Um dos maiores riscos de impasse directivo durante o longo consulado de Pimenta Machado ocorreu no final de 1985.
Tudo começou nas eleições autárquicas desse ano, em que António Xavier, candidato do Partido Social Democrata, venceu as eleições por 87 votos em relação ao Partido Socialista, na única derrota eleitoral que António Magalhães conheceu para a autarquia. Assim, enquanto Xavier obteve 22.933 votos, correspondentes a 32,7% dos vimaranenses que se dirigiram às mesas de voto, Magalhães obteve 22.846, o que significou 32,6 dos boletins legalmente expressos.
Pimenta Machado não perdeu tempo, em cobrar a "mãozinha dada" no triunfo eleitoral. Mostrando-se renitente em avançar para outro mandato, disso fez depender uma série de condições a cobrar à autarquia como a electrificação do estádio, o arrendamento do Campo da Unidade bem como uma nova bancada no topo Norte. No fundo, as contrapartidas que houvera solicitado à autarquia para dar o assentimento para que o Vizela actuasse no, então, Municipal na liga principal e que ainda não tinham sido cumpridas.
Porém, os partidos derrotados, insatisfeitos com o apoio dado a Xavier, prometeram tudo fazer para que o Vitória não obtivesse as suas pretensões, vingando-se no clube pela posição pessoal do seu presidente e aproveitando-se do facto de juntos terem a maioria no executivo, podendo impedir que as resoluções sociais democratas tivessem êxito.
Neste ambiente de indefinição, reuniram-se os associados do Vitória em assembleia-geral. Estávamos a 05 de Fevereiro de 1986 e tratou-se de uma das reuniões magnas mais importantes da história do clube, realizada no Teatro Jordão. Nesta, os sócios manifestaram apoio à posição do seu presidente, e decidiram manifestar-se junto à Câmara. A título de curiosidade, refira-se que o Presidente da Assembleia-Geral, António Xavier, era o presidente da Câmara.
Assim, passados cinco dias, a 10 de Fevereiro, cerca de 3000 manifestantes a empunharem bandeiras do clube do Rei, acompanhados pelas músicas e pelos acordes da JUVI Claque 1984, percorreram as ruas da cidade até pararem nos Jardins de Santa Clara...pelo Vitória.
Como refere o jornal do Vitória dessa data, "foi de facto, uma manifestação de vitalidade, de querer, de força, no sentido de alertar a Câmara para a importância do seu apoio. Por isso, ordeira e pacificamente, os associados do Vitória usaram dum direito legítimo, constitucionalmente consagrado - o direito de manifestação - para fazerem ouvir a sua voz."
Com um ambiente de ebulição no ar, António Xavier tentou fazer aprovar uma proposta que respondesse aos desejos do Vitória, Entretanto, vários vereadores colocaram informadores juntos dos manifestantes, pois temiam pela sua segurança.
A proposta de apoio ao Vitória acabaria por ser aprovada, com Xavier e Pimenta a aparecerem juntos nas janelas da Câmara, a anunciar a aprovação das medidas desejadas, merecendo destaque esta parte das declarações do, então, Presidente da Câmara: "A deliberação que a Câmara votou por unanimidade em 03 de Fevereiro corrente, é já insofismável testemunho do apoio que nos merecem as pretensões manifestadas pelo Vitória (...) Face a essas disponibilidade, assentar-se-ão, então em diálogo, com o Vitória. através de uma reunião conjunta a realizar ainda no corrente mês, as prioridades a observar no conjunto das obras previstas, em termos de as mesmas poderem ser começadas de imediato e a tempo de produzirem efeitos na próxima época futebolística."
Tudo, porém, continuou sem avançar. Tal levou a que Pimenta, passados dois meses, ameaçasse bater com a porta, entregando o clube ao presidente à Assembleia-Geral. Tal desencadeou finalmente o pretendido. Assim, a autarquia aprovou a entrega de 20 mil contos ao Vitória para proceder à electrificação do estádio e Eurico de Melo (Ministro da Administração Interna) e Fernando Alberto Ribeiro da Silva (governador civil) anunciaram um complexo desportivo nos terrenos da Unidade para o Vitória, para a cidade e para a Universidade, a ser edificado com elevada comparticipação do Estado. Faltava só a construção da bancada Norte, que, também, viria a ser edificado, sendo conhecida, durante algum tempo, por "Bancada da Benetton."
O Vitória, jamais, seria igual... e Pimenta recandidatar-se-ia às eleições do Vitória, continuando a ser presidente do clube!