UM CHOQUE DE TITÃS

Terá sido uma das rivalidades mais quentes no que aos desígnios do Vitória e da cidade dizia respeito.

Pimenta Machado e Fernando Alberto Ribeiro da Silva até começaram do mesmo lado, com o segundo a ser presidente do Conselho Fiscal nos primeiros anos em que o primeiro foi presidente da Direcção. Fernando Alberto sairia incompatibilizado após a contratação de José Maria Pedroto, para, a partir daí, assumir-se como um feroz opositor do modo de gestão e de governação de Pimenta. Haveria, inclusivamente, nos anos 2000 ser dos opositores mais agressivos de Pimenta, escrevendo cartas abertas de ataque declarado ao, então, líder máximo dos Conquistadores e atacando-o em reuniões magnas vitorianas. Por isso, em 2004 foi o presidente da Assembleia-Geral de Vítor Magalhães e ainda arranjou tempo para escrever um livro onde voltou a atacar de foram dura o, já, antigo presidente.

Porém, muito antes disso, em 1992, os dois rivais viveram em conjunto um momento marcante. Um duelo sem espadas, como deveria decorrer no século XIX, mas de palavras, num debate levado a cabo pela Rádio Fundação, num momento em que Pimenta parecia querer empreender o maior desafio da sua vida: deixar a liderança do Vitória para candidatar-se à Câmara.

Assim, frente a frente estavam o governado civil do distrito, figura de proa do Partido Social Democrata e o presidente do Vitória, o maior clube do distrito, e cortejado por todos para entrar na política.

O embate, como escreveu o Povo de Guimarães, foi duro mas elegante, e, por isso, próprio de dois homens que sabiam fazer das palavras as suas maiores armas.

Entre vários momentos, destaquemos alguns dos momentos mais quentes referentes à hipotética candidatura de Pimenta a líder da autarquia.

" - Será um fim triste para o Dr. Fernando Alberto, se ele se candidatar à Câmara. Ele é uma figura nacional e nunca devia terminar como presidente da Câmara. Esse lugar é um começo de uma carreira política e nunca um fim..."

" - O Dr. Pimenta Machado não tem qualidades políticas, técnicas e humanas para ser Presidente da Câmara. É excessivamente individualista e sem capacidade de diálogo."

Entrar-se-ia no tema Vitória, que deixou os dois, ainda, mas assertivos nos argumentos:

" - Deixei de ir ao futebol por ofensas pessoais. Aquando do falecimento do meu irmão, nem um minuto de silêncio foi guardado no estádio. A Unidade - Sociedade de Empreendimentos nunca foi distinguida como sócio benemérito. O Dr. Pimenta Machado foi um venturoso na Presidência do Vitória. Herdou um efectivo património moral e quanto ao Património que construiu, só o conseguiu porque a Unidade vendeu simbolicamente terrenos, teve um grande Director consigo, o Eng. Arantes, teve o meu apoio no Governo e na concessão do Bingo, onde já foi buscar mais de 400 mil contos."

Indignado pelo seu interlocutor estar a tentar retirar-lhe méritos, Pimenta contra-atacou, de forma dura:

" - O Dr. Fernando Alberto é um perdedor. Enquanto, em Guimarães, desde que Cavaco Silva é líder, o PSD passou a ser o primeiro partido em legislativas, o PSD com a sua liderança local em autárquicas afunda-se. Pelo contrário, eu sempre que tenho disputado eleições, para já, apenas, no plano desportivo, tenho ganho.

O Dr. Fernando Alberto é caprichoso e birrento. Por isso, quando o Vitória teve de liderar uma mudança na A.F. Braga para não ser esmagado pelos compromissos que a anterior direcção da AF Braga tinha com o Porto, o Dr. Fernando Alberto veio (...) procurar uma alternativa para a minha presidência. Não conseguiu nada.

Quando das obras do último Mundial de Juniores, só não se construiu uma nova bancada em frente à actua lCentral, porque o Dr. Fernando Alberto disse que não."

Tal seria confirmado pelo seu interlocutor, pois, "entendo que o estádio para o nível de Guimarães, já está muito bom. Não precisa de mais."

De um choque de titãs resultavam várias certezas. Pimenta e Fernando Alberto jamais se haveriam de entender, mas, também, que o lhe o líder vitoriano quisesse entrar na polícia autárquica, pelo menos naquela altura, não o poderia fazer pela via do PSD. Acabaria por jamais arriscar nessa carreira...ainda que, nos anos seguintes, não lhe viessem a faltar oportunidades!

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