Aquela temporada de 1970/71 estava a ser um verdadeiro fracasso.
Na verdade, o regresso de Jorge Vieira estava-se a revelar uma profunda desilusão, com os Conquistadores, que vinham de dois anos com carimbo europeu, à décima sétima jornada, altura em que defrontaram o Benfica a contarem com um único êxito obtido no campeonato na Póvoa de Varzim. Para piorar as coisas, este já tinha sucedido há dez jornadas, contando a equipa, a partir desse momento, com cinco empates e quatro derrotas. Pior era quase impossível!
Assim, naquele dia 24 de Janeiro de 1971, a equipa composta por Gomes; Costeado, Manuel Pinto, Herculano, Silva; Artur, Peres, Ângelo; Bernardo da Velha, Zézinho e Ademir, vendeu muito cara a derrota, demonstrando uma personalidade que até aí andara desaparecida.
O Vitória, contudo, haveria de cair devido a uma polémica arbitragem do juiz João Calado, que apontou "um penalty duvidoso, vivamente contestado pelos vimaranenses." Foi uma daqueles lances em que contou a interpretação do juiz, que em certos estádios é sempre destinada a favorecer o emblema mais forte. Narremos o lance, com o auxílio da imprensa da época: "na linha de fundo, em plena grande área, Simões cruzou a bola contra o corpo do central Herculano e o fiscal-de-linha do lado do terceiro anel, António Rodrigues, indicou a falta que o árbitro João Calado (de Santarém) sancionou como grande penalidade." Pese embora, os protestos vitorianos, manter-se-ia irredutível na sua decisão, permitindo que Eusébio, aos 63 minutos da contenda, apontasse o único tento da partida selando o êxito benfiquista e afundando o Vitória em, ainda, maiores preocupações.
Apesar do árbitro e do seu auxiliar, numa altura em que os juízes ainda falavam com a imprensa terem tentado tornar a decisão indiscutível, a verdade é que esta "deixou os jogadores do Vitória furiosos. O guarda redes Gomes: "Fomos derrotados por um penalty inventado pelo bandeirinha. O Herculano foi dobrar o Silva e ali, a dois metros do Simões, levou com a bola no braço..." Um escândalo, ainda, reforçado pela violência que a estrela maior do futebol do país, Eusébio, dedicara aos adversários, tal como o mesmo Gomes relatou: "Além disso... levámos pancada... Está a ver o pé do meu colega Ângelo? Teve de levar 10 pontos. Foi o Eusébio. Nesse menino ninguém pode tocar mas ele fez uma coisa destas."
Num jogo decidido pela arbitragem, um facto entraria para a posteridade: "... a dada altura, um miúdo aparentando 9/10 anos, saltou da bancada para invadir o relvado, vendo-se (como a foto demonstra) a surpresa do polícia e do central Herculano, na tentativa de lhe travarem a marcha." Outros tempos, mas sempre com o mesmo epílogo no que ao resultado e ao modo como ele é alcançado diz respeito...