Estávamos no início de 1986.
As eleições autárquicas, que tinham colocado António Xavier no poder, haviam sido no derradeiro mês do ano antecedente, e, provavelmente, ajudadas a decidir pela manifestação de apoio de Pimenta Machado ao vencedor, uma semana antes do sufrágio eleitoral. Tal faria com que o PSD acabasse por triunfar por escassos 87 votos, e desencadeasse nas outras forças políticas o desejo de se vingarem da intervenção política do, então, presidente vitoriano.
Assim, na derradeira semana de exercício em funções, com a concordância de todos os partidos não triunfantes, como o CDS e a APU, foi aprovada por consenso uma denúncia à Alta Autoridade Contra a Corrupção de Pimenta Machado, algo que, apenas, o vereador social-democrata, Fernando Roriz, poderia opor-se... caso tivesse estado presente na reunião do executivo. Sucede, porém, que por ter uma reunião da Federação Portuguesa de Futebol, onde exercia funções nada pôde fazer contra essa deliberação.
Atendendo ao teor dessa deliberação, o vereador democrata-cristão, Joaquim Cosme, "fez mesmo questão, na última sessão camarária de propor a realização de uma sessão extraordinária, antes da nova Câmara para aprovar uma resolução. Resolução essa que passaria por uma denúncia de desvio fraudulento de verbas.", que infra explicaremos do que se tratava.
Por essa razão, o ainda edil da autarquia Manuel Ferreira apresentaria um violentíssimo documento ao seu executivo, que consultamos no Povo de Guimarães de 08 de Janeiro de 1986, onde acusava Pimenta de "durante a campanha eleitoral para as eleições autárquicas de 15/12/85, caluniando, mentindo, fazendo chantagem, ameaçando, e, usando e abusando da sua posição de Presidente do Clube para constranger os sócios do Vitória a votar na lista PSD, transgredindo a legislação em vigor."
Além disso, tentaria desmentir Pimenta quanto às promessas feitas pela autarquia quanto à construção de um campo de treinos relvado, de ter perdido comparticipações para construir uma sede e um pavilhão por não ter respondido a um ofício.
Mediante a violência de tal comunicação, a Autarquia haveria de aprovar a instauração de um procedimento criminal ao presidente do Vitória, decidindo em linhas gerais:
" - Repudiar as calúnias do Presidente do Vitória, exigindo-lhe uma retracção pública no prazo de trinta dias;
- Delegar no Presidente da Câmara poderes para instaurar um processo judicial por difamação, e por não aplicação de uma verba de 10.000 contos que lhe foi entregue para a edificação de um novo Campo de Treinos relvado; (aí está o dinheiro que desencadeou o leit-motiv para a denúncia)
- Repudiar e denunciar a apresentação à Inspecção Geral de Jogos de uma lista de investimentos, alegadamente concretizados com as receitas do Bingo, quando se tratava de obras concretizadas e pagas pela Câmara."
Apesar de ter sido aprovada, com sete votos a favor e dois contra (os dos vereadores do Partido Social Democrata) merecerão transcrição as partes mais importantes das intervenções de Fernando Roriz, vereador do PSD, como já dissemos, e antigo presidente do Vitória, de António Magalhães, na vereação pelo Partido Socialista que haveria de suceder a Xavier, como presidente da Câmara, em 1989 e de Joaquim Cosme, o representante do CDS no executivo e que se aliaria no futuro executivo aos socialistas, fragilizando a posição do partido vencedor.
Assim, o primeiro disse que "O Vitória pelo seu peso em Guimarães, justifica que a Câmara não lhe crie dificuldades. (..) O texto do sr. Presidente (já aqui citado) é um exemplo de quase perseguição ao Vitória."
Magalhães aludiria que "O PS foi atacado de uma maneira feroz. Não nos peçam razoabilidade quando fomos vítimas... O Presidente do Vitória colheu os louros das suas calúnias. Quem está a prejudicar o Vitória é o seu presidente que não constrói o património.”
Por fim, Cosme, no seu estilo peculiar, diria que "O Dr. Pimenta Machado é um usurpador de direitos... não passa de um salteador de bens alheios. Mas para além do canalha que é, é o presidente do Vitória. Prejudicar o Vitória, causa-me dor... No meio de tudo isto, é o Vitória o nosso grande amor... Não queremos que ele perca a exploração do bingo. Terá de responder judicialmente pelos 1000 contos ou fazer as obras."
Num ambiente difícil para o líder máximo vitoriano, a questão seria resolvida pela força dos sócios. Após uma conturbada e tensa assembleia-geral que durou mais de três horas, foi decidido manifestarem-se junto às instalações da Câmara Municipal. Perante gritos de ordem, com a colocação de informadores pelo executivo junto dos manifestantes, com, supostamente, vereadores a chegarem armados, para terem de se defender, seria finalmente decidido não travar o desenvolvimento vitoriano...aparecendo triunfantes à janela do Convento Santa Clara António Xavier e Pimenta Machado. Era o início de uma nova história...