Aquela temporada de 2005/06 era tida como o ano de afirmação vitoriano. Na verdade, depois de cinco anos de jejum, o clube estava de regresso às competições europeias e à orientação da equipa regressava um D. Sebastião, tido como capaz de projectar a equipa aos lugares mais altos da tabela: Jaime Pacheco.
Porém, nesse exercício tudo haveria de correr mal, terminando mesmo no mais infeliz dos desenlaces com uma dolorosa e inesperada despromoção, já com Pacheco longe do banco dos suplentes e com Vítor Pontes incapaz de alterar um destino que, a partir de certa altura do campeonato, pareceu impossível de escapar.
Contudo, ainda antes disso, o Vitória viveu a já referida aventura europeia, conseguindo apurar-se para a fase de grupos da Taça UEFA, após dois tranquilos triunfos sobre o Wisla Cracóvia... um verdadeiro lenitivo numa época difícil, com a honra de ser a única equipa portuguesa a disputar a competição! Assim, em sorte, para essa fase calhariam o Zenit de São Petersburgo e Sevilha (com jogos fora de Guimarães) e o Bolton Wanderers e o Besiktas (com as partidas a serem disputadas no D. Afonso Henriques.
Estrear-se-iam os Conquistadores nesta fase a 20 de Outubro de 2005 na gélida Rússia, frente ao Zenit com Freitas do Amaral, um vimaranense do coração na bancada, e Vladimir Putin na bancada. A alinhar com Nilson; Mário Sérgio, Dragoner, Medeiros, Cléber; Flávio Meireles, Svard, Neca, Benachour; Targino e Saganowski, como escreveu o Notícias de Guimarães de 28 de Outubro desse ano, a equipa vitoriana "foi gravemente prejudicada pelo de uma equipa de arbitragem liderada por Dejan Delevic. O homem de Leste prejudicou não uma, nem duas vezes a equipa vitoriana, estando francamente mal em lances determinantes. Lances com Targino e Dragoner foram, pelo menos dois dos exemplos flagrantes da desatenção dentro da área russa."
E se aos russos foram perdoadas duas grandes penalidades, na área vitoriana não existiu essa complacência, muito pelo contrário. Assim, o juiz haveria de vislumbrar um empurrão inexistente de Medeiros sobre Denisov na área vitoriana, apontando para o castigo máximo e expulsando o jogador vitoriano por acumulação de amarelos. Um lance de interpretação (que como veremos infra teria de ser sempre desfavorável ao Vitória, temperada com crueldade absoluta ao deixar o Vitória a jogar com dez unidades, já que o juiz houvera-se apressado a "amarelar" os centrais da equipa, para os limitar na sua actuação.
Ora, se a primeira parte não acabou bem, a segunda não começou melhor com o golo dos homens de São Petersburgo por um extraordinário jogador que haveria de brilhar na Premier League: Andrey Arshavin. Pensou-se que seria a sentença para a derrocada do Vitória, mas as notícias da sua morte foram manifestamente exageradas e Neca, passados cinco minutos, haveria de reduzir distâncias com um tiro de longe.
A partir daí, só daria Vitória... e o árbitro! Valerá a pena citar o jornal consultado em dois lances: "Saganowski ainda teve tempo para responder de cabeça a um cruzamento de Mário Sérgio e Benachour colocar a bola no fundo das redes de Contofalsky. Mas o árbitro, por indicação do auxiliar, viria a anular o golo, por pretensa deslocação de Saganowski no lance que origina a desmarcação do tunisino. Fica a dúvida até porque as imagens não são totalmente esclarecedoras." Ainda haveria tempo para fazer "vista grossa" a um agarrão dentro da área a Dragoner.
Uma arbitragem escandalosa que era avaliada como "o desempenho inicial dava indicações positivas, mas com o correr dos minutos, acabou por salientar as latitudes e prejudicar gravemente o Vitória que não saiu da Rússia com a vitória na bagagem muito por sua culpa.”
Um verdadeiro escândalo que levou o Vitória a apresentar uma exposição na UEFA e o presidente, Vítor Magalhães, a dizer que essa tomada de posição inseria-se "numa contribuição para que as coisas funcionem melhor. Sabemos que não é fácil e que os erros vão continuar, mas o importante é procurar contribuir para que a percentagem de erros seja cada vez menor."
Jaime Pacheco, por sua vez, haveria de mostrar a sua indignação, ao dizer que "é lamentável que um grupo de quatro pessoas tenha estragado um bom espectáculo de futebol e tenha deitado por terra todo o nosso trabalho. O Zenit não tem culpa, desta vez fomos nós os prejudicados, amanhã podem ser eles..."
Enganava-se, contudo, o treinador vitoriano. Com efeito, passados quase nove anos, a bomba haveria de estourar. Assim, em Abril de 2014, o norueguês Erik Hagen, que fazia parte do onze dos russos, haveria de confessar que "depois do jogo havia um ambiente estranho no balneário, nem parecia uma vitória... Quanto pagaram ao árbitro? Todos os jogadores pagaram um pouco. Creio que a decisão de pagar foi tomada numa reunião de equipa. Infelizmente, como não percebia russo, não percebi nada do que eles disseram."
O que é certo é que Delevic após um ano da escandalosa arbitragem haveria de se retirar.... deixando atrás dele a certeza de ter cometido uma das arbitragens mais nefastas aos interesses vitorianos de que há memória... ainda que das declarações de Hagen nada resultasse!