Aquela temporada de 1949/50, até aquele momento, fora absolutamente agónica. Plena de sofrimento, com o Vitória incapaz de descolar dos derradeiros lugares da tabela e a fazer contas de cabeça a uma manutenção que, por vezes, pareceu querer fugir.
Porém, a contribuírem para que a história tivesse um final feliz, três momentos chave, numa equipa que, apenas, triunfou por sete vezes em vinte e seis partidas: o êxito caseiro perante o Elvas por três bolas a uma, depois de ter estado a perder com golos de Franklim, Brioso e de Teixeira da Silva, o empate obtido no sempre difícil terreno da Olhanense e, por fim, aquele jogo com o Estoril a 30 de Abril de 1950.
O jogo com os canarinhos revestia-se de um dramatismo muito especial. Na verdade, estando o campeonato na sua penúltima jornada e com os Conquistadores igualados em pontos com estes e com o Elvas, o resultado assumia contornos de decisivo para escapar aos temidos "play-off" com o segundo classificado da Segunda Divisão, pois o último lugar que significava despromoção directa parecia já ser pertença do Lusitano de Vila Real de Santo António.
Com o Vitória a alinhar com Silva; Ferreira, Cerqueira, Costa; Magalhães, Rebelo; Franklim, Miguel, Teixeira da Silva, Brioso e Custódio, na Amorosa percebeu-se a existência de uma curiosa falange de apoio. Com efeito, como refere o Comércio de Guimarães de 05 de Maio de 1950, "de notar de de louvar o aparecimento de bastantes bandeiras do Sporting de Braga que vieram trazer-nos o seu apoio e incitamento". Concluía o cronista que "de facto, os dois clubes, que tão bem representam a província, necessitam viver unidos, para que o Desporto nesta região, cada vez mais se imponha e sirva as terras que o acarinham."
Para que tal sucedesse, muito ajudou um comunicado emitido num jornal da cidade vizinha, em que a direcção do eterno rival exortava a que "consciente da camaradagem desportiva que existe entre estas duas equipas minhotas, sente-se no dever de convidar os seus associados a irem a Guimarães incitar o grupo local a fim que este se sinta completamente apoiado pelas falanges desportivas das duas cidades".
Assim, com as bancadas cheias, "os atletas do Vitória compenetrados da responsabilidade que sobre eles pesava, jogaram para ganhar e pode dizer-se que exerceram do princípio ao fim, grande domínio". Um domínio que, refira-se, nem sequer se sentiu ameaçado quando o adversário, contra a corrente do jogo, abriu o activo à passagem do décimo minuto da partida. Com efeito, Miguel empataria a contenda quase de imediato, para Teixeira da Silva no final da primeira parte e Franklim durante a segunda selarem o resultado final.
O Vitória podia respirar de alívio, ainda que como escreveu José da Amorosa na sua rubrica no Comércio de Guimarães, a equipa "alinhou na zona perigosa e os seus adeptos sofreram maus Domingos. Porém a bola e os seus assuntos são assim: para que uns cantem hossanas, vão carpir outros os seus desgostos. E a incerteza, no desfecho da luta, é que proporciona que as multidões encham os rectângulos".
Porém, depois do alívio, ressaltaria um gesto de profundo cavalheirismo do Vitória. Assim, dois dias depois da decisiva partida, mandaria publicar no Diário do Minho um agradecimento em que se dizia "profundamente sensibilizado com a exortação que o Sporting Club de Braga publicou neste jornal, vem agradecer muito reconhecidamente tamanha prova de solidariedade e desportivismo, tornando extensivo o seu agradecimento ao povo desta velha e nobre cidade, que correspondendo ao apelo do seu glorioso clube, tão espontaneamente acorreu ao Campo da Amorosa a incitar com a sua presença e os seus aplausos os atletas que muito galhardamente souberam manter a supremacia do desporto minhoto".
Outros tempos...