Aquele início de temporada de 1990/91 fora terrível. Tudo começara mal no estágio de pré-temporada no Brasil, quando Nando fora alvejado com um tiro. Haveria de continuar a correr de modo negativo, com a equipa a começar o campeonato longe da excelência da temporada anterior, perdendo, sem apelo nem agravo, por três bolas a zero em Alvalade e por dois a zero, em sua casa, frente ao Benfica.
Por essas razões, a temporada para os comandados de Paulo Autuori parecia que ia ser difícil, pelo que urgia dar um safanão para esconjurar todos os medos e fantasmas. Porém, aquele jogo de 01 de Setembro de 1990, no Caldeirão dos Barreiros, reduto do Marítimo parecia ser tudo menos fácil. Com efeito, os madeirenses liderados pelo antigo jogador vitoriano e que, futuramente, haveria de se radicar na Cidade Berço, Ferreira da Costa, eram o adversário contra-indicado para começar a escalar lugares na tabela classificativa.
Assim, a alinhar com Jesus; Basílio, Bené, Jorge, Fonseca; Alberto, M'Bouh, N'Dinga; Chiquinho, Ziad e Caio Júnior, como escreveu o Notícias de Guimarães de 07 de Setembro de 1990, "havia a necessidade de ganhar este jogo para pontuar na tabela classificativa, para iniciar a subida aos lugares cimeiros bem mais compatíveis com o plantel que o Vitória dispõe e com as ambições que manifesta esta temporada."
A partida, essa, começou com os melhores indicadores. Logo no primeiro minuto, os Conquistadores haveriam de se colocar em vantagem, graças a um golo do tunisino Ziad. O primeiro dos quarenta e sete que marcou de Rei ao peito, ao aparecer de modo fulgurante para aproveitar um mau atraso de um defesa insular.
O mais difícil parecia estar feito, já que "parecia encontrado o caminho marítimo para o êxito, com o meio-campo vitoriano a jogar em pleno, onde N'Dinga era o comandante, M'Bouh e Chiquinho os imediatos e contando com a colaboração de Alberto e de Fonseca." Todavia, o adversário também ameaçava e, não obstante "a noite sim de Jesus", haveria de empatar a contenda já bem dentro da segunda parte. Temia-se que o Vitória somasse outro jogo sem vencer.
Apesar disso, este jogo, ainda, iria ter mais um capítulo. A oito minutos do seu final, "... quando nas bancadas dos Barreiros já se vivia o empate final, Chiquinho salta com Everton, este atrapalha-se, larga a bola, cai em cima de Chiquinho que, mesmo deitado na relva, estica a perna e ponteia para o fundo das redes." Era o golo do triunfo vitoriano, ainda que muito contestado pelos adeptos madeirenses, que viraram-se contra a arbitragem de Francisco Silva.
Refira-se que o árbitro algarvio não mais apitara o Vitória, desde o inesquecível jogo da temporada anterior nas Antas, em que acusou Paulo Autuori de o ter tentado agredir. Nessa noite madeirense, ele como toda a comitiva vitoriana foram o alvo da ira dos apaniguados adversários. "Mas, enquanto, Francisco Silva, após uma espera de mais de uma hora, conseguiu escapar pela porta principal, o mesmo não aconteceu à comitiva do Vitória que foi agredida com pedras, que provocaram ligeiros ferimentos e alguns vidros partidos."
Apesar do sofrimento durante e após o jogo, os dois pontos iam viajar para a Cidade Berço...