UM EMPATE NAS ANTAS A VALER A SALVAÇÃO...

A partida de ontem no Dragão, pese embora poder permitir ao Vitória conquistar o quinto posto, não teve o mesmo potencial dramático da disputada em 1970/71, também na derradeira jornada do campeonato.

Na verdade, se ontem, estava em causa um lugar na tabela, nesse ano estava em causa a descida ao inferno da segunda divisão.

No entanto, o ano até parecia ter tudo para correr bem. Apesar de todos afirmarem que a equipa precisava de uma operação de rejuvenescimento, Jorge Vieira (o treinador do terceiro posto de 1968/69) e que estava de regresso a Guimarães, assim não entendia, a ponto de afirmar que "idade não joga. O jogador não leva o bilhete de identidade para o campo. Os calções até não têm bolsos. Um atleta, de vida regrada, pode durar muito. Estudarei a capacidade do plantel. Se for imperiosa uma renovação esta terá que processar-se lentamente. Remodelar uma equipa de fio a pavio é uma loucura. A renovação tem que ser metódica e racional. Ir aos poucos para chegar longe.”

Enganou-se. O Vitória, apesar de passar uma eliminatória nas competições europeias, afastando os franceses do Angôuleme, seria uma sombra dos últimos anos. A ponto do treinador, um bem-amado pelo que houvera feito ter sido despedido, sendo substituído por Peres, ainda jogador, mas que, pela sua experiência e por estar lesionado, assumiria os destinos da equipa.

Não teve um início fácil, chegando ao ponto dos Conquistadores a três jornadas do final do campeonato, estarem no último posto da tabela e com a descida de divisão a ser uma realidade bastante provável.

Para obstar a esse destino, urgia pontuar nessas três jornadas, vencer. Valia que existiam dois jogos consecutivos no, então, Municipal, para na última jornada, em casa do FC Porto, tentar o que fosse necessário.

A primeira das duas partidas em casa foi perante o Boavista, que fez a equipa “acalentar as ténues esperanças... A equipa vimaranense cumpriu o seu dever, fazendo-o mesmo com entusiasmo surpreendente, dando testemunho de determinada para uma safadela.” Artur foi o herói, com um golo já na segunda parte.

Seguia-se o desafio com o Farense, que foi ainda mais duro, e resolvido, exclusivamente, na cobrança de uma grande penalidade apontada por Manuel Pinto a 20 minutos do findar da contenda, para alívio de quem já antevia uma escorregadela que pudesse ser a machadada final nos projectos de fuga do cadafalso da despromoção.

O destino do Vitória iria, pois, jogar-se na última jornada, frente ao FC Porto, estando com os ouvidos colados ao rádio para conhecer os resultados de outras equipas que procuravam fugir da despromoção. Assim, ao Tirsense bastava-lhe uma igualdade, o que conseguiria ao empatar em casa com o Sporting. O Barreirense venceria a CUF por três bolas a zero, garantindo, igualmente, a permanência. O Farense necessitava de um empate para não ser automaticamente despromovido, o que conseguiu ao empatar a zero no Estádio São Luís, frente ao Vitória FC. O Leixões e o Varzim encontravam-se em Matosinhos, num desafio em que quem saísse derrotado podia descer, sendo que o triunfo não garantia a manutenção automática aos leixonenses, mas teria esse efeito para os varzinistas. Os leixonenses venceram e fruto desta conjugação de resultados, o Vitória para sobreviver não podia perder o seu jogo.

Para essa importante missão e com o apoio de milhares de vitorianos nas bancadas, Peres escolheu Gomes; Costeado, Manuel Pinto, Joaquim Jorge, Osvaldinho; Bernardo da Velha, Augusto, Artur da Rocha; Zézinho, Mendes e Ibraim.

Quanto ao jogo “entre os vitorianos de boa-fé, o sentido duma confiança no futuro nunca tinha fenecido totalmente. Lesões, castigos, penaltys falhados, inúmeros golos perdidos não abalaram por isso ânimos. Nas Antas estiveram prontos a sofrer... para vencer. A igualdade chegava, seria o mesmo que o triunfo e, então, mentalizou-se a equipa para isso. (...) Cá fora no lugar do público afecto a Guimarães, a mesma convicção existia. Ouvir-se nas Antas, onde poucos são os assistentes estranhos ao clube da casa, a voz vimaranense bem clamar que o seu Vitória não desceria, como aconteceu...”

Foi mesmo o empate a zero a suceder, o resultado que o Vitória necessitava e como A. referia na sua rubrica “Isto Que Se Chama Desporto”, no Comércio de Guimarães, “houve zabumbas, houve satisfação a rodos, beberam-se umas largas pingas, tudo por ter saído do peito de cada um o peso de uma possível agonia que a todos sufocava, ter o Vitória de baixar de divisão. Salvou-se a honra do convento por um cabelo.”

Por essa razão, o guarda-redes Gomes e o jogador Augusto abalaram do Toural a pé até à Igreja da Penha como agradecimento da graça sucedida, dando ao feito uma dimensão de milagre, de graça divina, já que no aspecto terreno tudo esteve muito difícil de se consegui.

O Vitória não ganhou para o susto, mas salvou-se nas Antas...

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