Ser jogador proveniente das camadas jovens traz dificuldades acrescidas quando se chega a sénior. Na verdade, o facto der considerado "prata da casa", "uma esperança do futuro" faz com que os jovens que começam a afirmar-se nas equipas principais aufiram salários bem menores do que os ditos consagrados.
Tal passava-se, também, na década de 60 no Vitória, especialmente, com a jovem esperança Gualter. Lateral de boas qualidades, formado no clube, começava naquela temporada de 1964/65, com 19 anos, a dar os primeiros passos na equipa sénior. Um percurso que haveria de cumprir até ao final da temporada de 19689/69 quando, após uma temporada em cheio, foi vendido ao FC Porto.
Porém, nesse ano de 1964/65, Gualter ou "Neca" como os amigos e a família o tratavam era, apenas, um jovem cheio de sonhos. Cheio de sonhos mas de bolsos vazios, atento o facto do Vitória pagar-lhe, apenas, 40$00 por cada jogo que realizasse com o Rei ao peito a titular, o que comparado com os seus colegas de equipa era quase insultuoso.
Até que nessa temporada a equipa liderada pelo argentino José Valle rumou a Lisboa para enfrentar o Benfica. Apesar de ter perdido por quatro bolas a zero, num dia em que Eusébio esteve demoníaco ao apontar três golos, o jogador saiu a ganhar... na noite da véspera da partida.
Assim, depois da comitiva ter-se acomodado, o treinador deu autorização para os jogadores passearem pela cidade, podendo fazer compras e desentorpecer um pouco o corpo e a alma. Porém, reparando que o seu jovem pupilo ficara sozinho no hotel, não resistiu em atirar-lhe:
" - Pois é, você nem vai passear só com o intuito de amealhar, não é verdade? Goze a vida, não poupe da maneira que o faz."
Contudo, haveria de ficar atónito com a resposta do seu jogador:
" - Amealhar o quê? Eu não saio porque não tenho dinheiro. O que ganho não chega a nada."
Absolutamente surpreendido, o treinador tomaria atitude surpreendente. Assim, prometeu que quando chegasse a Guimarães, a primeira coisa que iria fazer seria reportar a situação à direcção, no sentido da situação do jogador ser alterada.
Se assim o prometeu, melhor o fez. Em reunião com a direcção, defenderia o aumento do jogador que fazia parte da equipa por pleno direito. Gualter passou, assim, a ganhar dois contos de ordenado e vinte de luvas...com a obrigação de treinar mais, causando-lhe dificuldades em conciliar o trabalho de mecânico que ainda exercia com a actividade de jogador. Mas isso será outra história...