Estávamos em 1993... Na antecâmara de mais umas eleições autárquicas, quando António Magalhães era líder incontestado da Câmara Municipal e Pimenta vivia, provavelmente, o período de maior afirmação enquanto presidente do Vitória.
A Maio, desse ano, a bomba haveria de estourar... a Comissão Política do CDS, liderada por Monteiro de Castro, tinha solicitado a um histórico militante, José António Pinheiro, uma difícil missão: tentar seduzir o presidente vitoriano a ser o candidato centrista à autarquia, enfrentando o "dinossauro", António Magalhães.
Marcaria encontro com o líder vitoriano, tendo este respondido, segundo declarações do próprio ao Povo de Guimarães que "em primeiro lugar, só aceito esta conversa, por ser consigo. Se fosse outra pessoa, não perderia tempo com isto." Depois, haveria de acrescentar que talvez aceitasse, desde que o seu interlocutor fosse o seu número 2 na lista a realizar, o que o mesmo disse, desde logo, não aceitar porque as motivações deste "não passavam por qualquer reentrada na cena política."
Tal suscitou um entusiasmo inusitado no panorama político vimaranense, pois anteviu-se, desde logo, que o previsto passeio para António Magalhães seria uma falácia e, provavelmente, iria assistir-se ao combate eleitoral mais disputado da história democrática do concelho. "De facto, o actual presidente do Vitória, praticamente antes de se estrear na política, é já a única personalidade vimaranense com peso político próprio. Quem é que fora do PS votaria em António Magalhães? Quem é que fora do PSD votaria em António Xavier? Ninguém..." concluía o Povo de Guimarães de 11 de Junho de 1993.
Atento o turbilhão que estas notícias desencadearam, inclusivamente no CDS, Pimenta jantou em Lisboa com o líder do partido, Manuel Monteiro, onde foi formalmente convidado para ser candidato. Tal levou a que em Guimarães, no partido, fosse realizada "uma agitadíssima reunião. Estão presentes os principais dirigentes da Concelhia e outros destacados militantes como Joaquim Cosme e os representantes da Direcção Nacional. Há resistências ao nome de Pimenta Machado, mas há, fundamentalmente, críticas a que Lisboa imponha um nome. A reunião acaba às duas horas da madrugada e a essa hora, Horta e Costa, Matos Chaves e o líder real da Juventude Centrista local, Sílvio Cervan, vão para a casa de Pimenta Machado. As conversações duram até às seis da manhã:" Atento a este facto, vários militantes enviariam, de imediato, cartas de desfiliação que jamais seriam analisadas e no jantar que estava marcado, para essa noite, e onde Pimenta deveria ser apresentado, tal não sucederia por uma "justificação processual."
Simultaneamente, o presidente do Vitória resolveu enviar uma carta ao presidente do partido a agradecer o convite, mas a propor uma série de condições para poder aceder ao convite:
" - Termo da turbulência interna que está a rodear a escolha;
- Apoio claro da Direcção concelhia que liderar o CDS no momento do convite;"
- Apoio da esmagadora maioria dos militantes do concelho;
- Independência clara da composição da lista e apresentação programática de forma a alargar a candidatura para além da sigla CDS;
- Admissão do diálogo com outras forças políticas de forma à eventual possibilidade de uma candidatura mais alargada e mais fortemente alternativa."
Todavia, de um momento para o outro, tudo ruiria. Pimenta Machado acabaria por refutar o convite que lhe fora endereçado, o que levou a diversas interpretações, tal como é comum, na Cidade Berço. Como escrevia, o Notícias de Guimarães, "Bom, face à notícia, já divulgada, muitos têm sido os comentários, com uma particularidade todas as conclusões são diferentes: Cada cabeça, cada sentença."
Estas iam "por exemplo, medo da política foi uma das justificações que atribuíram a Pimenta Machado e a juntar a esta há "gerir a Câmara não é gerir o Vitória. Ingénuos foram os que acreditaram em Pimenta Machado. Pimenta Machado faz o que quer do CDS/PP."
Porém, talvez a conclusão de Teresa Ferreira no referido jornal fosse mais acertada: "Contudo nós pensamos que Pimenta Machado faz o que quer da maioria dos políticos vimaranenses. É que a ideia da sua candidatura preocupou muita gente. Uma ideia que Pimenta Machado alimentou até onde quis, o que resta saber é o porquê da paragem. Há quem fale em medo, também achamos que esta palavra entra em todo o puzzle, mas não a atribuímos a Pimenta Machado."
O CDS, esse, limitou-se num lacónico comunicado a informar que Pimenta não seria o candidato do partido à Câmara, ficando, praticamente sem soluções. A aposta recairia no Major Castelar, sendo que tal seria conducente à perda do vereador que o partido mantinha no executivo municipal.
Assim, Pimenta haveria de continuar por mais dez anos como presidente do Vitória, ainda que quatro anos depois voltasse a sentir o canto da sereia da política...ainda que, novamente, não se concretizasse o chamamento!