Andava o Vitória de Bernardino Pedroto, naquela temporada de 1993/94, embebido em sonhos de regresso europeu.
Um sonho, por vezes, tornado pesadelo por causa dos árbitros e que levou Pimenta Machado a enveredar numa verdadeira cruzada contra estes e estes a replicarem a prejudicarem ainda mais os Conquistadores.
Por isso, quando, naquele Domingo diluviano de Janeiro de 1994, o Vitória deslocou-se a Aveiro, para enfrentar o Beira-Mar, todos os cuidados eram poucos. A arbitrar a partida estava o lisboeta, Vítor Reis, que, com o resultado a dois, com os golos vitorianos a serem apontados por Pedro Barbosa e Dimas, resolveu dar por suspensa a partida, a dezassete minutos do seu final. Como escreve o Notícias de Guimarães, "quando faltavam dezassete minutos para finalizar a partida, a fita começou. Um pouco antes começou a chover mais intensamente e o vento a soprar com forte intensidade. O público começou a fugir no sentido de arranjar abrigo e talvez aí Vítor Reis se tivesse assustado e resolveu interromper o jogo." Esperaria os 15 minutos regulamentares, mas, após considerar que as condições mantinham-se, resolveu dar por findo o jogo.
Começou aí uma verdadeira confusão. Nos bastidores ninguém se entendia quanto à data para disputar a partida, e as dúvidas eram mais do que muitas: "cartões exibidos durante o jogo valiam ou não? O jogo devia ser disputado na Segunda-feira, na Quarta ou data posterior?"
Depois de muita discussão e de Pedro Xavier, director do departamento de futebol, ter finalmente chegado à fala com Pimenta Machado, que não estava no estádio, chegar-se-ia a uma data, quinze dias depois.
Nesse dia, já com um Sol esplendoroso, o Vitória alinhou com Brassard; Basílio, Tanta, Matias, Taoufik, Dimas; N´Dinga, Paulo Bento, Zahovic; Basaúla e Ziad e foi vítima da vingança de mais um juiz...Pinto Correia, de seu nome!
Bastará atentar no título da crónica do jogo no jornal Notícias de Guimarães, para ficarmos inteirado de tanto quanto sucedeu naquela tarde de 30 de Janeiro de 1994: "Penalty Esquecido! Penalty Inventado! Amarelos quanto baste! O Preço de uma Cruzada?!..."
Porém, o corpo do texto ainda era mais esclarecedor: "A magnífica tarde de Sol que se fez sentir no passado Domingo, arrastou à Veneza portuguesa milhares de vitorianos (...) Mas o Vitória "ajudado" pelo Sr. Pinto Correia, mais uma vez desiludiu os seus adeptos. Perdeu mais um jogo e em termos exibicionais esteve muito longe do que seria exigível. É certo que a arbitragem escamoteou uma grande penalidade sobre Dimas, inventou outra mesmo no final do jogo a favor do Beira-Mar o que construiu o resultado do jogo."
Pimenta, esse, depois de Pedroto ter referido, na conferência de imprensa, que não pretendia comentar a arbitragem, mas que a seu lado "estão as minhas gentes, está o presidente, está o chefe do departamento de futebol, eles é que devem comentar o trabalho do árbitro", arrasaria tudo e todos... inclusivamente o treinador que o mandatara para falar do trabalho de Pinto Correia: "Estou realmente aborrecido, porque nós, a Direcção tem uma postura de coragem e intervenção no futebol português e não tem uma retaguarda, sobretudo a nível da equipa de futebol, que nos ajude nesta cruzada. realmente, vimos para aqui num esquema manifestamente medroso, timorato, super-defensivo, num momento em que desaproveitamos o condicionalismo psicológico do Beira-Mar que precisa de pontos como de pão para a boca. Quem não é audaz, quem esquematiza este sistema táctico sofre as consequências, através de lances eventualmente duvidosos, sobretudo nos últimos minutos em que não há hipótese de recuperação."
Pedroto que procurara apoio presidencial ficava boquiaberto... o e, talvez, nesse momento começasse a selar um destino que a última dezena de jogos, apenas, com um triunfo ajudou a confirmar: falharia o apuramento europeu e não seria o treinador da equipa na época seguinte!