COMO UM ARTIGO NO JORNAL CAUSOU QUASE A DEMISSÃO DE UM PRESIDENTE, PARA O CLUBE ACABAR A "MARCAR UM GOLO" EM CASA DESTE!

O fim de temporada de 1974/75 fora quente.

O Vitória perdera o apuramento europeu para o Boavista na derradeira jornada devido a uma escandalosa arbitragem de António Garrido, que jamais haveria de sair da memória dos vitorianos.

Porém, tal desafio seria, apenas, o início de momentos conturbados que tiveram seguimento pela questão política em que o país vivia, o Verão Quente de 1975, com o país em ebulição política e social.

Ebulição política essa que fez-se sentir no Vitória, pela primeira vez em 53 anos de história, já que o, então, presidente António Manuel Rodrigues Guimarães era tido como um homem do regime deposto, tendo, inclusivamente, sido vereador municipal dos desportos.

Porém, em período conturbado, com o poder na rua, terá passado pela maior das provações, que foi narrado no Notícias de Guimarães de 14 de Junho de 1975.

Assim:

" 1 - em semanário local, divulgou-se artigo que, para além doutros, pareceu atingir o Presidente do Vitória;

2 - no Clube, os seus responsáveis, assim o entenderam, pelo menos;

3- o Presidente, ofendido, anunciou-lhes, para mais, a sua retirada;

4 - consequentemente, a sua Comissão de Fundos que o levará à recondução, conhecendo essa intenção, provoca Assembleia Magna;

5 - angaria, para isso, grupos de associados que preencha as condições legais para a requerer;

6 -e, logo, na sua ordem de trabalhos, promete a sentença de morte para o autor do artigo;

7 - nela, não se verificam, depois as presenças, dentro dos preceitos estatutários, que possibilitem a reunião."

Concluía-se, deste modo que "de tudo isto resulta uma bronca inadmissível. Mistura-se com evidência, a política com o Clube, dentro da complexidade da hora que passa. E este é que sofrerá naturalmente as consequências.

Merecerá destaque, no mesmo jornal, o poema escrito por Belgatour, denominado de "Guimarães - O Teu Azar..."

" O VITÓRIA foi lesado

por escrito impertinente,

pois nele foi atacado

quem era seu Presidente!

 

A mania da importância

de em bicos de pés andar,

leva a gestos de arrogância

que são para lamentar.

 

O passado...é passado

e mau é se assim não for,

Neste mundo conturbado

deve acabar o rancor!

 

Com o estádio interditado

por bem recentes desmandos

O VITÓRIA, infortunado,

vê-se agora sem comandos...

 

Como um mal nunca vem só

surge assim a tempestade

que quer reduzir a pó

este brasão da cidade.

 

Cessem ódios incontidos,

siga o VITÓRIA prá frente

em rumos tão definidos

que só orgulham a gente.

"

Seria assim marcada uma Assembleia-Geral para discutir a demissão de Rodrigues Guimarães, onde teve papel determinante António Faria Martins, que sem pedir a destituição de sócio do autor do texto (João Mota Ribeiro), conseguiu através da sua moção, aprovada por aclamação, as seguintes deliberações.

" a) dar ao desprezo a nojenta prosa e o seu autor;

b) reiterar aos Corpos Gerentes em geral, e em especial, ao Presidente da Direcção a sua plena solidariedade;

c) agradecer-lhe a isenta, dedicada e desinteressada actuação, e

d) pedir-lhes que continuem no desempenho dos seus cargos com a certeza de terem a apoiá-los o caloroso aplauso desta massa associativa e sempre unida, que fez do Vitória Sport Clube a colectividade mais representativa de Guimarães."

Deste modo, "o seu pedido de renúncia foi repudiado, ao mesmo tempo que o desagravam da ofensa que não o poderia atingir, uma vez que não pode ofender quem quer, como se disse na Assembleia-Geral realizada no Teatro Jordão..."

Posto isto, iriam os associados em cortejo até Pevidém, casa do Presidente, para o desagravar das acusações, fazendo com que continuasse presidente do Vitória por mais um ano.

Um gesto que mereceu do poeta Belgatour a seguinte quadra:

 

" O VITÓRIA triunfou

Na casa do presidente

Pois grande golo marcou

Da forma mais evidente!"

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