COMO PIMENTA LEVOU A CABO UM RAID FULMINANTE AO BESSA E TUDO O QUE O RIVAL FEZ PARA IMPEDIR UM ATAQUE HISTÓRICO...

Aquela manobra de mercado parecia ser a grande bomba do defeso da temporada de 1991/92...E sem envolver jogadores dos clubes mais mediáticos.

Na verdade, desejando dar um golpe num dos seus maiores rivais, e no Major Valentim Loureiro, presidente dos axadrezados e, também, da Liga de Clubes, Pimenta Machado,no final da época antecedente, seduziu três jogadores basilares do Boavista. Eram eles, o defesa central Frederico, o ala direito Jaime Alves e o lateral esquerdo Caetano que, por estarem em final de contrato com o clube portuense, podiam comprometer-se livremente com qualquer clube.

Apesar dessa possibilidade legal, refira-se que o Boavista, numa altura em que a Lei Bosman nem sequer era aventada, tudo fez para impedir sofrer esse golpe. Assim, a Liga de clubes, que estava na mão do Major, apresentou uma proposta na Federação Portuguesa de Futebol que, como escreveu o Povo de Guimarães de 10 de Maio de 1991, "prevê elevadíssimas indemnizações aos clubes aos clubes, o que conduzirá à inviabilização de grande parte de transferências de jogadores, impossibilitando a renovação das equipas."

Ora, como escrevia a publicação consultada, "a actual proposta presente à Assembleia-Geral da FPF pela liga é considerada nos bastidores federativos como uma consequência da disputa entre o Boavista e o Vitória em relação a jogadores actualmente a jogarem no clube do Bessa e que terão já acordado contratos com o Vitória." Eram eles os já citados atletas e que haveriam mesmo de chegar a Guimarães e nos bastidores federativos era voz corrente que "essa lei é, apenas, para obrigar o Vitória a pagar elevadas indemnizações - dizia-se nos corredores federativos, no passado Sábado."

Assim sendo, se a proposta fosse aprovada, "os contratos com os novos jogadores vitorianos para a próxima época teriam, em grande parte, de ser anulados, porque o Vitória não poderia pagar tais indemnizações."

Contudo, a rechaçar a habilidade boavisteira merecerá destaque o papel de Raúl Rocha, na altura vice-presidente da AF Braga, que "criticou fortemente a proposta e teve papel fundamental na sua não aprovação ou, pelo menos, na necessidade de elaborar nova proposta." Aliás, seria dele o exemplo mais cabal de quão surreal e punitiva era esta lei e que tendia a que o raid vitoriano ficasse inviabilizado ou que o emblema portuense se locupletasse de modo excessivo à custa dos Conquistadores. Transcrevamos o seu exemplo para percebermos, efectivamente, o que estava em causa: "Consideremos um exemplo de um jogador da II Divisão B que ganhe 100 contos/mês e que tenha 21 anos. O seu salário anual nunca será, incluindo prémios, menos de 2.000 contos/ano o que implicará que para sair, o seu novo clube tenha que pagar 20.000 contos ao clube anterior. Fica inviabilizada qualquer transferência." Assim, percebia-se que, num tempo em que a Lei Bosman nem sequer era equacionada, que para contratar um jogador com menos de 21 anos, o pretendente teria de pagar à sua equipa anterior dez vezes o seu salário anual.

Por isso, com esta lei inviabilizada, urgia encontrar "uma lei intermédia", que permitisse aos clubes receber determinados valores, mas sem fazer perigar as transferências. Para isso foi criada uma Comissão que não iria apresentar uma proposta de regulação em tempo útil para a época de 1991/92. Tal permitiria que o Vitória contratasse os três antigos atletas boavisteiros, tornando-se estes em pedras basilares do quinto lugar final que haveria de ser conquistado.

Porém, a Lei das Transferências viria, durante essa época, a ser aprovada e tal obrigaria o Vitória a entender-se com o seu rival para não ter de pagar a referida indemnização milionária, que se atinha apenas a Jaime Alves e Caetano, pois, pela idade, Frederico já não estava abrangido por qualquer valor. A resolução do imbróglio seria anunciada em Fevereiro de 1992 em sede Assembleia-Geral do clube. Assim, depois de ter regressado à Liga de Clubes, órgão do qual houvera saído tempos antes, "como causa próxima esteve um acordo com o Boavista, em que o Vitória nada pagará por Jaime e Caetano como exigia o Presidente boavisteiro." A favor dos vitorianos estava o facto de aquando da aprovação da referida Lei das Transferências, o Vitória não pertencer à Liga de Clubes. Ora, "havendo acordo, podem regressar sem riscos de exigências de pagamento..."

Assim, findava a aventura dos antigos axadrezados no Vitória... Frederico, depois de 32 partidas e um golo apontado, rumaria ao Estrela da Amadora. Quanto aos que regressaram ao Bessa, Caetano actuou em 33 partidas e Jaime em 26, tendo apontado dois tentos.

Todavia, ficou na história, o acto vitoriano de afrontar o major e tudo o que ele representava no futebol português...

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