria ao intervalo. Na segunda metade, após o Benfica ter empatado, Franklim bisaria, o que não seria suficiente, já que o adversário igualaria a contenda a três.

Um jogo que, segundo a Stadium, "despertou o entusiasmo da numerosa assistência. O Vitória não é equipa de se deixar bater facilmente e seja qual fôr o adversário terá de jogar no seu campo o mais cautelosamente possível".

Nesse ano, os Conquistadores batiam o pé a qualquer adversário...

UM CLUBE ACIMA DA POLÍTICA

Como dizem os estatutos do Vitória, o clube "assumiu as cores preto e branco, numa alusão à igualdade e à admissão de todos, sem distinção de raças".

Ou seja, no Vitória cabem todos, independentemente de preferências políticas, sexuais e sempre respeitando as ideias dos demais de forma igual, quase como que a reforçar o velho ditado que reza que "é mais forte aquilo que nos une, do que aquilo que nos separa."

Tal foi verdadeiramente posto à prova nas eleições presidenciais de 13 de Fevereiro de 1949, em que Óscar Carmona, candidato do regime, apresentou a sua recandidatura, sofrendo a oposição de José Norton de Matos que representava o Movimento da Unidade Democrática.

No Vitória, as suas principais figuras dividiram-se... numa altura em que ter opinião diferente era um verdadeiro imbróglio. Assim, desde logo, duas grandes figuras do Vitória, António Faria Martins (que seria importante no clube até à data da sua morte, no início da década de 80) e José Pinto Rodrigues (que já fora presidente do clube) resolveram apoiar o candidato da oposição. Ao invés, o presidente do clube, Antero Henriques da Silva, o presidente do Conselho Fiscal, Alberto Costa Guimarães e o capitão Curado apostavam na continuidade, dando apoio a Carmona.

Norton de Matos haveria de desistir das eleições por considerar que não existiam condições para considerar que estas decorressem de forma isenta.

Porém, apesar da polémica, a amizade pessoal entre todos os intervenientes que deram a cara pelos seus candidatos permaneceu, servindo o Vitória como um foco de união indissolúvel e mais importante do que todas as outras questões.

O Vitória sempre esteve acima de dissensos e discordâncias políticas!

A SEDE HISTÓRICA DA RUA D.JOÃO I

Um dos pontos mais relevantes dos primeiros trinta anos da história vitoriana, residiu na inauguração da sede do clube na Rua D. João I. Ali, estaria instalada até os serviços serem colocados no Complexo, passado quase cinquenta anos.

Assim, a 12 de Julho de 1948, foi inaugurada na antiga residência do médico Joaquim de Meira, que se houvera destacado na política monárquica do século XIX.

Era revolucionária para a época. Contava com salas de jogos espaçosas, um salão de festas, uma sala de troféus, uma sala de enfermagem e gabinetes para a direcção. Além disso, esperava-se que pudesse contar um serviço privativo de restaurante.

Além disso, no dia da sua inauguração, outro momento marcante sucedeu. António Faria Martins, presidente do clube na altura, pela primeira vez, pediu à Câmara Municipal a construção de um estádio de raiz...apenas, três anos depois da Amorosa ter sido erigida!

COMO O VITÓRIA BATEU O BOAVISTA, ULTRAPASSANDO-O NA TABELA, NUM DIA DE GRANDE ACTIVIDADE PARA AS FORÇAS POLICIAIS E ONDE O ÁRBITRO ESCUSAVA DE TER VINDO PARA O QUE FEZ, PARA COMPLETAR UM CAMPEONATO TRANQUILO...


Aquele campeonato vitoriano de 1947/48 foi cumprido tranquilamente. Assim, a equipa de Alfredo Valadas fez uma prova regular, triunfando por 10 vezes em 26 partidas.

Um desses êxitos, e bastante saboroso por sinal, ocorreu frente ao Boavista que permitiu ultrapassar os axadrezados na tabela classificativa na recta final da prova maior do futebol português.

Estávamos a 18 de Abril de 1948, e como escreveu o Notícias de Guimarães dessa altura, que "farta assistência registou no passado Domingo o campo da Amorosa... A acompanhar o grupo portuense veio grande falando de adeptos, alguns dos quais nos deram, pelas ruas da cidade e no campo (...) triste ideia do seu grau de civilização." Assim, teriam papel primordial as forças da ordem, principalmente no campo, já que "logo que surgia um princípio de escaramuça entre assistentes brigões prontamente a acção da polícia se fazia sentir... no lombo dos contendores... É assim mesmo! Os campos de futebol não são rings de box..."

O jogo, esse, foi "emotivo, embora áspero por vezes, porque os grupos, patenteando bastante equilíbrio de forças, não esmoreceram um só momento." Do lado de fora do rectângulo de jogo, existia "uma grande tensão nervosa", com um "um imenso apego à luta." Luta essa que haveria de beneficiar a equipa vitoriana, que alinhou com Machado; Ferreira, Costa; Armando, Curado, Luciano; Franklim, Rebelo, Brioso, Miguel e Teixeira. Assim, os golos de Brioso e de Teixeira selaram um saboroso triunfo por duas bolas a uma, numa partida em que o pior campo terá sido o árbitro, pois, foi "muito mau o trabalho de arbitragem do Sr. João Francisco Vaz de Lisboa - que para isso escusava de ter vindo de tão longe... ", acabando-se a questionar "quando deixarão de aparecer nos campos de desporto homens, que como esse Sr.João Vaz, parecem ter comprazer em irritar toda a gente pela falta de escrúpulo e de dignidade que patenteiam? Quando será isso?" Passaram 76 anos e continuamos a perguntar o mesmo!

COMO DOIS IRMÃOS MARCARAM MEIA DÚZIA DE GOLOS, DESTRUINDO A OPOSIÇÃO ALENTEJANA...


Terá sido o máximo expoente da época de 1947/48!

Uma saborosa e lauta goleada aplicada pelos Conquistadores ao Elvas de sete bolas a uma...com seis golos a serem apontados por dois irmãos: os Brioso, Alcino e José, transmontanos de boa cepa.

Chegados em 1942/43 marcaram a década vitoriana, tendo, provavelmente, o seu apogeu naquela tarde de 04 de Abril de 1948, quando destruíram a defesa elvense de forma inapelável.

Com efeito, com a equipa orientada por Artur Valadas, a alinhar com Machado; Ferreira, Costa, Armando, Curado, Luciano, Franklim, Rebelo, José Brioso, Miguel e José Brioso, como escreveu  o Notícias de Guimarães de 11 de Abril de 1948, "O Vitória finalmente teve o seu dia."

" Na verdade há muito que a equipe vimaranense não obtinha um triunfo que se tornasse notório, que chamasse a atenção a massa desportiva do país inteiro." Triunfo esse que se cifrou em sete bolas a uma, com seis golos a serem apontados pelos irmãos Brioso.... José por quatro vezes a fazer balançar as redes contrárias e Alcino por duas. Um festim complementado pelo tento de Rebelo a permitir chegar ao êxito mais robusto do exercício: sete bolas a uma!

Absolutamente épico... nunca dois irmãos tinham ou iriam marcar seis golos num jogo com a camisola dos Conquistadores.

 

COMO, NO PRIMEIRO ENCONTRO ENTRE OS ETERNOS RIVAIS NA PRIMEIRA DIVISÃO, O VITÓRIA FOI SUPERIOR...

O dia 08 de Fevereiro de 1948 é histórico para os Clássicos do Minho, Com efeito, foi nesse dia que, na Amorosa, os eternos rivais encontraram-se pela primeira vez numa partida a contar para a Primeira Divisão Nacional. Assim, percebe-se do papel dominante, por esses anos, do Vitória na região minhota, pois chegou à primeira divisão cinco anos antes que o oponente bracarense.

Assim, nesse dia, com Alfredo Valadas ao leme, o Vitória entrou em campo com Machado; Ferreira, Costa; Luciano, Curado, Garcia; Tarugo, Rebelo, Brioso, Miguel e Frankim. Como escreveu o Notícias de Guimarães com data de 15 de Fevereiro de 1948, "os despiques futebolísticos entre vimaranenses e bracarenses constituíram desde sempre motivo de grande atracção, arrastando a presenciá-los uma multidão apaixonada, vinda de todos os pontos da província."

Na verdade, a Amorosa apresentava uma moldura humana considerável, já que o "campo do Vitória pejado de adeptos do Desporto-Rei, os quais incitaram entusiasticamente os seus favoritos, mas souberam manter uma compostura digna de registo e de todo o louvor.” Realce, ainda, para o facto de, segundo o cronista, "Braga mandou-nos com o seu representante uma numerosa e aguerrida falange de apoio, mas os vimaranenses também souberam ser pródigos no dispêndio de aplausos e incitamentos aos seus rapazes, não os abandonando um só momento..."

Um verdadeiro espectáculo dentro de uma "luta que se apresentou extremamente emotiva, tendo jogadores e assistentes vivido mais depressa e o maior número de vezes possível à zona de perigo adversária, ponde em sobressalto constante a sua defesa." Porém, seriam os arsenalistas a abrirem o activivo graças a um golo de Diamantino. Contudo, Tarugo aos 29 minutos, empataria a partida, entrando na história...tornava-se o primeiro jogador vitoriano a marcar um golo num Clássico do Minho disputado no principal campeonato português.

Seria o início da confirmação da superioridade vitoriana, que na segunda parte, graças aos golos de Franklim e de Brioso na segunda parte. "O Vitória levou merecidamente de vencido o seu velho rival. Os seus homens - todos eles - lutaram desde o princípio ao fim com insuperável vontade... " Porém, naquela tarde ressaltaria "a brilhante actuação de Miguel, Franklim, Costa e Curado, na verdade todos em tarde de boa inspiração."

O Vitória vence o primeiro jogo entre as duas equipas disputado no escalão maior do futebol nacional...

COMO AQUELE JOGO COM A BRIOSA SIGNIFICOU UM RESPIRAR DE ALÍVIO QUE TEMIA-SE QUE NÃO SURGISSE...

Aquela temporada de 1947/48 foi a primeira em que os campeonatos se disputaram nos moldes em que os conhecemos. Assim, deixaram de existir os campeonatos distritais que davam apuramento para a maior prova nacional, passando o sistema competitivo a ser o que conhecemos hoje.

Por essa razão, o Vitória, fruto do oitavo posto do campeonato anterior, logrou o direito em participar nessa prova. Porém, o arranque na mesma foi a todos os títulos preocupante, apenas sendo capaz de empatar com o Benfica a dois em casa nas quatro primeiras jornadas, sendo derrotado em casa pelo Belenenses, em Alvalade e no terreno do Estoril.

Assim, a partida que iria ser disputada a 21 de Dezembro de 1947 frente à Académica assumia contornos de determinante naquilo que poderia ser a temporada, que já se temia que redundasse em fracasso.

Por isso, equipa composta por Machado; Garcia, Costa; Armando, Curado, Teixeira; Miguel, Rebelo, Brioso, Alcino e Frankim, segundo o Notícias de Guimarães de 28 de Dezembro de 1947, "entrou a jogar com decisão e rapidez e que fez durante toda a primeira parte exibição meritória". A comprovar isso, o facto de a equipa nos primeiros dez minutos ter apontado dois golos, graças a um bis de Alcino, ainda que Bentes reduzisse quase logo de seguida, para, ainda antes do final da primeira metade, Miguel fazer respirar todos os adeptos vitorianos presentes na Amorosa.

A Académica, na segunda metade, conseguiria reduzir, mas não o suficiente para fazer perigar o primeiro êxito vitoriano no campeonato. "Assim os 3-2 ajustam-se ao desenrolar do jogo", e, acima de tudo, faziam o Vitória respirar melhor, não obstante ter sido na segunda volta que a equipa escalou até ao oitavo lugar final, sinónimo de tranquilidade.

COMO O VITÓRIA FESTEJOU AS SUAS BODAS DE PRATA, NUM MOMENTO MARCANTE DA HISTÓRIA DO CLUBE...

Estávamos em 1947...

Ainda com grande parte dos seus fundadores vivos, o Vitória celebrava as suas bodas de prata. Fazia-o como clube da primeira divisão, já com uma presença na Final da Taça de Portugal, a actuar na Amorosa... e como a principal referência do distrito no que ao desporto rei dizia respeito.

Por isso, a celebração dos 25 anos do clube, como o Notícias de Guimarães de 05 de Outubro de 1947, "O Vitória de Guimarães vai comemorar contiguamente a passagem do 25º adversário da sua existência a qual bem tem sabido honrar-se através de lutas cheias de brilho e emoção, levando assim, dignificado, aos quatro cantos de Portugal o nome da terra que representa."

Assim, a 11 de Outubro, sucedeu a sessão inaugural das comemorações no Salão Nobre dos Bombeiros Voluntários, presidida pelo Presidente Honorário do clube. Discursaram Luís Filipe Coelho que dissertou sobre a história do Vitória e António Faria Martins que condecorou os atletas campeões.

No dia seguinte foi inaugurado um quadro de honra com o nome dos fundadores do clube na sede do clube, destacando-se, também, um jogo de futebol contra o eterno rival, SC Braga.

Num programa que se estendeu por uma semana destaque para os dos últimos dias de comemoração.

Assim, no dia 18, no Teatro Jordão realizou-se uma sessão solene presidida pelo Presidente da Câmara Municipal, tendo como orador o Major Ribeiro dos Reis. Na sua conferência falou acerca do Desporto e da Educação Física, tendo a mesma sido integrada num banquete no Restaurante Jordão que reuniu mais de 200 vitorianos.

Mas, além disso, outro momento mereceria grande destaque, como escreveu o Notícias de Guimarães de 26 de Outubro de 1947: "Enquadrada no programa festivo das Bodas de Prata do Vitória e com a presença de membros directivos do clube e do ilustre e prestigioso desportista Sr. Major Ribeiro dos Reis, fez-se no Domingo de manhã, no Campo da Amorosa, a apresentação da Escola de Desportos do Vitória, que a todos causou a mais agradável impressão. Na verdade, aqueles 57 rapazes, impecavelmente equipados, asseados e limpos, constituíam no meio do rectângulo uma radiosa promessa do desporto vimaranense, que apetecia contemplar."

O Vitória debruava a letras de ouro os seus 25 anos de vida...

A NOSSA GENTE É ASSIM... POEMA DE 1947 DA AUTORIA DE DELFIM GUIMARÃES

(Em homenagem aos vimaranenses)

 

“É gente que se move e não quer peias …

Da fidalguia aos rudes cutileiros

Há sangue a referver nas suas veias

De impávidos e célebres guerreiros …

 

Não adormece ao canto das sereias …

Gente que não atende a mesureiros

Que abominou, de sempre, as verborreias

Que arengadores de feira aventureiros

 

A nossa gente é assim … É orgulhosa.

Se lhe ferem a alma, é assombrosa

Na sua desafronta (sem defesa …)

 

É a raça que perdura inalterável

Do Rei Conquistador e formidável

Que nos doou a Pátria Portuguesa”.

COMO A DIRECCÇÃO VOLTOU ATRÁS NO SEU PEDIDO DE DEMISSÃO, GRAÇAS A UM ÓRGÃO DE APOIO, E COMO (COMO TANTAS VEZES TEM SUCEDIDO) O VITÓRIA SAIU FORTEMENTE REVITALIZADO APÓS UMA CRISE!

O jornal Comércio de Guimarães de 26 de Maio de 1950 trazia o anúncio. Iria decorrer uma Assembleia-Geral "afim de ser apreciado o pedi...