FIRME E HIRTO...COMO UMA BARRA DE FERRO!

A temporada de 2000/01 não corria bem ao Vitória.

Depois da aposta falhada em Paulo Autuori e a "emenda ter sido pior do que o soneto" com Álvaro Magalhães, a aposta recaiu em Augusto Inácio.

Porém, para reabilitar um plantel que parecia destruído a nível de moral, o presidente vitoriano, António Pimenta Machado, optou por uma surreal solução. Com efeito, por aqueles dias, andava na moda um autodenominado hipnoterapeuta que fora ao programa dominical de Herman José, celebrizando-se pela expressão de "firme e hirto como uma barra de ferro" e que causara uma série de comentários pelo país fora.

Sim, falamos de Alexandrino que poderia ser considerado bruxo, próximo das coisas do além...ou, simplesmente, nada disso!

Pimenta haveria de considerar tal medida a panaceia para tudo o que de mal ia acontecendo à equipa, entrando em acção antes de um jogo contra o Belenenses, que a equipa empatou a um, graças a um golo no ocaso da contenda obtido por Romano Sion.

Apesar disso, o grupo reagiu com boa disposição à surreal presença no balneário. Não obstante isso, de imediato, o técnico Augusto Inácio mostrou-se indignado pelo tema ter saltado a público visto que "acho piada porque na Comunicação Social vêm, por várias vezes, artigos com ar de técnicos que apontam o psicólogo como peça importante num conjunto técnico de alta competição e agora, de forma pouco jornalística (para não dizer outra coisa), quando o Vitória entendeu ser útil alguma dessa ajuda – o que nem é inovador no futebol português, porque já se iniciou há largas dezenas de anos –, num plantel causticado por injustiças e até infelicidades, seja criticado de forma inqualificável sem se cuidar de saber motivos e funções de quem nos procurou para nos ajudar nestas quatro finais derradeiras do campeonato”.

Apesar disso, numa entrevista do jogador Nandinho à Tribunal Expresso, realizada muitos anos depois, deu a perceber o carácter inusitado da aposta: "Ele está a dar a palestra e o treinador do guarda-redes pediu para ficar na casa de banho a ouvir a palestra dele. Nós dissemos que sim, que o fechávamos na casa de banho e que ele não podia sair dali, para não dar barraca. O Alexandrino manda-nos fechar os olhos e estarmos em silêncio enquanto ele fala e começa a debitar a palestra e de repente ouviu-se um estrondo enorme [riso] e sai o treinador a correr. O que é que foi? Ele pôs-se de pé em cima do lavatório para poder espreitar cá para fora e o lavatório partiu-se [risos]. Aquilo foi uma barracada enorme. Mas há muitas histórias. Houve uma vez que íamos na camioneta e ele ia a um programa do Herman José e então diz-me: "Eh pá, se tu não te importares vou falar com o presidente a ver se tu vais comigo, vou pôr-te lá a tocar piano para eles verem que os jogadores de futebol não são burros como eles pensam, também têm outros dotes"; "Ó Alexandrino deixe-se lá disso, vamos é concentrar no jogo" [risos]. E ele: "Tu hoje vais ter de ir à frente, vou dar-te uma corneta (ele tinha uma corneta grande) e tu quando entrares em campo, vais à frente da equipa com a corneta a tocar. É o sinal para eles estarem concentrados". Eu comecei-me a rir, porque ao princípio ele dizia que era ele que entrava à frente da equipa com a corneta: "Ó Alexandrino, mas você não pode entrar em campo", "Ai não?!", "Não", "Então vais tu, vais tu com a corneta à frente". E eu: "Ó Alexandrino, eu nem sei se vou ser titular. E mesmo que eu seja titular, eu não sou o capitão e quem entra à frente é o capitão. O capitão vai entrar de corneta?!" [risos]; e ele "Então pronto, eu vou para a bancada com a corneta. Quando vocês ouvirem o som da corneta, é o sinal de alarme, que é sinal de que eles vão atacar" [risos]. Era só risada." Aliás, o piano que Nandinho alude terá sido um dos objectos que Alexandrino tentou levar para o jogo na Madeira, como símbolo de crendice e de fezada.... ainda que acabasse despedido desse momento!

Porém, rapidamente, o balneário entrou em conflito. O guarda-redes alemão Tomas Tomic e o avançado brasileiro haveriam de o acusar de hipnotizar os jogadores, sendo um charlatão e não acreditarem nos seus originais métodos.

Pimenta, esse, perderia a paciência com o "homem da solução miraculosa" por este, numa entrevista, ter dito, entre outras coisas, que os jogadores que jogavam pior eram aqueles que não os ouviam, acusando os jogadores de serem pouco generosos, pois"Fiz um trabalho importante e não foram gratos comigo. Podia ter sido uma moto, um avião, um chocolate, um bolo ou um par de meias. Qualquer artista gosta de receber prendas. Não tiverem uma atitude de generosidade." Ainda assim, como prova de boa-fé deixou um desmagnetizado para os jogadores usarem antes do desafio frente ao Marítimo a disputar na Madeira.

Acresce que, iria mais além, ao acusar Neno de fazer a cabeça aos jogadores do plantel contra si, jurando que o Vitória poderia ser campeão se o mantivesse na temporada seguinte.

Na hora da despedida, afirmou desejar trabalhar no Benfica, pois vivia em Lisboa. Sem Alexandrino, o Vitória haveria de perder em casa do Marítimo, para garantir a manutenção com um triunfo por uma bola a zero frente ao Farense.

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