O NEGÓCIO EDMUR...

Edmur Pinto Ribeiro fora a figura mais flamejante do regresso do Vitória à Primeira Divisão em 1958.

Avançado talentoso, com golos nas botas, chegara a Guimarães com uma carreira feita no Brasil, onde, por uma vez, vestira mesmo a amarelinha do escrete, em 1955, num amigável perante o Paraguai, ao lado de monstros como o lateral direito Djalma Santos ou do avançado Canhoteiro.

Na Cidade-Berço jamais desiludiu, vindo mesmo a ganhar a primeira Bola de Prata da história do clube na temporada de 1959/60.

Cobiçado por inúmeros emblemas, ainda, foi parte integrante do primeiro quarto posto da história do clube em 1960/61, sob a orientação de Artur Quaresma. Porém, no final dessa temporada, teria de partir, numa história que começou numa entrevista a um jornal.

Mas façamos um enquadramento do sucedido. Fruto de problemas financeiros que já minavam o clube, e que levariam no ano seguinte ao negócio da década, e provavelmente a um dos mais marcantes da centenária história do clube através das vendas de Pedras e de Augusto Silva ao Benfica, o mítico goleador teve de ser vendido, com fundamento na quebra de receitas que se vinham agudizando desde o regresso ao principal escalão do futebol português.

Deste modo, para além do presidente, Casimiro Coelho Lima, ter criado comissões para arranjar, no mínimo 10 contos cada uma, e ter enviado uma carta a todos os amigos do Vitória a “ajuda costumada, se tal for possível, mais avantajada ainda do que tem sido habitual, pela razão simples e humana de que se deseja sempre mais e melhor.”

Porém, foi mais além. Colocou o seu máximo goleador na lista dos negociáveis, para poder respirar na temporada seguinte.

Assim, anunciou no jornal Mundo Desportivo (aí está o aludido recurso ao jornal!) que o avançado brasileiro, que marcou 60 golos em três temporada, era negociável. O custo da sua carta de desobrigação, como se chamava na altura, rondava os 300 contos, que o Belenenses, de imediato, tentou pagar, ainda que sem sucesso.

Porém, Edmur acabou mesmo por partir. Rumou ao Celta de Vigo, por, segundo o presidente Casimiro Coelho Lima, não ter sido possível “acordar com ele um prémio de contrato que estivesse dentro das possibilidades do Vitória, nem quis fazer contra-proposta à proposta que lhe fizemos...”, representando um relevante encaixe financeiro ao Vitória, ainda que o clube o tivesse tentado, posteriormente, segurá-lo, oferecendo-lhe o que pagava ao defesa Caiçara, num processo de avanços e recuos que teve o seu epílogo na sua partida.

O avançado brasileiro na hora do adeus, ainda recebeu uma carta aberta em que um grupo de adeptos lamentava que não tivesse sido homenageado por todos que o admiravam, mas, apenas, num jantar restrito a um conjunto determinado de associados. Ora, segundo os subscritores da missiva “não era assim que esperávamos que te fosses embora de Guimarães. O aplauso e a saudade deviam ser manifestados mais amplamente, uma vez que muitos mais também desejavam provar-te a sua admiração ou o seu reconhecimento pelas horas gloriosas de prazer que lhes proporcionaste. Foi pena, realmente, que o espírito de sector dominasse a tua despedida, pois, para mais tu nunca o cultivaste, uma vez que agiste sempre acima dele, leal e correctamente.”

Edmur haveria de regressar a Portugal para actuar no Leixões, acabando a sua carreira em 1966 na Venezuela. Regressou, depois, a Guimarães, onde se radicou até ao final dos seus dias em 2007, deixando uma prole que, ainda hoje, tem o Vitória no coração.

Postagem Anterior Próxima Postagem