A EXIGÊNCIA DE PIMENTA...

Falemos do desafio entre o Vitória e o Benfica referente à temporada 2001/02.

Com efeito, tratou-se de um jogo de grande polémica, em que, numa altura que ainda não existia VAR, o árbitro Duarte Gomes foi alertado pelo jogador esloveno do Benfica, Zahovic, para receber uma informação do quarto árbitro da partida. Após conferenciar com este, o juiz da partida deu ordem de expulsão ao jogador vitoriano, Romeu, por supostamente ter agredido Marco Caneira. Revoltou-se, como também contamos, todo o estádio por, alegadamente, o juiz auxiliar ter obtido essa informação através da visualização de imagens de uma câmara colocada junto ao relvado do canal que transmitia o jogo, a SportTV, o que era ilegal.

Como consequência do sucedido, treinador Augusto Inácio, também, acabaria expulso na sequência do sururu, por tentativa de agressão, num momento polémico do futebol português e com os adeptos a manifestarem-se contra o juiz lisboeta de forma bastante acalorada.

Levantou-se o país na discussão dos factos e na habitual condenação do Vitória, quando tal sucede. Condenação sem contraditório, como tantas vezes tem ocorrido. Porém, desta vez, teve de levar com a determinação e poder de um presidente que tudo fez para lavar a honra vitoriana.

Assim, na Segunda-feira seguinte resolveu agir. Na altura, como hoje sucede em alguns canais televisivos, existia um programa de debate televisivo, chamado "O Jogo Falado." Nele como, ainda agora sucede, intervinham representantes dos três mais titulados clubes portugueses, que apresentavam a sua "cartilha" como lhes interessava, sem que os demais emblemas pudessem rebatê-los, defender-se. Deste modo, o presidente vitoriano não pensou duas vezes. Ligou a Bessa Tavares, na altura responsável pelo desporto na RTP e só lhe disse o seguinte: exigia que, nessa noite, o Vitória estivesse representado no programa, de modo a poder defender-se dos ataques que ia ser alvo, sendo que a maioria deles seriam desprovidos de fundamentação.

Apesar do referido jornalista argumentar que tal iria contra as directrizes do programa, que só permitia que estivessem lá representantes de Porto, Benfica e Sporting, a verdade é que o líder máximo do Vitória não cedeu. Ou era assim, ou então iria armar um escândalo que ainda teria maiores consequências.

Encostado contra a parede, o jornalista cedeu...parcialmente. Disse que ia consultar os seus chefes, que acabaram por ceder às pretensões do presidente vitoriano. Assim, a chamada seria devolvida, solicitando a Pimenta Machado que estivesse nos estúdios da RTP de Lisboa pelas 22h00m.

Mas, contudo, não contou com a "caixinha de surpresas" que era o presidente vitoriano. Inesperadamente, este disse-lhe que não era nem ele, nem a RTP que escolhia quem iria estar em defesa do Vitória. De imediato, indicou para tal tarefa, o, na altura, secretário-geral do Vitória, Luís Cirilo, e que não admitia que lhe fosse sugerido outro nome por alguém de fora do clube.

Os representantes da televisão estatal acabariam por aceder, passando o painel a ser composto por Manuel Damásio (Benfica), Pôncio Monteiro (FC Porto), Eduardo Barroso (Sporting) ... e Luís Cirilo, em representação do Vitória, numa verdadeira pedrada no charco que não teve continuidade nos programas vindouros desta estirpe.

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