Já aqui escrevi que quando encetei este projecto, para além de trazer as memórias vitorianas, o mesmo serviria para as minhas pessoais. Aqueles jogos que jamais me saíram da memória.
Como em tudo na vida, a primeira vez será sempre inesquecível, ficará como um carimbo, uma tatuagem que jamais sairá. Tinha cinco anos feitos há pouco. Ora, se naquela temporada de 1985/86, muitos dos meus amigos recordarão com saudade a digressão ao Estádio da Luz, malograda pela inefável arbitragem de um tal de José Guedes, eu jamais esquecerei a partida uma partida disputada três semanas antes, no então Municipal, frente ao Portimonense.
Na verdade, foi aí que terei assinado o meu vínculo até hoje com o Vitória. Apesar do sentimento ser anterior, com as constantes perguntas ao meu pai como tinha ficado o resultado quando chegava a casa, com o modo embevecido, numa altura em que a compra de camisolas era uma miragem, olhava para o emblema, foi nesse 28 de Dezembro de 1985, um Sábado à tarde, que vi, ao vivo, pela primeira vez as camisolas brancas... contra o Portimonense, adversário do próximo Domingo.
Munido de uma bandeira que ainda hoje tenho, comprada numa das vendas ambulantes que circundavam pelo estádio, numa altura em que o anglicismo da VitóriaStore nem sequer entravam no nosso léxico, assisti a uma perfumada exibição dos homens, na altura, comandados por António Morais. Confesso que, a partir desse momento, passei a admirar aquele homem, por ser o treinador dos ídolos, lamentando a sua trágica e precoce morte três anos depois, quando já nada o prendia ao Vitória.
Nesse dia, com os Conquistadores a alinharem com Jesus; Costeado, Tozé, Valério, Miguel, Gregório Freixo; Bobó, Adão, Roldão; Costa e Cascavel, terei assistido (confesso que não me lembro) a um triunfo por três bolas a zero com um golo de Bobó, o meu primeiro golo do Vitória festejado num estádio, e um bis de Cascavel.
Dizia na altura, o Notícias de Guimarães, e isso confesso que não me lembro, nem sequer tinha conhecimentos de futebol para tal, que "em futebol jogado, pese muito embora as parangonas laudatórias da imprensa portuguesa (...) no lançamento futebolístico dos três grandes, o Vitória tem sido, de longe, a melhor pela sua homogeneidade, esclarecimento e beleza... Por isso, o seu terceiro lugar é imerecido porque não reflecte com justiça a regularidade, o pundonor, a simplicidade, a magia do seu futebol inusitado.
Português? Sim senhor e do melhor; mas também brasileiro, com aspectos de samba, um samba europeizado, mas nem por isso menos belo e estonteante."
Apesar disso, lembro-me do modo voluntarioso como Bobó se entregava ao jogo dividir as opiniões dos vitorianos. O modo embevecido como olhavam para Cascavel ou para Gregório Freixo. Mas, acima de tudo, o apoio inesgotável que me fez envolver completamente na família Conquistadora... até hoje.