Era verdade que o extraordinário resultado obtido em Guimarães, onde triunfou sobre a Real Sociedad por três bolas a zero, abria de para em par as portas da próxima eliminatória europeia daquela Taça UEFA de 1992/93.
Mas sabia-se que a equipa donostiarra no seu infernal Atocha tudo ia tentar para reverter o resultado, e o Vitória ainda haveria de potenciar isso, ao entrar de forma péssima no jogo, já se encontrando aos 23 minutos a perder por duas bolas sem resposta. Na verdade, a equipa composta por Madureira; Basílio, Matias, Tanta, Taoufik, Dimas; Quim Machado, Paulo Bento, Pedro Barbosa; Dane e Ziad, como escreveu o jornal Povo de Guimarães de 02 de Outubro de 1992, "não ganhou para o susto." Tal deveu-se a uma "equipa constituída por jogadores sem qualquer experiência internacional e dos ambientes que marcam os grandes jogos europeus", o que conduziu a que rapidamente a confortável vantagem que trazia de Guimarães se esfumasse muito rapidamente.
A comprovar esse filme de terror, esses minutos que pareciam não passar, de absoluto "credo na boca", para alem dos golos, a equipa Conquistadora foi por duas vezes amarelada pelo experiente árbitro francês Joel Quiniou, ainda escapou a um golo anulado que poderia ter mudado definitivamente a história, para além de ser incapaz de sair a jogar, de acertar marcações... um inferno que deixava antever uma grande desilusão.
Contudo, segundo opinião do jornal consultado, o aterrador início de jogo vitoriano muito se deveu à opção de Marinho Peres pelo esquema de três centrais. Aliás, logo que no hotel conheceu-se essa decisão "muito se temeu. O jogo viria a confirmar esses temores. O Vitória que deveria ter ido para San Sebastian jogar para marcar um golo com que decidiria indiscutivelmente a eliminatória, entrou em campo para defender e só defender."
Acresce ainda que "O Atocha é um estádio pequeníssimo, com as bancadas coladas Às linhas laterais, todo coberto em que o apoio do público (...) criou um ambiente para o qual a equipa vitoriana não estava preparada psicologicamente."
Com o conjunto completamente bloqueado, "falharam e comprometeram, claramente. a equipa os laterais Basílio e Dimas que deixaram os médios-alas dos bascos entrarem em velocidade e cruzarem e Pedro no meio-campo que nunca segurou a bola e Ziad à frente que nunca marcou Oceano, permitindo ao ex-sportinguista organizar todo o jogo."
Um naufrágio conducente a um sofrimento terrível que levou que ao intervalo vitorianos como Dinis Monteiro ou o Arquitecto António Fernandes abandonassem o estádio para o coração não ceder...
Apesar desse naufrágio, a verdade é que o conjunto basco não poderia aguentar actuar naquele modo frenético durante 90 minutos. Assim, ao contrário do que se previa (e temia!), a etapa complementar seria mais tranquila para os Conquistadores, sendo que "só nos dez minutos finais voltou a estar em dificuldades", ajudando a que o tempo parecesse passar mais rapidamente. Como escreveu o Povo de Guimarães "a ilusão explica-se: o tempo de jogo na 1ª parte junto à baliza vitoriana foi tal que pareceu séculos. Na 2ª, a sensação, ainda, existia, mas esse tempo de jogo quase que não sucedeu, o jogo repartiu-se muito mais pelo meio-campo."
O Vitória sobrevivia de modo miraculoso e passava à segunda eliminatória da prova europeia... mas, notava-se que apesar dos bons valores que apresentava, faltava-lhe muita personalidade em ambientes adversos. E até isso estava-lhe a minar um bom desempenho no campeonato nacional, mas isso será outra história!