COMO PIMENTA CHEGOU AO PODER NO VITÓRIA NUMA ASSEMBLEIA GERAL QUE COMPROVOU QUE O VITÓRIA NÃO NADAVA EM DINHEIRO, MAS SOBEJAVA EM ENTUSIASMO...

 

“ - A família Pimenta Machado, da parte do meu pai, é muito conceituada em Guimarães e a expectativa era a de que tomasse conta do Vitória. O meu primo Carlos ligou-me para Lisboa e diz-me isto ‘a malta precisa de falar contigo’. E eu ‘qual malta?’ Lá me explicou por alto e disse-lhe que ia a Guimarães na Páscoa. Lá fui, falámos sobre o sentimento comum de ajudar o Vitória e avançámos com uma condição minha: alinho, sim senhor, mas quero fazer infraestruturas, o Vitória é só um clube de futebol e quero mais. Muito bem, cada um de nós foi ao [banco] Pinto & Sotto Mayor para assinar uma letra de dois mil e 500 contos. Resolvemos algumas dívidas e avançámos para reuniões mais precisas sobre o futuro. A conclusão era a de que o Vitória não era nada a nível nacional, só local, e teríamos de dar o salto."

Foi assim que António Pimenta Machado narrou em entrevista ao jornalista, Rui Miguel Tovar, a 10 de Novembro de 2023, no portal Zerozero, a sua chegada ao poder no Vitória.

Tal seriam os passes iniciais tendentes ao que sucederia naquela Segunda-feira, dia 10 de Março de 1980, numa Assembleia-Geral realizada no Salão Nobre da sede social vitoriana, que, como escreveu o Notícias de Guimarães de 14 de Março desse ano, "encheu a deitar por fora, como a comprovar um interesse cada vez maior pela primeira colectividade de Guimarães, a viver uma hora de esperança bem viva..."

Ainda assim, como a entrevista do presidente dá a entender e o jornal confirmava "a loucura que tem invadido os profissionais de futebol, que pretendem que os clubes transformem o cotão dos seus bolsos em oiro puro e reluzente, capaz de afogarem a sua desmedida ambição."

Porém, nessa noite, sob a condução do, ainda, presidente da Assembleia-Geral, o antigo presidente da direcção, Egídio Pinheiro "que os conduziu os trabalhos de forma impecável, como convém à colectividade e sempre foi seu timbre", começou-se por discutir o Relatório e Contas da direcção anterior e que comprovou o que Pimenta haveria de contar muitos anos depois. Assim, apesar do mesmo ter sido aprovado por aclamação, a verdade é que "o futebol profissional custou ao clube durante a gerência de 1979, a bonita quantia de vinte e quatro mil e quinhentos contos e rendeu apenas a insignificância de nove mil e vinte e quatro contos." Um problema que demonstrava "sobejamente a falência do futebol português que continua a viver da carolice de meia dúzia de dedicações clubistas que tudo dão em troca de nada."

Seguiu-se a escolha dos órgãos sociais, "acto que deve ter sido o mais concorrido de sempre, apesar de muitos associados pelo adiantado da hora, perto da meia noite, se terem retirado já."

Assim, dos duzentos sócios que colocaram o seu voto em urna, apenas um manifestou-se contra a eleição dos novos corpos sociais que tinham como presidentes da Assembleia-Geral e do Conselho Fiscal, respectivamente, António Xavier e Fernando Alberto Ribeiro da Silva. Quanto à direcção, António Pimenta Machado seria o presidente, tendo como presidentes adjuntos, e também presentes nas fotos apresentadas, os seus primos Armindo e Carlos e como Secretário-Geral, Lourenço Alves Pinto.

Deste modo, "o Dr. António, como se sabe, é um jovem e promissor advogado e os primos, tanto o Armindo como o Carlos, são jovens e dinâmicos empreendedores vimaranenses que se encontram à frente dos Armazéns A.L.Pimenta e Fábrica de Tecidos de Vila Pouca, respectivamente."

No final da sessão, Egídio Pinheiro, que deixava as suas funções, "manifestou a sua alegria, por se ter resolvido, pela primeira vez, sem quaisquer problemas, a sucessão directiva do Vitória."

O acto encerraria com palmos e gritos de Viva ao Vitória "que fizeram estremecer a sala de entusiasmo incentivo, como que a garantir que a unidade desejada entre todos os sócios, cada vez mais se cimenta..."

Era o Vitória em mudança...

 

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