O Vitória passeava superioridade naquele distrital de 1944/45.
No último ano de Alberto Augusto à frente do clube do Rei, os Conquistadores eram uma máquina bem oleada, sem rival à altura na escala distrital e mais preocupados em enfrentar as grandes equipas do futebol nacional no campeonato principal do futebol português.
Porém, ainda que tal prova fosse um passeio, como comprovavam as goleadas por 11 bolas a zero ao Sporting de Fafe e os sete golos sem resposta aplicados ao Vizela, bem como o triunfo frente ao eterno rival, que tinha chegado ao Benlhevai aureolado de imbatível, a verdade é que, como tantas vezes tem sucedido na história do desporto, convinha aos vencidos apoucarem os vencedores, criticando as suas atitudes para os desestabilizarem e até os levarem de vencidos em jogadas subreptícias.
Naquele ano, estas atitudes, que de fair-play nada tinham, passavam por nas crónicas desportivas serem deturpados os factos das partidas em que o Vitória tinha tido intervenção, como com o Famalicão, que vencera por claros seis a um, ou com o Fafe em que a equipa fora acusada de ter usada de uma agressividade desmesurada, intimidando os adversários com a sua conduta.
Ora, como tal não era verdade, levou a que a direcção vitoriana, presidida por António Faria Martins, emitisse um duro comunicado, publicado no jornal Notícias de Guimarães de 08 de Outubro de 1944, "...na defesa legítima do bom nome do Clube e do prestígio do futebol distrital, a vir manifestar publicamente a sua indignação e repulsa pelas atitudes dos autores de tais atoardas e críticas."
Estas, como já se foi dizendo, passavam por procurar convencer os adeptos que lances normais, decorrentes do jogo, haviam sido agressões e atitudes anti-desportivas da equipa vitoriana, algo que era qualificado de "mentiras repugnantes", pelo que "só insidiosamente se pode querer convencer o público de que tais entidades (o Delegado da Direcção-Geral dos Desportos e o Presidente da AF Braga) houvessem presenciado quaisquer actos menos correctos, quanto mais cobardes agressões, sem inexoravelmente castigarem os infractores", não teriam imediatamente agido.
Assim, mais do que tudo procuravam os boateiros condicionar a equipa nas partidas a disputar em Famalicão e Fafe, que se esperava que decorressem normalmente "...sem conflitos, quer entre jogadores, quer entre os adeptos do Clube, pois confia na lealdade dos seus adversários, com quem sempre o Vitória tem mantido as mais cordiais relações." Mais do que isso, os responsáveis vitorianos instavam "à correcção dos públicos daquelas progressivas vilas, uns e outros incapazes de se deixarem arrastar por agentes provocadores, e confia igualmente nas medidas tomadas pelas entidades que têm a seu cargo velar pela disciplina e prestígio do futebol distrital."
Perante a dureza do comunicado vitoriano, também a redacção do jornal tomaria posição, ao confirmar que "damos a nossa inteira aprovação ao Comunicado da digna Direcção do Vitória, e como ela também condenamos o procedimento daquelas pessoas que, em certa imprensa, leviana e perigosamente, têm alimentado uma campanha maldosa e condenável contra o Vitória, apontando como propósito agressivo o que não passa de simples acidente de jogo."
A medida de força resultaria, com o Vitória a vencer novamente o Distrital, ainda que fosse perder por três bolas a duas a Famalicão, sendo que, como escreveu o Notícias de Guimarães de 15 de Outubro de 1944, jogou-se debaixo de "um ambiente muito carregado, pois durante a semana fartaram-se de andar no ar boatos de ameaças e de injúrias..." Porém, o título esse haveria de chegar, ainda para mais com um saboroso triunfo conquistado em Braga! O Vitória, contra ventos e marés, tendo que combater dentro e fora do relvado, com punhos de renda neles e de aço fora deles, mostrava mais uma vez a sua força!

