A primeira das duas vezes que Cristiano Ronaldo, provavelmente, o melhor jogador da história, se encontrou com o Vitória.
Corria a temporada de 2002/03... fruto das obras de remodelação que o D. Afonso Henriques era sujeito para receber o Campeonato Europeu de 2004, o Vitória de Augusto Inácio seduzia o país num ousado 3-5-2 em Felgueiras, casa de acolhimento para memoráveis partidas que os vitorianos jamais esquecerão.
Porém, essa caminhada deliciosa, pontuada por momentos de futebol que, poderemos dizer, eram uma espécie de tiki-taka antes de tempo, em Novembro desse ano sofreu um retrocesso... longe da caixa de fósforos felgueirense. Assim, fruto da saturação que o relvado do Estádio Dr. Machado de Matos estava a ser submetido, bem como às condições envolventes ao recinto, a equipa vitoriana tomou a decisão receber o Sporting, então campeão nacional, em partida referente à décima jornada da Liga, noutro local.
O estádio escolhido seria o das Antas, por essa altura, ainda, a casa do FC Porto, o que agradou ao treinador vitoriano, Augusto Inácio, que referiu que "teremos condições para jogar melhor. A nível desportivo se pudesse escolher, gostaria de jogar sempre nas Antas. Temos uma equipa boa, motivada e sempre conseguimos estar na plenitude, porque o relvado não está bom."
Tais palavras haveriam de causar profunda indignação...em Felgueiras! Com efeito, o presidente da Comissão Administrativa do clube duriense, de imediato acusou o treinador do Vitória de falta de classe, o que obrigou a pronta contra-resposta, com o técnico a dizer que "o que eu disse, foi que não aceitava que fizessem queixa à Câmara de Felgueiras que era o Vitória que dava cabo da relva, quando isso não acontecia. Treinávamos lá uma vez por semana, às vezes nem isso, como nas últimas três semanas e não aceitamos que nos culpem do estado da relva."
Iria, contudo, mais longe no auge da indignação que sentia ao afirmar que "nunca iremos desculpar maus resultados com o estado do relvado e, neste momento, só queremos agradecer à Câmara de Felgueiras todo o apoio que nos deu. Em relação a essa gente que agora faz comunicados, terá de ser a direcção do Vitória a responder. Na minha dignidade não tocam porque não têm moral ou arcaboiço para isso. De resto, não me parece que a minha linguagem pudesse ofender assim tanto porque a peixeirada que veio a seguir é tão podre, de tão baixo nível, que até entra no campo pessoal..."
Com este estado de espírito rumou com a sua equipa ao Porto para encontrar o Sporting de Boloni que, por esses dias, tinha como principal atracção um "puto" de 17 anos, chamado Cristiano Ronaldo e que, nas costas, ainda levava o número 28. Era uma Sexta-feira à noite e, fruto do horário do jogo, muitos vitorianos saíram dos respectivos trabalhos para se fazerem à estrada, na A3, rumo às Antas onde esperavam dar continuidade ao extraordinário triunfo obtido na semana anterior em casa do eterno rival.
CR28, esse, seria escolha para o onze titular, ao lado um Mário Jardel pleno de problemas, mas que, nessa noite, pareceu encontrar a redenção ao apontar um dos três golos da sua equipa.
Com o Vitória a alinhar com Palatsi; Ricardo Silva, Cléber, Rogério Matias; Bessa, Rui Ferreira, Pedro Mendes, Hugo Cunha, Djurdjevic; Nuno Assis e Rafael, o resultado foi uma verdadeira injustiça.
Na verdade, apesar do domínio da partida ter sido constantemente dos vitorianos, erros defensivos e a maior eficácia leonina, com Cristiano a colocar a cabeça em água ao último reduto vitoriano, seria suficiente para o conjunto lisboeta triunfar por três bolas a uma, algo que Augusto Inácio atribuiu à demora da sua equipa em adaptar-se ao relvado e ao ritmo de jogo... bem como à complacência do juiz António Costa no lance do terceiro golo adversário.
Porém, ainda não se sabia o quão histórico seria esse facto, mas a verdade é que CR, que ainda não era sete, não haveria jamais de conseguir violar as redes vitorianas...e teria outra oportunidade na segunda volta desse campeonato, numa contenda que terminou empatada a um!
