Aquele final de Fevereiro e início de Março de 1987 eram altamente sedutores.
Com o Vitória a lutar em todas as frentes (Campeonato, Taça de Portugal e Taça UEFA), os vitorianos sonhavam... alto, com grandes feitos de uma equipa que tinha nomes como Jesus, Costeado, N'Dinga, Ademir ou Cascavel e muitos mais que olhavam de frente para qualquer desafio.
Por isso, aquela semana seria decisiva... e entusiasmante, com os Conquistadores a terem de disputar no Sábado a partida no Alentejo, em Elvas e daí a terem de rumar para a, então, República Federal da Alemanha para disputar a primeira mão dos quartos de final da prova, em Monchengladbach.
Assim, a 28 de Fevereiro de 1987 foi uma verdadeira multidão de vitorianos que empreenderam a viagem até à cidade fronteiriça com Badajoz em busca do sonho do título. Com um calor abrasador, a equipa treinada por Marinho Peres, como escreveu o jornal do Vitória de 13 de Março de 1987, "Sem ser brilhante, o Vitória jogou o suficiente para levar de vencida a aguerrida equipa do Elvas..." Não o haveria, contudo de conseguir, devido a Santos Ruivo, "... um árbitro - ao que se diz amigo do Vitória - que deixa passar em claro um penalty sobre Ademir." Além disso, mostrou cartão amarelo ao genial brasileiro, o que o haveria de impedir de defrontar o Benfica, numa contenda tida como decisiva para os destinos do campeonato. "Era a premeditação. Importava pôr o médio vitoriano no estaleiro para não incomodar o Benfica." Aliás, segundo a publicação consultada, "... Santos Ruivo, um árbitro de Santarém, defensor do status quo do futebol nacional, um homem sem prestígio na arbitragem e que foi salvo por critérios difíceis de perceber, da respectiva desclassificação."
O Vitória escorregava, empatando sem golos, mas não havia tempo a perder. Daí, a quatro dias jogar-se-ia a partida decisiva na Alemanha. Assim, muitos dos que estiveram ao Sol nas bancadas do Patalino rumaram directamente para o gelo alemão, no estádio Bolkelbergstadion.
Foram milhares, o que "já não espanta que o Vitória leve atrás de si milhares de vitorianos. Nem mesmo para o estrangeiro. Mas, mais do que isso - e as senhoras são avessas a ele - é o facto do grande número de adeptos que se deslocaram à Alemanha serem senhoras a quem o futebol fascina. (...) Nas senhoras há tanta vibração, tanto pulsar vitoriano, como nos homens." E todos eles, plenos de esperança ajudaram a recriar "... o Largo do Toural em que se transformou o Hotel Nikko...", onde "todos os vitorianos, quase todos, se encontram no Hall do Hotel, em amena discussão..."
Além desses, dos que rumaram de Portugal (ou até de Elvas, por nem sequer terem ido a casa), destacam-se os emigrantes espalhados pela Europa fora, como ficou provado no bilhete que apresentamos, escrito por José Luís Marques, "...um português que nada diz ao Vitória, prospector bancário de profissão que acaba por transmitir bem o sentimento nacional que lhe subjazestes e a prova de que o Vitória conquistou o coração de muitos portugueses."
No jogo, contudo, "... a sorte nada quis com o Vitória", pois "Nem sempre quando se joga bem, o resultado é o melhor. Às vezes quem mais mal joga é quem mais porfia." Aliás, escrevia-se que "o Vitória fez a sua melhor exibição em jogos da Taça UEFA em terreno adversário, desfrutou de mais oportunidades para marcar, não logrou trazer um golo na bagagem..." e acabaria atolado no gelo alemão, ao perder por três bolas a zero."
Os Conquistadores sofriam uma dura desilusão, mas o orgulho estava bem em alto, como se reconhecia ao escrever que "Parabéns vitorianos, que estais em todas... Sois um exemplo, raro de apoio incondicional e constante à vossa equipa. Bem mereceis novas alegrias..." Continuam a merecer!