DIRECTAMENTE A ALBERTO COSTA...

Caro Alberto,

És, ainda, um jovem...

Com 21 anos é natural querer-se engolir o mundo, levar tudo à frente, chegar depressa onde o passar dos anos nos ensinará a chegar com calma.

Ainda para mais, quando nos fazem promessas que parecem irrecusáveis, lançam-nos cantos de sereia, dão-nos palmadas nas costas prometendo algo que parecia impossível há bem pouco tempo.

Dir-te-ei que é normal essa vontade do imediatismo, de querer tudo para hoje... sei-o porque todos nós já fomos assim.

Porém, com o tempo, e tu, certamente, irás passar por isso, perceberás que nem tudo o que luz é ouro. Que o que parece infalível e o melhor, por vezes, é apenas um castelo de areia.

Além disso, com 21 anos há muita gente que olvida o valor da gratidão. Temos demasiada pressa em concentrar-nos em nós, nas nossas vontades, ao invés de olhar em redor. De pensar que temos de levar connosco uma parte daqueles que nos fizeram homens, nos acrescentaram valor. Sei que também acreditas nisso, em respeitar os que fizeram de ti o que és hoje... a tua história, em que guardas um inestimável carinho pelo Sr. Costa, aquele homem que, mesmo não sendo teu pai de sangue, tornou-se teu pai de coração comprovará isso.

Por isso, também quero crer que olharás assim para o Vitória, aquele clube que é o nosso e que tu aprendeste a respeitar a partir dos 11 anos. Eras, ainda, mais menino, decerto ainda tinhas mais sonhos para cumprir e que foste dando como cumpridos com quem em ti viu talento, potencialidade e nunca te largou a mão...no fundo, não foi teu pai adoptivo, mas desportivo.

Por isso, quero acreditar, apesar de todo o fulgor que vais mostrando no espírito e que se assemelha ao que denotas quando empreendes aquelas cavalgadas no campo, sabes que, para além dos teus sonhos, há um valor que sempre mostraste: a gratidão. A gratidão por quem burilou o teu talento, nunca desistiu de ti e te projectou para o sucesso que toda a gente te antevê.

E nessa gratidão, certamente, perceberás que o Vitória, pelo que investiu em ti, também terá de ser visto como o teu pai desportivo. Não, com aquelas frases feitas de quem se arvora de te ter lançado, quando ambos sabemos que foi o Álvaro Pacheco que olhou para ti e deu-te os primeiros minutos na equipa principal do clube que representas com dez anos, mas com as atitudes de quem, ainda sendo muito jovem, viu-se lançado num mundo de homens.

Independentemente disso, do que suceda, acredito que, caso fiques no Vitória, ninguém te irá colocar um peso nos ombros. Ninguém te responsabilizará por não permitires um encaixe financeiro generosa ao clube. Provavelmente, era o que alguns queriam! Enquanto representares o Vitória, e o fizeres com a dedicação que sempre tens feito, esta será a tua casa e nunca te sentirás a mais...

E, olha com 21 anos, como diz o povo, na sua imensa sabedoria, certamente, haverá mais marés do que marinheiros... quem sabe o que o futuro nos traz?

Além disso, e tu como "vitoriano antigo" saberás, no Vitória será sempre mais importante o emblema na frente da camisola que o nome que está aposto nela atrás. Por saberes isso, não quero, nem posso acreditar que chegaste a algum acordo com o Sporting, sem o Vitória ter falado com os lisboetas. Seria a certeza que, apesar de termos feito trabalho esmerado na tua formação como jogador, provavelmente, teríamos falhado outros vectores...e como já escrevi, em cima, tal não se coaduna com o que foste vivendo em onze anos de Vitória.

E, agora, contigo, se assim for a vontade dos homens, vamos superar os próximos desafios!

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