Foi um ano terrível, agónico, com todas as previsões a saírem furadas...
Na verdade, ninguém esperava que tal assim sucedesse, até pelo regresso sebastiânico do treinador Jorge Vieira que houvera guiado os Conquistadores a um histórico terceiro posto no ano anterior. Além deste, a contratação do goleador Jorge Gonçalves, uma promessa do futebol brasileiro, parecia indiciar que seria mais um ano de êxito nos Conquistadores.
Porém, desde logo, esse desejo pareceu estar comprometido, até pelo facto do Vitória ter um plantel com alguma veterania, que sobreviera de uma década de 60 frutuosa, mas desgastante, e que levou o treinador, no início da época, a ter de referir que "idade não joga. O jogador não leva o bilhete de identidade para o campo. Os calções até não têm bolsos. Um atleta, de vida regrada, pode durar muito. Estudarei a capacidade do plantel. Se for imperiosa uma renovação esta terá que processar-se lentamente. Remodelar uma equipa de fio a pavio é uma loucura. A renovação tem que ser metódica e racional. Ir aos poucos para chegar longe.”
Não seria, contudo, feliz. Apesar do Vitória até ter conseguido eliminar os franceses do Angoulême na sua segunda incursão europeia, apesar de imediato ter caído aos pés do Hibernian, a verdade é que o campeonato seria um verdadeiro pesadelo.
Com efeito, a derrota na jornada inicial do Campeonato em casa do Belenense por três bolas a uma, de pouco valendo o golo de Artur, seria indiciadora do que se avizinhava, ainda que o jornal Notícias de Guimarães de 19 de Setembro de 1979 atribuísse o inêxito a uma eufemística falta de rodagem... que, aos poucos, se perceberia ser mais do que isso.
Efectivamente, pese o triunfo no jogo seguinte por três bolas a zero frente ao adversário que calhara em sorte nas competições europeias, a verdade é que só à sétima jornada, na Póvoa, perante o Varzim, os Conquistadores conseguiram vencer um desafio a contar para o campeonato, graças aos golos de Bernardo da Velha e de Zezinho. Um imenso suspiro de alívio que, para a publicação referida de 07 de Novembro de 1970, também representou "ponto de partida de fundamental importância para a carreira futura do conjunto vitoriano..." Reforçava-se, por isso, que "veio na hora mais própria, calando bocas e mostrando que o Vitória ainda, embora tanto custe a certos profetas, não perdeu rumos que são das suas tradições de há muitos anos."
Puro engano, todavia, ainda que nesse momento ninguém ousasse pensar que esse seria o derradeiro êxito de Jorge Vieira a contar para o campeonato como treinador do Vitória. Com efeito, nos onze jogos seguintes, a equipa seria incapaz de triunfar, averbando seis empates e cinco derrotas. O epílogo chegaria, assim, num empate caseiro a zero frente ao Leixões, considerando o Notícias de Guimarães de 06 de Fevereiro de 1971 que, atendendo ao cenário, "vêm, então, como sempre as soluções de emergências, nomeadamente, as chamadas chicotadas psicológicas, possíveis em quaisquer meios, quase sempre pouco desejáveis, mas difíceis de evitar."
Assim seria, com o capitão Peres, a assumir o papel de jogador-treinador, para tentar o milagre, mas em que derrota logo em Setúbal demonstrou que tudo se mantinha igual. Todavia, nada como um reencontro com o Varzim, a única equipa que o Vitória vencer por duas vezes nesse ano, para acalmar os espíritos. Assim, passada uma volta e treze partidas, o Vitória voltava aos êxitos, com os golos de Zezinho e o bis de Ademir da Silva a devolverem a esperança, ainda que a equipa continuasse no penúltimo lugar da tabela, só com o Leixões atrás de si.
Contudo, três derrotas consecutivas fizeram soar todos os alarmes, fazendo-se temer um desenlace infeliz, sinónimo de uma queda no segundo escalão nacional. Porém, se esses três desafios foram sofridos, os seguintes três e últimos do campeonato seriam sinónimos de milagre. Com efeito, os sofridos triunfos caseiros em casa, pela margem mínima, perante o Boavista, com golo de Artur, e frente ao Farense, com uma grande penalidade cobrada por Manuel Pinto com muitos adeptos de costas voltadas para o relvado para não quererem ver o decisivo lance, deixaram que o clube jogasse a derradeira cartada nas Antas, em casa do FC Porto.
Aí, apoiado por uma grande multidão, o Vitória não podia perder para se salvar, e pese embora o sofrimento, haveria de o conseguir. Como escreveu o Comércio de Guimarães, “houve zabumbas, houve satisfação a rodos, beberam-se umas largas pingas, tudo por ter saído do peito de cada um o peso de uma possível agonia que a todos sufocava, ter o Vitória de baixar de divisão. Salvou-se a honra do convento por um cabelo.”
Os Conquistadores tinham sobrevivido... mas era claro que tinham, de se renovar, fechando, definitivamente, um ciclo que tanto êxito tinha tido!
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