COMO UMA HISTÓRICA DIGRESSÃO IMPEDIU O VITÓRIA DE FAZER HISTÓRIA, POSSIBILITANDO UMA DAS PIORES SEGUNDAS VOLTAS DA HISTÓRIA

Humberto Buchelli - treinador do Vitória

Aquele Vitória de 1959/60 prometera muito.

Desde logo por manter as bases que o haviam levado a ficar no quinto lugar do campeonato anterior. Nomes como Silveira, Daniel, Edmur, Carlos Alberto, Ernesto eram a garantia de uma equipa competitiva, ao qual se juntou o lendário Caiçara. Mas, também, por no início da época, numa história deslocação às colónias ter-se carregado de triunfos, honras e prestígio que muito orgulharam os vitorianos.

Também por isso, sob o comando do uruguaio Buchelli, que tinha trabalhado no ano anterior no homónimo sadino, o arranque dos Conquistadores no campeonato foi impetuoso ao triunfar por sete bolas a zero na Amorosa perante o Lusitano de Évora, seguindo-se uma série em que o Vitória, apenas, foi derrotado nas Antas por três bolas a duas num grande jogo de futebol, em que foi para o intervalo a vencer por dois tentos a um.

E, assim, decorreria a primeira volta do campeonato, ainda que os apaixonados adeptos vitorianos se lamentassem que a equipa não jogasse um futebol vistoso e atraente ao que o treinador retorquia que "o Real Madrid não jogava sempre bem". Por isso, quando no final da primeira volta a equipa estava isolada no terceiro posto terá merecido o benefício da dúvida. Provavelmente, e sem grandes floreados estéticos iria levar o "barco a bom porto."

O pior veio na segunda volta do campeonato. Uma derrocada épica que começou com uma surpreendente derrota em Évora, onde no ano anterior os Conquistadores haviam vencido por três tentos sem resposta. Seria o prelúdio para uma segunda volta, em que a equipa, apenas, foi capaz de vencer o Leixões, goleando-os por sete bolas a uma, somando nove desaires em treze jogos num percurso a todos os títulos arrepiante.

No final da temporada, o treinador haveria de pagar a factura sendo despedido, entrando para o seu lugar Artur Quaresma, que haveria de conquistar o primeiro quarto lugar da história do clube.

No Notícias de Guimarães de 12 de Junho de 1960, José Abílio Gouveia, emérito vitoriano, escalpelizava as razões para tamanha quebra que passavam pelo facto de "o Vitória mantém-se a praticar o futebol em competições, sem descanso aos seus atletas, desde Setembro de 1958 (em alusão à digressão africana)." Tal levou à quebra e à reacção dos associados, ainda que não fosse "descabido lembrar que um futebolista não é uma simples máquina que para funcionar é suficiente carregar num botão, lubrificar ou substituir peças avariadas. (...) Qualquer profissional tem necessidade de descanso após um trabalho continuado.", o que os jogadores vitorianos não tiveram.

Na verdade, a histórica digressão africana poderia ter pejado os Conquistadores de honra e glória... mas, poderá tê-los impossibilitado de fazer história naquela temporada!


Postagem Anterior Próxima Postagem