"Vou ser verdadeiro, foi estranho. Não percebo, mas é para o lado que durmo melhor, o porquê da tristeza. Jamais disse ao presidente que queria sair do Vitória. Quando fui abordado disse que tinham de falar com o Vitória e quando o Sporting chegou a acordo com o Vitória aconteceu o que aconteceu. Saí do Vitória e deixei quatro milhões no clube, não percebo o porquê de tanto ódio, mas tenho de seguir a minha vida. Tenho um carinho enorme pelos adeptos, mesmo pelos que me trataram mal. Dei muito a ganhar ao Vitória desportivamente e financeiramente, vou gostar do Vitória para sempre, mas vou seguir o meu caminho. Fiquei triste por esse ódio".
Rui Borges esteve menos de seis meses no Vitória.
Pouco tempo, é verdade. Mas, tempo suficiente para ter percebido como funciona o clube e os vitorianos.
Na verdade, em Guimarães, independentemente do que se faça, do momento em que passa para outro lado, deixa de ser um vitoriano. É recebido como todo e qualquer adversário.
Rui Vitória quando rumou ao Benfica ou quando Sérgio Conceição assumiu a liderança do Porto referiram isso. O ambiente infernal do D. Afonso Henriques, e apesar do respeito e admiração que sentiam pelo clube, a certeza que não seriam recebidos com o carinho que tinham quando levavam o Rei ao peito... isso é exclusivo de quem enverga as cores pretas e brancas.
Porém, ao contrário dos outros dois que tiveram e continuam a ter um percurso sustentado no futebol e, agora, ambos até no estrangeiro, Borges ascendeu demasiado depressa a um cume que julgava inalcançável. Na verdade, não vão muito longe os tempos em que ao serviço do Vilafranquense, num jogo contra o Vitória, arvorado em vedeta que não era e, ainda, não é, "deu uma branca" à imprensa vimaranense, sem que nada o justificasse.
Diz, também, que deu dinheiro ao Vitória. É verdade! Mas, abandonou um projecto a meio, sendo que a indicação que deu ao presidente para se entender com o Sporting, demonstrou de modo indiscutível a sua vontade, apesar de em conferência de imprensa, após o jogo com o Nacional da Madeira, ter dito que estava concentrado no clube.
Mais do que isso, apesar da histórica campanha europeia, Rui Borges, no campeonato nacional arriscava-se a ser simplesmente "mais um" treinador no clube. Quanto treinadores com dois triunfos em dez jogos foram assobiados e criticados? Quantos treinadores com um mal crónico nos jogos fora de portas e incapaz de estancar os golos sofridos em todos os jogos tiveram tanta complacência?
Por isso, Rui Borges não saiu de Guimarães como um deus, coisa que nunca o foi. Se deu dinheiro ao Vitória foi decorrência de um contrato que aceitou e que só se precipitou fruto de uma bola de neve que é o futebol e por, a verdade ter de ser dita, todos os treinadores com estatuto no futebol português estarem ocupados no estrangeiro... bastando ver quem são os que competem com ele para o título nacional.
Assim, compreendemos que a ascensão rápida tolde o raciocínio a alguém que na primeira derrota ao serviço do Vitória, frente ao FC Porto, culpou os jogadores... mas, no fundo, ninguém esperava que em tão pouco tempo de Sporting absorvesse a prosápia bacoca, egocêntrica e narcisista que é própria dos maiores clubes portugueses. Aprendeu rápido o que de mau têm para dar!