COMO UM TORNEIO DA AF BRAGA, DEMONSTROU MAIS UMA VEZ OS SENTIMENTOS DE HOSTILIDADE DOS HABITANTES DA CIDADE VIZINHA PARA COM GUIMARÃES...

Já por várias vezes narramos, aqui, na página, os sentimentos de intensa rivalidade e até de hostilidade que o Vitória experimentou quando teve de se deslocar a Braga para actuar no recinto daquela cidade, fosse contra o Sporting local, fosse na condição de campo neutro.

Porém, o mais surreal destes episódios terá sucedido na pré-temporada do exercício de 1957/58, o último ano dos três da década de 50 em que o Vitória disputou a Segunda Divisão, e que, na preparação para o campeonato, disputou a Taça Engenheiro Cruz e Silva, que como escreveu o Notícias de Guimarães de 30 de Junho de 1957, houvera sido um "antigo presidente da AF Braga (...) pois foi um dirigente com a linha de conduta que pode servir de exemplo a todos aqueles que andam na direcção do futebol regional com boas intenções."

Assim, para aferir o vencedor do troféu, depois da equipa vimaranense ter eliminado o Gil Vicente nas meias finais, depois da fase preliminar, deveria disputar-se um play-off a duas mãos entre o Vianense e o Vitória, com uma particularidade interessante. Assim, como hoje sucede, os golos marcados fora não contavam para efeitos de desempate, devendo disputar-se uma finalíssima em Braga, em caso de igualdade após os dois jogos.

Assim, na primeira mão, em Viana do Castelo, o Vitória chegou a estar em vantagem por duas bolas a zero, mas a lesão de Silveira obrigaria a equipa a actuar com dez unidades, o que a levou a consentir o empate a dois. Tudo ficava, pois, para decidir na Amorosa.

Contudo, em Guimarães, "o pouco poder físico” demonstrado pela equipa do Vitória, na semana seguinte, impediu-a de fazer a diferença. Para além disso, "uma arbitragem verdadeiramente medíocre permitiu ao adversário dos vimaranenses toda a casta de habilidades que tornou nulo o resultado da contenda", já que as equipas acabariam por empatar a um.

Por essa razão, deveria disputar-se uma finalíssima no estádio 28 de Maio em Braga. Contudo, se a prova, a título organizativo, fora um fiasco, o jogo decisivo, como escreveu o Notícias de Guimarães, "foi uma vergonha para a memória do sempre lembrado Engº Cruz e Silva." Na verdade, "o público bracarense, que em grande número esteve no Estádio, tomou uma série de atitudes de vexame para com a equipa do Vitória de Guimarães..."

Com efeito, "vieram ao de cima verdadeiramente ódios antigos, que os vimaranenses tinham feito o possível para eliminar duma vez para sempre. É que não estava em jogo um Vitória-Braga e os vimaranenses jogaram no Estádio 28 de Maio com uma equipa tão estranha à cidade dos arcebispos, como ela própria."

Mais do que isso, lamentava o periódico o facto dos "bracarenses, esquecendo a maneira como em Guimarães foram tratados, quando por actos indignos tiveram o seu campo interditado, enxovalharam não só a equipa do Vitória, mas também a nossa própria cidade com apupos verdadeiramente vexatórios." Os actos praticados seriam de tal monta que nas páginas do Correio do Minho surgiria um pedido de desculpas.

Porém, quanto ao jogo em si, com a equipa desgastada, o Vitória seria derrotado, ainda que se "a arbitragem do encontro não tem influído no resultado do mesmo, talvez os vimaranenses tivessem trazido para a sua terra o troféu engrinaldado com o nome dum dos mais distintivos dirigentes do futebol minhoto..."

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