Desde 1922 que se disputava o Campeonato de Portugal. Na sua primeira edição, só disputado em regime de finalíssima entre o vencedor do Campeonato Distrital do Porto (o FC Porto) e o de Lisboa (o Sporting), haveria de estender-se a todo o país num claro sinal do crescente interesse que o desporto-rei vinha a provocar nos adeptos, seguindo o modelo de prova por eliminatórias.
Porém, fruto da necessidade da evolução do futebol, consubstanciada pela pesada goleada de nove tentos sem resposta sofrida pela selecção portuguesa em Espanha, a então FPFA (Federação Portuguesa de Football Association) decidiu criar o Campeonato das Ligas em 1935 e em que os vencedores e os melhores classificados tinham apuramento para o Campeonato de Portugal. O Vitória, fruto de à AF Braga só lhe ser permitido colocar equipas no Campeonato da Liga Inferior (a 2ª Divisão) e por nunca ter vencido a referida Liga jamais iria participar nesta prova, ainda que exercesse um claro domínio distrital.
Deste modo, seria só na época de 1938/39 que haveria de conseguir apurar-se para uma prova que, nesse ano, abandonara o nome de Campeonato de Portugal, para não confundir com a nova nomenclatura do Campeonato Nacional (como hoje o conhecemos) e que adoptara o nome da Taça de Portugal. A prova que, hoje, dizemos com orgulho ser a competição mais democrática do futebol português.
Para o conseguir, lembrando que só 16 emblemas apuravam-se para a mesma (os oito da Primeira Divisão, sete da Segunda e o representante da Madeira/Açores), teve de ultrapassar uma espécie de pré-eliminatória perante a Ovarense, o campeão da da Beira Litoral. Aliás, o jornal Notícias de Guimarães, datado de 30 de Abril de 1939, era inequívoco em afirmar que "No passado domingo, o Vitória de Guimarãis (sic) deslocou-se à linda Princesa do Lima para disputa de um jôgo que dependia a sua classificação para os oitavos de final da mais sensacional prova desportiva que se tem realizado no nosso país - a Taça de Portugal."
Deste modo, em Viana do Castelo, desde logo "... o grupo vimaranense afirmou a sua personalidade, exercendo acentuado domínio sobre o adversário." Um domínio "...dentro do mais puro association...", que era uma expressão que procurava denotar a capacidade de jogo colectivo, dos diversos sectores da equipa interagirem, no fundo um prenúncio muito antes do tempo do "joga bonito" brasileiro ou do tiki-taka catalão.
Como consequência disso, aos 16 minutos, um dos grandes goleadores dos primeiros anos da história vitoriana, Pantaleão, adiantou o Vitória no marcador, para antes do intervalo Clemente ampliar a vantagem.
"A segunda parte não nos ofereceu a beleza do 1º Half-time. A excessiva dureza dos campeões da Beira Litoral, dificultou, em verdade, a boa exibição dos vários sectores vitorianos." Ainda assim, Pantaleão haveria de marcar mais três golos, ainda que dois obtidos na cobrança de duas grandes penalidades, aproveitando "...esquemas vistosos de jogadas, pôs o adversário na mísera condição de busca-bola. Passes curtos, optimamente colocados..." foram a cereja no topo do bolo.
O Vitória apurava-se para a Taça de Portugal, numa inesquecível tarde do seu matador, autor de um poker, e pedia-se que "... o público vimaranense saiba apreciar devidamente o esforço do seu grupo representativo, não lhe regateando aquela assistência moral e material a que tem jús."
Haveria de suceder numa inesquecível eliminatória frente ao FC Porto, mas isso será outra história...