COMO O VITÓRIA MOSTROU A SUA VERTENTE SOLIDÁRIA, HOMENAGEANDO E AJUDANDO UM HOMEM QUE FORA SUA REFERÊNCIA DURANTE ANOS

António da Conceição Silva era natural de Barcelos.

Jovem, viera para Guimarães em busca do sonho de ser jogador de futebol, enquanto trabalhava. Tornar-se-ia guardião do clube durante doze temporadas, vivendo os anos da descida, do regresso do clube e o primeiro quarto lugar da história vitoriana. Aliás, nesse ano, faria 18 jogos, partilhando o balneário com o seu sobrinho Augusto, a quem dera guarida e fizera dele homem... a ponto de ele chegar ao topo da equipa vitoriana, notado e cobiçado por outros emblemas.

Porém, já com Augusto longe da equipa, o drama, sobre si, abateu-se. Um drama causado por uma desconhecida e galopante doença que o apanhou com, apenas, 32 anos, três anos depois de se ter retirado.

Sem poder trabalhar, hospitalizado, os vitorianos mobilizaram-se para o ajudar financeiramente e mostrar-lhe o devido apoio. Na verdade, como escrevia o Notícias de Guimarães de 13 de Dezembro de 1964, "Quem age por bem, cedo ou tarde, recolhe compensação das suas acções. António da Conceição e Silva, vindo de Barcelos para Guimarães, foi sempre bom rapaz, tanto na vida privada como na vida desportiva. Atingiu culminância na defesa das redes do Vitória. Muitos resultados que não esquecem estão ligados a actuações suas. Viu o seu lugar ocupado por outros, às vezes até injustificadamente.... Enfim, na história do Vitória, Silva tem páginas que não se podem olvidar."

Assim, para o suportar nessa hora difícil, organizou-se, a 08 de Dezembro de 1964, no Dia da Mãe, como escreveu o jornal A Bola, "num dia de Sol, magnífico, como ele tanto pedia, e num ambiente de compreensão e de carinho, o infortunado António Silva teve anteontem a sua festa a que uma comissão de vimaranenses deu todo o seu entusiasmo."

Festa essa que passou pela realização de um torneio triangular entre Vitória, SC Braga e Varzim e que foi encetada por um elogio a Silva realizado por Júlio Martins, presidente da comissão organizadora e pela entrada do infeliz guardião ao lado dos três capitães das equipas participantes, para dar o pontapé de saída à primeira partida.

Apesar dos resultados serem o menos importante, o Vitória venceria a Taça António da Conceição, disputada com três jogos entre os participantes, de 30 minutos cada um. O Vitória venceria o Varzim por duas bolas a zero, graças aos tentos apontados por Rodrigo, beneficiaria do empate entre os seus dois adversários e garantiria o "caneco" ao empatar a um contra a equipa bracarense com um golo de Inácio.

No final, apesar da natural alegria em ter vencido, as preocupações iam para o infortunado antigo guardião, que auferiu da "receita que rondou os 70 contos e Silva recebeu ainda ofertas ... feitas por diversas firmas de Guimarães." Assim, "recebeu prendas, terá algum dinheiro, mas juntou a estes valores materiais os aplausos que recebeu. "

Além disso, "nós vimaranenses e vitorianos demos renovado exemplo de que somos reconhecidos para quem o merece. Enchemos a Amorosa, dando ao nome do nosso actual terreno de jogo o significado exacto. Na amargura da sua vida, Silva chegou a ser feliz." Assim diria o próprio homenageado ao referir que "estou muito feliz a quantos colaboraram na minha festa de uma maneira ou de outra. Graças a Deus, o Sol não faltou. A todos estou muito agradecido pelo carinho que me dispensaram. Bem hajam todos."

António Silva haveria de falecer menos de dois anos depois, com 34 anos e sem ter sido capaz de fazer a defesa da sua vida, até para ajudar a criar a sua prole que já dava os primeiros chutos numa bola nas ruas de Creixomil. Porém, terá morrido pacificado por ter tido, em vida, a merecida homenagem que merecia e demonstrativa de todo o afecto que os vitorianos lhe dedicavam.

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