Tiago Rodrigues estará para sempre nas fotografias e nas palavras do mais belo momento vivido pelos vitorianos.
Médio de bons recursos técnicos, merecerá sempre figurar no álbum mais bonito do Vitória, por ter feito parte da inesquecível equipa que levantou a Taça de Portugal de 2013. Além disso, ainda haveria de, conjuntamente, com o seu colega de equipa Ricardo proporcionar um bom encaixe financeiro aos Conquistadores, numa altura em que a situação financeira do clube era agónica.
Porém, Tiago, natural de Vila Real, terá estado mesmo para abandonar o futebol antes de chegar à Cidade Berço. Assim, depois de ter dado os primeiros toques no Diogo Cão, uma equipa da sua cidade, despertou o desejo dos emblemas mais mediáticos do futebol português. Como reconheceu em entrevista ao jornal Expresso de 27 de Dezembro de 2023, acabaria por escolher o Sporting, ainda que "um dia fui fazer testes ao Benfica, de manhã, e à tarde fui ao Sporting. No dia seguinte voltava a treinar em ambos, mas quando vou para treinar no Benfica ligaram-me do Sporting a dizer que me queriam e já só fui ver o treino do Benfica, não treinei." A justificar a escolha, o facto de os Leões já contarem com a Academia de Alcochete, enquanto a do Seixal, pertença das Águias, ainda não ser uma realidade.
Aí ficaria durante três anos, ainda que como o próprio assumiu, chorasse muitas vezes, já que as saudades dos seus mais próximos minavam-lhe o espírito. Deste modo, para o jogador, a distância de casa tornar-se-ia em algo de quase inultrapassável, pelo que "disse ao meu pai e à minha namorada, Sofia Rodrigues, que hoje é a minha mulher, que não queria mais jogar à bola. Preferia jogar lá na terra e ir estudar para ser qualquer coisa." Um quase anúncio de desistência do sonho que o fizera tudo abandonar, pelo facto de "por aquilo que passei na Academia, não queria voltar a ficar longe, por isso quando o Sporting disse ao meu pai que já não contava mais comigo para a época seguinte, pensei em desistir para ficar em casa."
E eram esses os seus projetos. Estudar, estar juntos dos seus, dar uns toques na bola mais por recriação do que a olhar para o futebol como futuro, o seu futuro. Seria, pois, sem sequer pensar em futebol que haveria de surgir a oportunidade que iria mudar-lhe a vida... para sempre. Como o próprio contou, "Um fornecedor de medicamentos da farmácia do meu pai tinha um irmão que jogou no V. Guimarães e disse para eu lá ir aos treinos de captações, que ele ia falar com um diretor que conhecia. Como ficava a uma hora de casa, fui." Seria essa noção de proximidade que o faria explanar todo o seu talento, a ponto de passada uma semana já ser atleta dos Conquistadores.
Estávamos na época de 2008/09 e seria em Guimarães que perceberia que, apesar de não estar na sua Vila Real natal, poderia chamar de casa a outros locais. Deste modo, "Fiquei a viver no seminário dos padres, como chamávamos, era uma casa que ficava ao lado do seminário. Estava eu, o Josué Sá, o Cláudio Ramos, Dinis Dias, que já não joga, éramos uns seis, sete jogadores que vivíamos ali. Tornámo-nos uma família porque éramos pouquinhos e dava-nos todos bem."
Seria assim, neste ambiente de proximidade que conseguiria chegar aos seniores vitorianos... primeiro para ser emprestado ao Amarante e depois para ser integrado na primeira equipa B vitoriana. A partir daí, seria história, com o jogador a ter um papel determinante no momento mais belo que os Conquistadores conseguiram rubricar em quase 103 anos de vida!