COMO PEDRAS, APESAR DA OPOSIÇÃO PATERNA, TORNOU-SE NO PRIMEIRO INTERNACIONAL DA HISTÓRIA DO VITÓRIA, NUM TORNEIO PARA JAMAIS ESQUECER...

Nascera para o futebol quase por engano.

Com efeito, o jovem Pedras chegara ao futebol contra todos os desígnios paternos que desejava que este seguisse as suas pisadas na relojoaria que servia de sustento à família. Por isso, o pai chegou mesmo a esconder-lhe os sapatos na ilusão que tal o impedisse de jogar à bola pelas ruas da cidade...esquecendo-se que o jovem poderia usar os seus, por assentarem-lhe na perfeição. Porém, essa manigância não o livraria, bem como ao seu irmão, de receber belas sovas pela ousadia de continuar a fazer o que mais amavam: jogar futebol.

Por isso, ainda que com a arreigada oposição paterna, a fama do "miúdo loiro" foi-se propagando, ainda que tal não fosse necessariamente benéfico. Na verdade, como foi escrito no nº5 da Colecção Ídolos do Desporto, dedicado a si, "... essa popularidade não foi nada boa. O pai Pedras poderia comer a notícia de que havia um Zé Russo que jogava muito bem a bola, mas não comia os zuns-zuns que davam como cheio de habilidade um garoto russo, filho do Pedras relojoeiro. Isso era com ele" e com os seus intentos dos seus filhos assumirem no futuro a loja.

Contudo, depois de muitos golos marcados pelas ruas da cidade, alguém um dia sussurrou-lhe: " O Vitória anda à procura de miúdos para os principiantes. Vai lá". Iria, conjuntamente com o seu irmão, e ambos convenceriam Lutero, antigo jogador do clube, sendo quase de imediato colocado a jogar. Quanto ao pai, ficou desagradado pela atitude dos filhos, "... mas este, instado pelos amigos que lhe diziam: Vá ver jogar o seu miúdo mais novo e ficará contente, acedeu. E gostou." Era o primeiro passo para uma carreira que o haveria fazer entrar na história como o primeiro internacional de sempre vitoriano, ainda que no escalão de juniores.

Assim, estávamos em 1960, e em Portugal vivia-se o entusiasmo pela participação no Torneio Internacional de Juniores, uma espécie de Campeonato Europeu do escalão, em Viena na Áustria. Apesar de não ser o seleccionador da equipa, cargo que pertencia a Carlos Carvalho, existia uma rede de observadores nos quais se incluía Artur Baeta, treinador do Vitória em 1946/47 e que dedicou uma especial atenção à formação. Nesse ano de 1960, já ao serviço do FC Porto, viria jogar a Guimarães contra o Vitória. "Antes da partida principal, defrontaram-se as turmas de juniores do Vitória e do Sporting de Braga e no centro do ataque vimaranense lá estava o jovem Pedras. Exibição em cheio, alguns golos marcados e as promessas sobretudo de uma classe real." Imediatamente, Baeta indicaria o seu nome aos responsáveis pela equipa nacional júnior e seria convocado para Viena, sendo assim o primeiro jogador vitoriano a representar a equipa de Todos Nós.

Faria ainda melhor ao destacar-se numa selecção que se exibiu em plano superior e que acabaria por conquistar um honroso terceiro posto, graças ao triunfo por três bolas a uma frente à Áustria... com dois golos do jovem vitoriano, que indicava poder ter futuro no futebol. Desde logo seria chamado de imediato à equipa principal dos Conquistadores, mas, mais do que isso, convencia o seu pai da sua paixão e garantia um lugar na eternidade vitoriana: o primeiro internacional de sempre da história do clube!

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