UMA VERDADEIRA LUTA DE GIGANTES EM QUE A "RATICE" DE DANIEL PODERÁ TER VALIDO UM SABOROSO PONTO...

O campeonato nacional de 1964/65 começou de forma escaldante em Guimarães... ainda que o calor do desafio fosse atenuado pela enorme bátega de água se abatera sobre a Amorosa, tornando o recinto vitoriano um verdadeiro pântano.

Pela frente estava o FC Porto, sendo que José Valle optou para essa partida por escolher Roldão; Caiçara, Manuel Pinto, Virgílio, Daniel; Inácio, Peres; Moreira, Rodrigo, Mendes e Casto, num jogo que foi pleno de casos e de sofrimento vitoriano.

Na verdade, numa altura em que não existiam substituições, o Vitória teria de actuar, desde os 6 minutos, reduzido a 10 unidades, atento a lesão de Caiçara, que, como o jornal A Bola de 12 de Outubro de 1964 escreveu, "do longo sprint, Caiçara saiu em inferioridade física, pelo que teve de abandonar logo o terreno, para não mais voltar."

Tiveram de cerrar fileiras os galhardos atletas vitorianos, adaptar-se à contrariedade e usar da matreirice própria de quem faz pela vida. O apogeu desta "ratice" haveria de suceder aos 34 minutos. Assim, após o guarda-redes Roldão ter detido uma bola lançada pelo ataque adversário, gerou-se um desentendimento entre o vitoriano Daniel e o portista Jaime, que se terão agredido mutuamente. O lendário vitoriano terá ponteado as pernas do portista por trás para este responder com um pisão que terá rasgado os calções do vitoriano nas coxas. O árbitro, por estar de costas, não viu o sucedido, mas chamado pelo seu auxiliar, expulsou o jogador visitante... equilibrando assim as forças das equipas, que se viram obrigadas a actuar com dez atletas cada uma.

Com estas reduzidas, perante a inclemência do tempo, mesmo assim, "assistiu-se (...) a uma autêntica luta de gigantes, que bem justificou a afirmação de que "começou o Campeonato!" e que no fim dos noventa minutos, bem tornou igualmente merecido um "bravo" para cada um dos autores de tão grandioso espectáculo. (...) Um espectáculo grandioso, onde houve de tudo um pouco, do ardor à emoção, do nervosismo ao suspense, da virilidade ao apontamento (único) que determinou uma expulsão e ode, portanto, só a ausência do golo (...) conseguiu destoar um pouco..."

No final da partida, a polémica entre Daniel e o portista voltou ao auge. Assim, o vitoriano referia que "O Roldão ficou senhor do lance e eu mantive-me a olhar para lá. Como me competia, não desviei os olhos da bola, e, por isso mesmo, choquei com o Jaime. Ele ficara ali perto e claro, sem o ver, o choque foi inevitável, sem que eu tivesse qualquer culpa. Mas, note, bati-lhe com o ombro e, portanto, sem lhe fazer mal nenhum. Ele é que não entendeu assim, com certeza, porque me deu logo uma "pezada" que até me rasgou os calções, como viu. E foi tudo."

Quanto ao jogador portista, alegava ter sido agredido primeiro pelo defensor vitoriano, reconhecendo, contudo, que não devia ter reagido.

Por fim, o árbitro auxiliar, Bernardo Antunes, que chamara o juiz Braga Barros para o alertar da agressão, admitia "que, tal como o senhor acaba de me dizer, Daniel tenha agredido Jaime, em primeiro lugar, mas a verdade é que eu não vi. O que. vi, sim, foi Jaime atingir Daniel com um pontapé, de maneira que, é claro... a minha atitude, junto de Braga Barros, não podia ser diferente daquela que foi. O jogador do FC Porto ainda se afastou, procurando misturar-se com adversários e companheiros, mas eu vira-o bem, e não tive qualquer dúvida em Indicá-lo ao meu chefe de equipa."

O Vitória começava o campeonato a demonstrar uma capacidade que não confirmaria durante o ano, findando a prova no sétimo posto, ainda que naquela tarde a capacidade de sofrimento e a matreirice tivessem estado bem em alta.

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