Estávamos em 1937...
O Vitória sob o comando do lendário Alberto Augusto era, novamente, campeão distrital e, por isso, fruto dos regulamentos existentes na altura, participou na denominada II Liga, já que os clubes vencedores do distrito de Braga não tinham entrada directa no principal escalão do futebol português.
Com o campeonato dividido em poules, coube aos vitorianos integrar o grupo A com o Boavista, Sanjoanense e Leça. A equipa ficou em segundo lugar atrás dos axadrezados, mas nem por isso, deixou de estender a mão ao clube portuense.
Assim, por essa altura, e atendendo aos graves problemas económicos que a agremiação boavisteira ia passando, a direcção do Clube do Rei, liderada por José Pinto Rodrigues, resolveu tomar uma atitude.
Em vez de narrarmos, valerá a pena transcrever a comunicação enviada para o clube do Bessa:
" - A Direcção do Vitória S.C. ficou dolorosamente impressionada com a notícia vindo nos jornais anunciando a próxima venda dos trofeus do vosso glorioso Clube. (...)
O Vitória de Guimarães, modesto Clube da Província, não vive em maré de rosas. Todos os anos fecha as suas contas com saldos negativos, que têm de ser cobertos pelo que lhe são mais dedicados. Certamente que a maioria dos Clubes está em condições iguais às nossas.
Mas parece-nos que todos poderiam ceder gratuitamente os seus grupos para participarem nuns festivais que V. Ex.as promoveriam para com a sua receita solver a responsabilidade provocadora da actual crise, desde que lhes fosse fácil como julgamos, evitar o arresto com a promessa duma próxima entrega em dinheiro.
E, se fosse impossível tal acordo, por carência de tempo ou por qualquer outra causa, que cada Clube arrematasse um trofeu e o ofereça ao velho Boavista em condições de ninguém o poder cobiçar de novo. Nós nos encarregaremos do que nos couber.”
Um gesto de uma dignidade impressionante para um clube que, na altura, como hoje, já era tido um rival...e que, durante a história, seria parceiro/oponente em polémicos episódios.