COMO O LUSO-TRANSALPINO TENENTE RAMIN TORNOU-SE NUMA ESPÉCIE DE HERÓI ROMÂNTICO NUMA ÉPOCA EM QUE NADA CORREU BEM...

Relembremos Orlando de Carvalho Ramin, o guarda-redes que foi aposta do Vitória para a temporada de 1961/62.

Proveniente do Feirense, era uma das contratações de renome dos Conquistadores para, conjuntamente com Varatojo, substituir os guardiões Silva e Dionísio.

Ramin possuía em si uma curiosa particularidade. Com efeito, apesar de ter nascido em Lisboa, tendo percorrido os escalões de formação do Sporting, saltaria para os seniores da Académica de Coimbra, o guardião tinha nacionalidade italiana, fruto da proveniência do seu pai, tornando-se no primeiro jogador com raizes transalpinas a actuar no emblema vimaranense, algo que só muitos anos depois o italo-sueco Marco Ciardi e, muito, posteriormente, o italo-marfinense Ibrahima Bamba igualaram.

Fruto dessa veia latina e, provavelmente, romântica, passara os primeiros anos da sua juventude a dar asas a outra vocação, que passava pelas cantigas. Ramin cantara em programas da emissora nacional, tornando-se quase no primeiro guarda-redes que representou o Vitória com dotes vocais acima da média, ainda antes de Neno.

Porém, se o jovem guardião formou-se no Sporting, seria na Académica, que fora uma escolha para prosseguir o sonho de se tornar médico, que se notabilizou. A sua presença entre os postes do clube coimbrão foi tão marcante que, muitos que o viram jogar, haveriam de o considerar o guarda-redes mais espectacular que presenciaram.

Um verdadeiro talento que, antes de chegar ao Vitória, jogaria, ainda no Belenenses, Lusitano de Évora, Atlético, que confessou ser o clube dos seus pais, e o Feirense.

Até que chegamos à conturbada temporada de 1961/62, ano em que o Vitória, depois do histórico quarto posto da temporada anterior, procurava afirmar a sua relevância no futebol nacional. Para isso, apostou em algumas contratações, tidas como cirúrgicas, mas que haveriam de não se afirmar. Acresce, ainda, o facto do treinador, Artur Quaresma, ter sofrido uma forte contestação por ter dispensado o avançado Ernesto Paraíso, uma referência goleadora da equipa, o que levou a que sofresse uma forte contestação por parte dos sócios, demitindo-se e, em solidariedade com este, o presidente Casimiro Coelho Lima tomasse igual decisão.

Além disso, a história de Ramin também haveria de abalar a equipa. Assim, depois de se estrear na primeira jornada numa derrota na Tapadinha frente ao Atlético, não haveria de findar a época, despedindo-se da equipa depois da 23ª jornada, de um campeonato que contava com 26.

As razões para tal eram impossíveis de refutar. O Tenente Orlando Ramin fora chamado em comissão de serviço para desempenhar funções militares em Angola. Vendo-se na contingência de abandonar os seus companheiros, deixou duas cartas. Uma dirigida à direcção onde anunciava ter “chegado a minha hora. Vou partir deixando o nosso Vitória que sempre me acolheu e acarinhou de maneira tão afável e de que eu não me sinto merecedor.” Outra remetida ao capitão, Silveira, em que se despedia do capitão de equipa e pedia-lhe para transmitir ao grupo toda a estima que tinha por todos.

Abandonando o Vitória, seria na África que o recebera que sofreria o revés que levaria a sua carreira a findar. Um acidente arruinar-lhe-ia a carreira, fazendo que quando regressasse a Portugal optasse pela de treinador que levou a cabo até 1988. Mas, para a história, ficaria com um herói romântico, ainda que fugaz, da história vitoriana...

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