COMO VÍTOR PANEIRA SELOU O SEU DESTINO NO VITÓRIA, NO INÍCIO DE UMA TEMPORADA QUE, DESDE LOGO, SOUBE SER A ÚLTIMA, POR TER CHOCADO COM PIMENTA...

A temporada de 1995/96 trouxe uma aposta declarada na equipa vitoriana, apesar das vendas dos "Pedros" para o Sporting. Deste modo, os Conquistadores conseguiram recrutar nomes como Arley Alvarez, Marco Freitas, Soeiro, Emerson, Ramirez, Edinho, Capucho (estes três fruto do referido negócio com os Leões), Neno e Vítor Paneira, que era tido como a estrela da companhia.

Internacional português, houvera-se incompatibilizado no Benfica na temporada anterior com Artur Jorge, o que fez com que fosse dispensado dos encarnados, chegando muitos anos depois a dizer em entrevista ao Record de 08 de Junho de 2002 que "... na altura senti que havia uma pessoa que não tinha vindo para construir um Benfica campeão, longe disso, veio nitidamente para destruir um Benfica campeão. Não me arrependo daquilo que disse na altura, porque senti que tinha toda a razão do meu lado. As pessoas agora reconhecem que tinha razão. Faria o mesmo agora e seguramente que não iria apertar a mão ao Artur Jorge."

Por isso, aceitaria o desafio lançado por Pimenta Machado, para ser o líder da equipa dentro de campo, num desafio que durou quatro temporadas, consubstanciadas em 142 partidas e 18 golos, alguns deles memoráveis como o que apontou frente ao Parma, numa das mais belas eliminatórias europeias disputadas pelo Vitória.

A sua última temporada de Rei ao peito seria a de 1998/99 e cedo começou a perceber o seu destino delineado. Com efeito, depois de ter sido apresentado o treinador sérvio, Zoran Filipovic, como sucessor de Quinito que conquistara o terceiro lugar, esperava-se como o próprio jogador confessou em entrevista à Tribuna Expresso em 2020, que acreditava-se ser "um treinador que tinha ideias boas, ideias novas, dado o passado dele queríamos acreditar que tínhamos ali um treinador que nos podia fazer superar o que tínhamos feito na época anterior..."

Por isso, a apresentação da equipa seria feita com pompa e circunstância, "à espanhola", como escreveu o Notícias de Guimarães dessa altura. Contudo, esse dia, desencadearia a história que faria o já capitão vitoriano abandonar o clube... no final desse exercício.

Com efeito, como o próprio contou nessa entrevista, "tinha acertado já o meu contrato com o Dr. Pimenta Machado, mas não estava assinado ainda. Nesse dia da apresentação vamos realizar exames médicos de manhã. Mais tarde o diretor Pedro Xavier chama-me e diz-me que o Vitória não vai poder pagar o contrato que tinha combinado comigo e que eu teria de baixar o meu ordenado. Isto em cima da hora da apresentação." Tal causou a indignação do jogador que ameaçou deixar os dias do contrato anterior caducar e partir rumo a um novo desafio.

Apesar disso, nessa noite, que, supostamente, era de festa, o jogador, com contrato ainda com o Vitória, apareceu nos balneários. Com os elementos do plantel a serem chamados um por um, quando o speaker, em plenos pulmões, bradou "com o número 7... Víttooorrrr Pannnneiiiraaa", ninguém assomou ao relvado, causando estupefacção nas bancadas do estádio. Com uma bronca monumental quase a estourar, seria Ricardo Pimenta Machado, irmão do presidente, a resolver a questão, pois acercou-se do jogador, dizendo-lhe “Aquilo que o meu irmão combinou contigo será cumprido, não te preocupes, eu cumpro, tens a minha palavra".

Tranquilizado, subiria ao relvado para gáudio dos vitorianos, para carimbar o seu destino no Vitória, poucos minutos depois. Assim, seguiram-se os discursos do presidente, do treinador e de Paneira, como capitão de equipa, onde "...eu tive a infeliz frase: "Eu só não fico no Vitória se o Dr. Pimenta Machado não quiser". Ele olhou para mim, juntou o polegar à garganta e traçou, como quem diz já foste."

iria, mesmo, no final da temporada, após aquela dolorosa derrota em Alverca que custou o quinto apuramento europeu consecutivo, ainda que durante essa temporada, quase como amnistia, "convida-me para ser treinador ainda durante essa época, para substituir o Filipovic, e eu disse que não, que era cedo, que ainda queria jogar." Assim, só lhe restava abandonar o Vitória para continuar a carreira de jogador em outras paragens...

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