Somos um clube de apaixonados...
Uma paixão que, por vezes, tira-nos a razão.
Porém, em certos momentos, o discernimento tem de estar presente. Ser capaz de sobrepor-se ao sentimento que nos sai do peito, de modo inapelável.
Supostamente, hoje, deveríamos, todos, a estar a soltar um forte suspiro de alívio. As contas do Vitória apresentam um resultado líquido positivo record, o que poderia indiciar estarmos no bom caminho para sairmos do autêntico cadafalso em que nos vimos envolvidos. Com efeito, para os mais desatentos, os 7 milhões de resultado positivo poderão ser sinónimo de êxito, mas, no entanto, não será assim!
Não é assim, no entanto, para pena nossa.
Não é assim, porque o resultado líquido positivo, nem de perto nem de longe, cobre o "buraco" do exercício anterior que se cifrou em 14,5 milhões de euros. Ou seja, a aposta que foi assumida num ano de êxitos desportivos, apesar de, pelo menos, a nível europeu terem existido, não foi suficiente para estancar a hemorragia que a temporada de 2023/24 deixou.
Não é assim, porque esse êxito baseou-se em premissas extraordinárias, que, infelizmente, este ano não ocorrerão. Com efeito, o Vitória não irá às competições europeias pelo que não terá essas receitas extraordinárias. Também, não terá essa competição para projectar jogadores como o fez com Alberto, Manu e Kaio. Ora, sem esses proventos e sem essas extraordinárias vendas extraordinárias de Janeiro, será que o "apertar do cinto" com a partida dos "vaidosos" será suficiente? Desafortunadamente, queremos crer que não.
E já que se fala em vendas, como perceber a extraordinária dependência do Vitória de entidades terceiras? Como se explica o facto de as transferências terem gerado 49,5 milhões de euros e mais de 22 terem-se perdido em comissões e clubes terceiros? Ou será que a explicação é que a mais tememos e que o clube, neste momento, é incapaz de ser sólido e estável, caminhando sozinho?
Atendendo a estes factos, preocupante o passivo a curto prazo ter subido para cerca de 59 milhões de euros. Falamos, pois, daqueles montantes que têm de ser pagos no prazo máximo de um ano, sendo que sem a montra das competições europeias e com jogadores jovens a sair do ninho, como o Vitória vai buscar proventos para dar resposta a este desafio? Ainda para mais, com os passes dos jogadores Rivas, Samu, Bica e Gustavo Silva dados como penhor às Finanças para cumprimento das obrigações a que o clube está adstrito.
Ora, o parecer do Revisor Oficial de Contas dá um pouco de respostas a estas inquietações ao referir que a continuidade da entidade está dependente "de instituições financeiras e outras entidades financiadas, assim como da rentabilidade futura das operações e transacções com direitos desportivos sobre jogadores." Ora, se como já demonstramos, esta segunda hipótese será difícil e quando foi possível como em Janeiro passado nada adiantou, restará o recurso às instituições financeiras.
Mas, como? Se a VSports, parceiro escolhido para alavancar o clube e que à data se desconhece o estado de desbloqueio da sua relação com este, nada puder fazer, será que a solução passa por onerar o clube com empréstimos que terão de ser liquidados e que à data já ultrapassam os 30 milhões de euros. Podendo ajudar a respirar a curto prazo, não cremos que seja essa a solução que permita vislumbrar que o Vitória tenha um (bom) futuro...
Em suma, ao correr da pena, as contas vitorianas, ao contrário do que já corre em alguns jornais (por isso são jornalistas e não contabilistas) são preocupantes... o record de lucros uma falácia...e, desconfiamos, que hoje não exista um vitoriano preocupado com o futuro de um clube com 103 anos de existência.
