A temporada de 2008/09 foi difícil para o Vitória...
Tudo começou no famigerado roubo de Basileia, para prosseguir num campeonato titubeante, aquém das expectativas criadas no ano anterior.
Além disso, também teve polémica como a que sucedeu na Taça da Liga desse exercício. Numa altura em que a competição era disputada por grupos, e em que passavam às meias-finais os primeiros de cada um dos três grupos existentes e o melhor segundo de todas as poules, calhou em sorte, na primeira fase, ao Vitória o Benfica, o Belenenses e a Olhanense, sendo que nos dois primeiros desafios perante os encarnados e os homens da Cruz de Cristo, os Conquistadores apenas averbaram um ponto, fruto do empate no Restelo.
Por isso, na última jornada da prova, a equipa de Manuel Cajuda necessitava de uma série de resultados favoráveis nos outros grupos e suplantar o Belenenses no goal-average no seu para poder acalentar reais esperanças de passagem à fase seguinte... algo que parecia manifestamente difícil de acontecer.
Porém, dos outros campos começaram a chegar notícias animadoras, com o Rio Ave e o Nacional da Madeira, os mais bem classificados para ocuparem a vaga de melhor segundo a deslizarem. Por isso, existia uma real possibilidade de o Vitória ser o melhor segundo classificado... caso marcasse golos ao emblema algarvio e o Benfica triunfasse sobre o Belenenses.
Ora, se os encarnados cumpriram a sua obrigação, o conjunto vitoriano naquela tarde chuvosa de Domingo de 18 de Janeiro de 2009, também não ficaria atrás, batendo o conjunto algarvio por três bolas sem resposta graças aos golos de Fajardo, Marquinho e de Moreno. Fruto desse resultado, os Conquistadores acabariam a fase de grupos com um somatório de três golos marcados e de dois sofridos, enquanto o Belenenses findou esta parte da prova com dois tentos apontados e um sofrido.
Fruto da regulamentação pensou-se que o apuramento vitoriano era um dado adquirido. Tanto que o Notícias de Guimarães, em análise ao apuramento que parecia impossível, escrevia que "Afinal o Vitória conseguiu passar às meias finais da Taça da Liga. A verdade é que poucos acreditavam neste desiderato (...) mas as derrotar por três bolas a zero o Olhanense e vencendo nos outros três campos, o Vitória carimbou mesmo o passaporte para a fase seguinte."
Tudo parecia claro, mas de um momento para o outro viria a polémica.... com efeito, fruto de uma dúvida na interpretação de como era calculado o goal-average, numa querela lançada por blogs afectos ao Belenenses, suscitou-se a dúvida. Como escrevia o portal Guimarães Digital de 20 de Janeiro de 2009 "De acordo com o ponto 3 do artigo 7º do Regulamento da prova, o 'goal-average' é o primeiro factor de desempate. Segundo as regras da FIFA, o 'goal-average' traduz-se no coeficiente que resulta da divisão entre golos marcados e sofridos e não da diferença de golos, como é interpretação comum. E, caso a regra fosse interpretada desta forma, o Belenenses seria o segundo classificado do Grupo C, conquistando assim um lugar nas meias-finais da Taça da Liga."
Ora, a Liga de Clubes tinha outro entendimento que passava pelo primeiro factor de desempate referir-se aos golos marcados, o que favorecia o conjunto Conquistador. Aliás, emitiria um comunicado a dizer que "o goal-average' como primeiro critério de desempate entre clubes que tenham alcançado a mesma pontuação. A referida expressão 'goal-average' reporta-se à diferença entre golos marcados e sofridos; tal corresponde ao entendimento comum na linguagem corrente do futebol. Mais à frente, a Liga esclarece ainda que dito pela negativa, não se significou nem se quis significar através da referência a 'goal-average' a qualquer tipo de quociente entre golos marcados e sofridos. Sendo certo que, actualmente, em todas as competições internacionais, a referência ao 'goal-average' expressa a diferença entre golos marcados e sofridos."
Tudo parecia claro, mas o clube lisboeta não haveria de se conformar imediatamente e para além de prometer impugnar o sorteio das meias-finais, num comunicado referia que "O Belenenses conta participar nas meias-finais da Taça da Liga e vai estar presente no sorteio de amanhã, face ao teor da regulamentação da própria competição. Depois de ter estudado bem o assunto e pedido pareceres a vários técnicos e especialistas, o Belenenses considera não existirem dúvidas. Assim, de acordo com o ponto sete do anexo III do regulamento, o critério de desempate estabelece que «na 2.ª fase e 3.ª fase da competição, caso se venha a verificar um empate de pontuação entre os clubes, o apuramento para a fase seguinte é efectuado por aplicação dos seguintes critérios: 1.º Melhor goal average; 2.º Maior número de golos marcados; (etc.)» O goal average do Belenenses (2, fruto de dois golos marcados a dividir por um sofrido) é superior ao do V. Guimarães (1,5, fruto de três golos marcados a dividir por dois sofridos. Neste contexto, o Belenenses estranha e lamenta o esclarecimento publicado ao fim da noite no site da Liga, segundo o qual a «expressão goal-average reporta-se à diferença entre golos marcados e sofridos; tal corresponde ao entendimento comum na linguagem corrente do futebol». Ora bem, todos o sabemos, a expressão goal-average diz respeito a quociente entre golos marcados e sofridos... e de linguagem corrente também todos sabemos que as interpretações não podem ser feitas à revelia da letra da lei."
Uma interpretação inusitada mas que chegaria mesmo a ser o leit-motiv para a apresentação de um recurso contencioso de anulação para tornar sem efeito o acto administrativo da Liga que tinha confirmado o Vitória na fase decisiva da competição. Contudo, o mesmo morreria antes de ser apreciado por ter sido dirigido à Directora-Executiva da Liga que não tinha competência para o julgar, ainda que esta no seu despacho tenha referido que as peças processuais apresentadas não podiam ser procedentes, já que o entendimento das instâncias de futebol, desde os anos 70, era que o conceito de goal-average prendia-se com a diferença entre os golos marcados e sofridos.
Assim, morria (mais) uma das polémicas da Taça da Liga, por causa de uma inusitada apreciação, e a envolver o Vitória. Os Conquistadores, por isso, a 04 de Fevereiro de 2009, haveriam de se apresentar na Luz para discutir as meias-finais da prova. Aí, apesar da boa exibição e do golo de Desmarets no ocaso da partida, haveriam de perder por duas bolas a uma... o sonho da final morria!
