Era o menino de ouro vitoriano...
Aquela esperança para a marcação de muitos golos, da ajuda para classificações extraordinárias antes de ser vendido por muitos milhões de euros e possibilitar que os cofres vitorianos fossem forrados pelas muitas notas que daquela transferência adviessem.
Porém, a história de Herculano Nabian será mais uma daquelas que merecerá que paremos para reflectir. Uma história do não cumprimento de expectativas que o levaram a partir muito cedo e, mesmo longe dos Conquistadores, a ser incapaz de se afirmar.
Apesar disso, a história parecia que poderia ter um desenrolar de felicidade, ser plena de êxito. Bastará perceber que depois do luso-guineense ter chegado ao Vitória,no início da época de 2018/19, para actuar nos escalões jovens, proveniente do Belenenses, pareceu ser uma máquina goleadora, o verdadeiro terror dos guarda-redes contrários. Em duas temporadas, nos sub-17, foram 51 golos e, sem passagem pelos sub-19, seria colocado na equipa de sub-23 que, por esses dias de 2020, eram a primeira porta de entrada no futebol sénior.
Fruto desse talento precoce deu tanto nas vistas que o jornal desportivo espanhol Mundo Deportivo de 06 de Maio de 2020, escreveu que "Nova «guerra» à vista entre o FC Barcelona e o Real Madrid, agora por uma das jóias do futebol português. Segundo o jornal «Record», o Barça e o Madrid estão de olho em Herculano Nabian, um jovem avançado centro de 16 anos e 1,82 metros que em Portugal já foi apelidado de «novo Lukaku» devido à sua semelhança com o avançado do Inter e da seleção belga."
Tal obrigou o Vitória, que acreditava cabalmente estar perante uma pérola rara a tudo fazer para renovar-lhe o contrato, num processo que, como escreveu o Desportivo de Guimarães de 14 de Julho de 2020, "...foi difícil de alcançar, obrigando à intervenção de Miguel Pinto Lisboa e do diretor desportivo dos vimaranenses, Carlos Freitas." Para tal suceder, teve o Vitória que renovar-lhe o contrato, apondo-lhe uma cláusula de rescisão de 60 milhões de euros, sendo que o jogador, segundo se dizia, estava a ser seguido pelo Barcelona, Real Madrid, Sevilha e Valência de Espanha, Atalanta, AC Milan e Roma de Itália e Borussia de Dortmund e Leipzig da Alemanha.
Era a certeza que ia ser aposta nas equipas seniores na temporada que se preparava para ser encetada, a de 2020/21. Nesse ano na equipa sub-23 e na B, onde, na globalidade, marcou 9 golos, para se estrear na seguinte na equipa principal pela mão de Pepa. Nesta, faria seis partidas, merecendo destaque o jogo da sua estreia frente ao Leixões, a contar para a Taça da Liga, onde tendo entrado em campo aos 85 minutos, ainda, foi a tempo de assistir o outro estreante Maga para o último golo do desafio.
Pouco mais jogaria, sendo que no final dessa temporada, perceberia que não entrava nas contas do clube. Deste modo, seria emprestado aos italianos do Empoli por um valor de 150 mil euros, sendo que estes poderiam efectivar a sua aquisição a título definitivo a troco de mais 450 mil euros. Acresce, ainda, que o negócio poderia chegar aos 1,2 milhões de euros, atendendo a outros objectivos que o jogador tinha de cumprir fixados em 600 mil euros. Além disso, o Vitória reservou 20 por cento dos direitos económicos do jogador numa futura transferência.
Um valor muito baixo, atendendo à cláusula de rescisão que constava no contrato do possante ponta de lança, mas que foi justificado pelo, então, novo presidente do clube, António Miguel Cardoso que disse ao Record de 06 de Agosto de 2022, ter-se tratado de "uma questão desportiva e não financeira, uma vez que o jogador estava ‘tapado’ no plantel. "Depois dos pareceres das equipas técnicas, do departamento de scouting e da direcção desportiva, entendemos que esta era a melhor solução a tomar para o Vitória e para o jogador."
Assim, Herculano partiria para Itália onde nos juniores do clube, nesse exercício, em 32 partidas apontou três golos. O suficiente para ser accionada a cláusula automática de aquisição firmada no vínculo contratual e que o fez abandonar definitivamente a ilusão de um dia poder voltar ao Vitória.
Herculano, o menino que um dia foi o "novo Lukaku", nunca conseguiu afirmar-se no conjunto principal dos italianos, tendo na temporada de 2024/25 sido emprestado, inicialmente, à União de Leiria a disputar a Liga 2 portuguesa e, por não se ter afirmado, na segunda fase do exercício no Mérida do terceiro escalão espanhol. Em ambos os casos sem marcar golos... o que será manifestamente pouco para alguém que teve os maiores clubes da Europa no seu encalme e que obrigou, ainda menino, o Vitória a um custoso esforço financeiro para o segurar. Algo suficiente para nos fazer reflectir...