Numa das fotografias apresentamos quatro atletas determinantes naquela campanha de 1934/35. Assim, da esquerda para a direita encontramos Maneca, Ricoca, Pantaleão e Laureta I, elementos que viveram uma campanha pautada pela injustiça. Noutra, surge-nos Alberto Augusto, o homem contratado ao eterno rival, para demonstrar a força vitoriana e lutar contra todas as forças ocultas do futebol do distrito.
Na verdade, o Vitória houvera roubado o título de campeão distrital ao Sporting minhoto na temporada anterior. Um campeonato conquistado graças ao golo de Paredes e que fez soar todas as sirenes de alarme na cidade vizinha... a hegemonia no futebol do distrito podia estar em causa.
Assim, como já escrevemos aqui na página, apesar do campeonato ter sido rijamente disputado, seria nos corredores da AF Braga que o mesmo se decidiria com uma injusta e peregrina decisão a prejudicar o Vitória, ainda que nada tivesse acontecido com a equipa vimaranense. Com efeito, a equipa seria castigada com dois jogos de interdição do seu Campo de Benlhevai pelo facto dos seus adeptos, alegadamente, terem... apedrejado a comitiva do SC Braga quando esta passava pelo Toural em direcção a Fafe, para disputar um jogo. Depois de uma série de movimentações, e com os jogos a serem marcados para serem disputados em Braga... o Vitória, como sinal de protesto, optaria por não comparecer à partida contra o SC Fafe, entregando o título à equipa sempre rival.
Um título conquistado de forma lamentável como narrava o Notícias de Guimarães de 13 de Janeiro de 1935 que escrevia que "A vergonha do Campeonato Distrital terminou com a vitória do favorito bracarense, Sporting, após as maiores tropelias cometidas pela A. F. Braga." Estas passavam por uma série de decisões inusitadas como "... castigos a jogadores dos clubs do distrito que foram provocados pelos players do Sporting; interdição de campos; multas de organização que se consideram autênticos roubos; árbitros espancados; vitórias feitas num último apelo e forjadas as grandes penalidades; insultos e doestos; finalmente, os campos funcionando ilegalmente, embora apresentados os respectivos protestos." Por isso, apenas se podia concluir que "Salvé, Campião da Secretaria da A.F. Braga! Salvé! Salvé"!
Porém, havia que reparar a imagem vitoriana e projectar o futuro. Quanto à primeira, a Direcção do Vitória não cruzou os braços e "...resolveu dirigir-se às direcções de todos os clubs que visitaram a cidade de Guimarãis, solicitando-lhes o favor de emitirem as suas opiniões àcêrca da maneira como foram recebidos pelos jogadores do Vitória e pelo público desportivo desta cidade." Todos haveriam de responder manifestando o modo cavalheiresco e fidalgo como os anfitriões os receberam, "... incluindo-se ... alguns clubes bracarenses, elogiando desassombradamennte o desenvolvimento desportivo do meio vimaranense e a sua educação." Haveria, contudo, uma excepção: o SC Braga, já que "... os directores do Campião da Secretaria da A. F. Braga, não só se manifestaram em discordância com o ofício que enviaram quando paparam um jantar ao club vimaranense, mas também esvurmem ódios contra a nossa terra...", que para eles era, pasme-se, "... uma selva onde livremente passeiam feras!"
Mas mais do que isso, o Vitória tomou uma decisão que haveria de desequilibrar as forças do futebol do distrito, por muito que as tropelias associativas tentavam desfavorecê-lo. Assim, contratou ao eterno rival Alberto Augusto, num golpe que valeria a conquista da hegemonia futebolística. Uma escolha que era aplaudida nas publicações locais, já que era tido como "...um "virtuose" da bola...", pois era tido como alguém que possuía... "conhecimentos técnicos muito vastos, com soberbas qualidades de disciplinados e duma proficiência invulgar...", pelo que "... estamos certos que o desporto vimaranense muito terá a lucrar com os seus autorizados conselhos e ensinamentos, e também de que o food-ball há de impor-se em todo o distrito."
Porém, antes disso, como narra o mesmo jornal de 24 de Janeiro, perceber-se-ia o cambalacho entre os responsáveis bracarenses e fafenses. Assim, "com a ida dum delegado do Vitória junto da Federação Portuguesa de Foot-ball, descobriu-se todo o jôgo que se tramou contra o clube vimaranense." Na verdade, "O Sporting de Fafe que, pela boca dum dos seus directores, alardeava a maior das simpatias pelo Vitória, deixou cair a máscara e revelou-se um clube desleal, traiçoeiro e nada afeiçoado....", sendo acusada de ter-se vendido por trinta dinheiros da tradição.
O Vitória sofria na pele as jogadas de bastidores que lhe usurparam um título, mas, salvo a tradicional excepção, era considerado um clube respeitador e, acima de tudo, desferia um golpe que lhe haveria de alterar o futuro...provavelmente, até hoje!