COMO CÂNDIDO CHEGOU CHEIO DE SONHOS (E CRÍTICAS), PARA PARTIR CHEIO DE AZEDUME (E CRÍTICAS) ...

Aquela temporada de 2000/01 era de remodelação. O Vitória apostara em Paulo Autuori para treinador e reformulara o seu plantel de uma ponta à outra. Assim, as mudanças começaram na baliza com a partida de Pedro Espinha para o FC Porto, apostando os Conquistadores em Cândido Rego, irmão da jovem esperança vitoriana, José Rego, e que por esses dias já ia começando a entrar em rota de colisão com Pimenta Machado.

Cândido esse que provinha do Desportivo das Aves, onde tinha feito uma grande temporada, depois de ter sido dado como inapto para o futebol, como o próprio reconheceu em entrevista ao jornal Record de 25 de Julho de 2000, em que referiu que "É triste que assim seja, mas grosso modo as pessoas no futebol pensam sempre dessa forma: o "gajo" lesionou-se já não vale nada. Sei como me olharam durante uma fase negra da minha vida e deveriam ajudar-me e não marginalizarem-me da forma como o fizeram. A dada altura, tive de recuperar sozinho e só eu sei o quanto doloroso foi."

Assim, depois dessa lesão teria de cumprir uma via-sacra que o fez estar "...parado há 18 meses e disseram-me que pelo menos tinha de parar mais um ano..." outra que pouco jogou no Maia e que fez com que "Não escondo que muitas vezes pensei em acabar o futebol. Dizem que é doloroso estar um dia num hospital, veja os meses que eu lá passei sozinho e completamente desprezado. Tinha uma multidão a dizer-me que estava inapto, mas acreditava que podia quebrar todos os meus limites."

Haveria, contudo, de encontrar a redenção no Desportivo das Aves, graças à aposta levada a cabo pelo Professor Neca, onde fez uma grande temporada, abrindo-lhe as portas do clube do Rei, onde bradava que "... não posso defraudar quem apostou na minha aquisição, embora assuma com toda a humildade que este clube sempre me cativou. Posso até recordar que num passado recente existiram contactos para a minha contratação.", ousando mesmo dizer que sonhava com a selecção nacional, pois, "um guarda-redes que joga no V. Guimarães tem de ter essa ambição sempre presente. É um direito próprio. Jesus, Neno, Nuno e Pedro Espinha, ex-jogadores do clube, sempre foram chamados à selecção."

Porém, rapidamente, tudo se esfumaria... Cândido faria, apenas, um jogo completo pelos Conquistadores na Liga, num triunfo em Alverca por três bolas a uma, à terceira jornada. Além disso, só haveria de actuar treze minutos numa derrota por duas bolas a uma frente ao Salgueiros, em Vidal Pinheiro, onde entrou a substituir o germânico Tomas Tomic e naquela inenarrável eliminação da Taça de Portugal em Moreira de Cónegos, na estreia de Álvaro Magalhães, e que o Vitória perdeu por quatro bolas a três.

Passaria a terceiro guarda-redes e em Janeiro seria cedido ao secundário Imortal, dando a entender que a aposta vitoriana fora um erro. Um erro que levou o próprio a confessar em entrevista, igualmente, ao jornal Record de 04 de Junho de 2001 que "só se fosse maluco voltava a Guimarães", pois "Quando fui para o Imortal, em Janeiro, tinha por objectivo desvincular-me do Vitória. Mas não foi tarefa fácil, ao contrário do que chegou a ser divulgado na Comunicação Social."

Assim, "Desde Janeiro entrei em contacto com os responsáveis do clube no sentido de rescindir. Já em Março, chegámos a um acordo e desloquei-me propositadamente de Albufeira a Guimarães para assinar a rescisão. Qual não foi a minha surpresa quando cheguei ao notário à hora marcada e recebi um telefonema onde me comunicaram que não me davam a rescisão, porque contavam comigo na próxima época".

Aliás, segundo o próprio, o Vitória tentaria resgatá-lo em Março desse ano, mas "A minha resposta foi só uma: só se fosse maluco! Sempre me disseram para ter paciência porque teria de regressar. Aliás, até me falaram na possibilidade de renovar o contrato." Não regressaria, até pelas achegas que mandaria à direcção ao dizer que "Como é que a Direcção consegue tratar um jogador, que por coincidência é meu irmão, da forma como trataram o Rego? Depois, tenho de dizer que Guimarães é uma cidade muito ligada ao futebol e os sócios merecem maior tranquilidade no clube. Aliás, espero que deixem trabalhar o Augusto Inácio, que é uma pessoa muito competente e é capaz de mudar a equipa para melhor."

Assim, voltaria a Setúbal, encetando uma espiral que o fez também passar por Farense, Varzim e Olhanense para acabar a carreira no clube criado pela sua família em Viana do Castelo, o Artur Rego... soube, como em tantas outras apostas vitorianas, a desilusão!

Postagem Anterior Próxima Postagem