COMO AQUELE CAMPEONATO DE LOUCOS FINDOU, DEIXANDO O VITÓRIA TÃO PERTO DA EUROPA COMO DA DESCIDA, NUM ANO QUE MERECIA UM FILME!

Aquele campeonato de 1990/91 foi tudo menos fácil para o Vitória.

Arrancando para ele com grandes expectativas, depois do quarto lugar do ano anterior, cedo se viu que tudo iria ser diferente. Aliás, começou logo mal no estágio de pré-temporada no Brasil, com o lateral direito, Nando, a ser alvejado a tiro. Depois, seria a dolorosa eliminação europeia frente aos turcos do Fenerbahce (longe de terem o poderio financeiro e desportivo que hoje apresentam), a demissão de Autuori, o tiro ao lado que foi a aposta no uruguaio Pedro Rocha, a inusitada decisão dos órgãos decisórios da FPF que levou a que a partida contra o Belenenses fosse repetida e transformando o triunfo do primeiro jogo em derrota e a chegada do técnico João Alves que colocou um ponto de ordem e tranquilidade na casa.

Porém, se dentro do campo, a situação era de ebulição, fora não era mais tranquila. Pimenta Machado envolveu-se numa batalha destinada fazer cair o líder da AF Braga, o seu antecessor no comando dos Conquistadores, Gil Mesquita, com o intuito de ir mais além. Esse mais além passava por mudar a rota do ente associativo, tornando-o insubmisso às directrizes da AF Porto e, com isso, fazer cair o Conselho de Arbitragem e a própria direcção da Federação Portuguesa de Futebol. Atento a essa atitude, não foi de surpreender que os homens do apito em diversas situações prejudicassem o conjunto vitoriano, criando-lhe ainda mais problemas.

Por isso, houve momentos de profunda agonia numa caminhada deveras periclitante. Como aquele jogo com o eterno rival, disputado em 05 de Maio de 1991, em que uma derrota de qualquer um dos rivais poderia significar a descida de um deles. Acabariam por empatar a zero, com o jornal Povo de Guimarães a escrever que "até pareceu... mas não foi", atendendo que tal resultado, numa altura em que o triunfo valia, apenas, dois pontos, não hipotecava as possibilidades de qualquer um dos "queridos inimigos" se salvar pelo que poderia dar a entender que na hora do aperto, a solidariedade falou mais alto do que a rivalidade. Ainda assim, apesar do jogo ter-se disputado numa hora pouco habitual para aquele tempo (às 18h00m de Domingo e sem transmissão televisiva), de modo a já serem conhecidos os resultados da concorrência, como o Notícias de Guimarães, de 10 de Maio de 1991, escreveu, o resultado "obriga o Vitória a sofrer na deslocação a Chaves ou no jogo em casa com o Tirsense, para chegar à pontuação necessária." Tal haveria, apenas, de suceder com o conjunto vitoriano a ser derrotada pelos flavienses por um golo solitário, para triunfar por igual margem frente aos Jesuítas, com um tento solitário de João Baptista.

Por isso, haveria de se salvar, apesar da pesada derrota sofrida no Estádio das Antas na última jornada, acabando o campeonato no nono posto entre 20 participantes. Todavia, mais do que isso, destaque para um campeonato terrivelmente equilibrado, em que qualquer percalço significaria a queda no cadafalso da despromoção. Na verdade, os Conquistadores ficaram a dois pontos do quinto lugar, ocupado pelo Salgueiros, e que era sinónimo de apuramento europeus e a igual margem do 17º e 18º posicionado, Vitória FC e Estrela da Amadora, que era significado de descida de divisão. Para este posicionamento fora do comum, muito contribuiu o desempenho paupérrimo longe da Cidade Berço onde, apenas, conseguiu fazer nove pontos. Mais do que isso, só foi capaz de marcar 7 golos em 19 partidas, tendo esses tentos sido obtidos em, apenas, quatro desafios: Marítimo, Vitória FC (onde marcou três), Nacional e Famalicão.

Era impossível fazer melhor num campeonato de louco, numa época digna de um filme...

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