Vitória e Braga irmanados nos mesmos interesses parecerá uma realidade quase saída de um filme de ficção científica... mas tal sucedeu em 1991.
Aliás, tal suceder para ajudar à queda de um histórico, como Gil Mesquita, que fora presidente dos Conquistadores antes de Pimenta Machado, ainda adensará mais a trama, atento ao facto do Vitória (teoricamente) ter o controlo da direcção da associação distrital.
Ainda não chega para tornar esta história num filme? E se dissermos que Pimenta apoiou Mesquita Machado, presidente da Câmara Municipal de Braga e com fortes ligações ao clube rival, já parecerá que estamos a narrar algo próprio de uma ficção.
Tudo terá começado após o desafio que o Vitória tinha disputado em casa do FC Porto na época de 1989/90. Aquele jogo em que o árbitro Francisco Silva tudo fez para que os Conquistadores fossem derrotados, sendo que, apesar de não o ter conseguido, levou a que Paulo Autuori, no final do jogo, se insurgisse contra ele. Acabaria com um processo disciplinar, temendo-se uma pesada suspensão... que surgiria mas, felizmente, atenuada.
Pimenta Machado, a partir daí, teria o presidente associativo e seu antecessor no Vitória em ponto de mira. Começaria a encará-lo como demasiado seguidista dos interesses das A.F. Porto, até pelo facto da AF Braga, como nos dá a conhecer o Jornal Povo de Guimarães de 04 de Janeiro de 1991, integrar uma denominada aliança de maioria na Federação Portuguesa de Futebol composta pelas associações do Norte, que eram a de Braga, Viana do Castelo, Porto, Aveiro, Viseu, Vila Real e Bragança, em conjunto com a do Funchal.
Porém, todas estas deveriam seguir os interesses da portuense, presidida por Adriano Pinto, no que tocava a "...arbitragens, questões disciplinares e de recurso para o Conselho de Justiça" e que permitia que os clubes nela filiados fossem defendidos em relação aos demais. Consideravam, atendendo a esses factos, os clubes contestatários da liderança de Gil Mesquita, que o futebol "atingia um estado (...) de total falta de seriedade, de total compadrio e arbitrariedade."
Por isso, encabeçou um movimento que exigiu a Mesquita que procedesse a uma "mudança de actuações" de modo a levar a cabo a alteração do que era tido como incorrecto. Todavia, tal não teria os efeitos pretendidos no presidente da direcção, que começou uma cruzada nos jornais a criticar os presidentes dos clubes da sua própria associação, em especial Pimenta Machado, o que levou a que os clubes, depois de uma reunião mantida em Fafe, avançassem com o pedido de uma assembleia-geral extraordinária para destituição dos órgãos sociais da AF Braga.
Tal, contudo, teve um contra-ataque da parte do presidente da direcção. Gil Mesquita, enquanto nuns jornais dizia que se ia demitir e em outros afirmava a sua vontade em continuar, marcou uma Assembleia-Geral ordinária para o final do ano de 1990, a realizar numa sala da Associação Comercial de Braga. Para ela, Gil Mesquita tinha uma estratégia clara que "previa um apoio expresso dos clubes da Regional à sua pessoa e um pedido para continuar. Se tal sucedesse, ele não apresentaria pedido de demissão, de contrário, avançaria com ele."
Apesar disso, ainda antes da reunião magna tal estratégia seria conhecida pela direcção do eterno rival vitoriano, que suscitou a um confronto entre os diversos clubes. Por isso, "à entrada da sala da reunião, havia um claro debate entre clubes regionais apoiantes de Mesquita Machado e outros que iam para a reunião para apoiar Gil Mesquita, sem saberem que do outro lado estava Mesquita Machado." Acresce, ainda, que "nenhum clube regional do concelho de Guimarães apareceu, porém, na Assembleia Geral."
A reunião, essa, seria levada a cabo sem intervenções de relevo, com a excepção de ficar-se a saber que a AF Braga tinha depósitos a prazo no valor de 60 mil contos...uma verdadeira fortuna à época. Até que se chegou aos 30 minutos para discussão de "problemas associativos."
Estranhamente, ou talvez não, ninguém pediu a palavra. Todos pareciam estar à espera que o presidente da AF Braga tomasse a palavra e concluísse o óbvio que passava pelo facto de não ter existido qualquer agremiação a manifestar-lhe apoio. Era a certeza que estava cada vez mais isolado. "Caía aqui a estratégia de Gil Mesquita. Ninguém ia poder afirmar-lhe o seu apoio." Assim, pegou na palavra para falar cerca de trinta minutos. Meia hora em que "atacou tudo e todos, particularmente Pimenta Machado e Dinis Monteiro e só no último minuto das suas palavras anunciou o seu pedido de demissão."
No final não teria qualquer aplauso e começava-se a pensar no futuro... importava começar a preparar-se quem seria o novo homem forte de uma das associações de futebol mais poderosas do país!
