O ano de 1935 acabara de forma infeliz, com uma pesada derrota por quatro bolas a uma em Ovar frente à Ovarense. Um mau prenúncio para o denominado Campeonato das Ligas que iria começar daí a pouco e era tida, na altura, como a segunda prova mais importante do país.
Porém, no primeiro dia do ano, a visita seria retribuída no Benlhevai, brindando os Conquistadores o seu oponente com nove golos sem resposta, numa clara e inequívoca desforra. Um festim, principalmente na primeira parte, onde se destacou Clemente, que como escreveu o Notícias de Guimarães de 06 de Janeiro de 1936, "... marcou quatro golos seguidos, tão iguais, tão idênticos, em característica e factura, como dois pares de gémeos que não se diferenciam."
Sublinhe-se, ainda, uma curiosa constatação relativa à segunda metade da partida vertida na publicação consultada: " Para o final os visitantes imprimiram ao jôgo uma toada violenta e alguns gestos... principalmente a brutalidade dum trangalhadanças da defesa da Desportiva Ovarense, mais própria para guarda da porta de casal da aldeia, do que jogador de futebol em grupo de merecimento."
Atendendo ao substancial resultado, levantava-se uma fábula vitoriana: a lenda do Benlhevai, em que a equipa era capaz de se bater com qualquer oponente no seu recinto, tornando-se débil e insegura longe de Guimarães, levando a que se equacionasse que "enquanto os componentes do grupo não julgarem por uma só mente que vale mais um triunfo alcançado num campo estranho do que duas vitórias em Benlhevai: o Vitória estará sempre à mercê das derrotas de qualquer..."
Tal levava a uma surpreendente conclusão: " É conhecida a alma à Benfica!.... é admirada a alma à Belenenses!... porque não criamos também uma alma à Vitória!... É só ter vontade!" Desconhecia o escriba que a alma vitoriana já existia de modo inelutável, havendo de se perpetuar até aos dias de hoje...