COMO O VITÓRIA SENTIU QUE COMEÇAVA A PERDER AQUELA FINAL DA TAÇA, A EXPENSAS FEDERATIVAS, MUITO ANTES DE GARRIDO FAZER AS SUAS TROPELIAS...

 

Estávamos ainda longe daquela famigerada final de 12 de Junho de 1976.

Aliás, nem sequer ainda se tinha disputado a meia final da prova, que decorreu uma semana antes, entre Vitória e Sporting, e da FPF chegava um telegrama à sede vitoriana a aquilatar da possibilidade da final, caso esta opusesse os Conquistadores ao Boavista (que iria disputar a outra meia final), ser disputada no Norte do país. Além disso, pedia a opinião da marcação do local, a realização do encontro ao Sábado e o horário do jogo.

Imediatamente, o Vitória respondeu que não via problemas que a partida fosse disputada no Porto, no Estádio das Antas, aceitando o Sábado e propondo um horário vespertino para a realização da contenda entre as 17h30 e as 18h00.

Jogar-se-ia a meia-final no Municipal frente ao Sporting, em que o golo inaugural de Ferreira da Costa e o tento no prolongamento de Abreu soltaram os foguetes vitorianos... treze anos depois, os Conquistadores iriam discutir o troféu da prova mais democrática do futebol português. No final da partida, o presidente da FPF, António Marques, que assistiu à partida, confirmou ao jornal A Bola "que o encontro seria no Estádio das Antas, no Sábado, às 17h30", atento o outro finalista ser já conhecido e ser o Boavista.

A partir daí, desencadeou-se o escândalo e actos de profundo desrespeito ao Vitória, quase dando a entender que aquela Taça de Portugal jamais poderia ser vencida. Assim, dois dias depois da meia final, à sede vitoriana chegaria um telegrama a confirmar a realização do jogo à hora supramencionada, para, quase em simultâneo, chegou outro expedido do aeroporto a dar nota da alteração da partida para as 21h30. Seria a primeira final da Taça de Portugal disputada à noite! Tal como o jornal do clube de Julho de 1976 relata "em face disto, o Vitória imediatamente tomou posição discordando da marcação do encontro para a noite, sem que tivesse sido consultado."

Imediatamente tentou a direcção vitoriana contactar César Grácio, secretário-geral da Federação, que não atendeu a chamada, sendo deixado a quem atendeu o telefonema o número pessoal do presidente do Vitória, António Rodrigues Guimarães. Pasme-se que a chamada foi devolvida pelo... tesoureiro da AF Porto, sendo "evidente que aquele senhor contactou o Tesoureiro da AF Porto e deve ter-lhe dito para tentar demover o nosso Clube, colocando-se à margem e furtando-se a um esclarecimento directo devido ao Vitória."

O dia seguinte ainda traria mais surreais novidades. Com a direcção reunida de emergência, com milhares de associados na rua, "foi recebido novo telegrama da Federação a afirmar que um Dirigente do Vitória tinha dado o seu acordo para a alteração da hora, o que era redondamente falso." Imediatamente, contestou-se essa comunicação, com a cominação que o Vitória iria fazer falta de comparência ao jogo se o mesmo se mantivesse em horário nocturno.

Depois de muitas tentativas de contactos, inclusivamente para o vitoriano Hélder Rocha, que na altura desempenhava funções na FPF mas que se encontrava em França com a selecção de Esperanças, "conseguiu-se por fim contactar o Snr. Eng. Abílio Rodrigues que se mostrou surpreendido pelo que lhe foi exposto, pois estava plenamente convencido que a alteração tinha o acordo do Vitória. Prometeu fazer todos os possíveis para fazer uma reunião no dia 10 (feriado), o que não seria fácil em virtude da ausência de Lisboa da maioria dos Directores. Porém, haveria de achar compreensíveis as razões do Vitória ainda que tentasse convencer os vitorianos para aceitarem a hora imposta, visto muitos convidados já terem sido informados da mesma.

Até que chegamos ao dia da véspera do jogo e com ele a indicação telefónica da FPF que a partida iria desenrolar-se pelas 17h30 como o Vitória pretendia. Porém, nesse dia, "os jornais inseriram um comunicado da Federação em que fundamentalmente, se procurava explicar que aquele organismo ao marcar o jogo estava convencido do acordo do Vitória e em que se louvava a atitude do Boavista ao aceitar a nova alteração, já que a posição do Vitória era irredutível."

Assim, "a posição do Vitória foi firme, não se deixando arrastar para uma manobra habilidosa de intenções menos claras. Quem a preparou ninguém sabe!"

Porém, o louvor atribuído ao Boavista deveria ter deixado os vitorianos de sobreaviso para o que aí vinha, sob a forma de árbitro e de nome António Garrido. Na verdade, esta distinção "poderá ter o sabor de uma distinção entre duas atitudes diferentes, até porque a insinuação de uma posição irredutível do Vitória conduz a essa ideia. No entanto, o Vitória, como se verifica, foi sempre igual a si mesmo, mantendo fidelidade absoluta àquilo a que se comprometeu."

O jogo seria, assim, disputado pelas 17h30m " e deste modo foi satisfeita a vontade da massa associativa do Vitória, que em número sem paralelo, marcou a sua presença nas Antas, apoiando a sua equipa e assistindo à escamoteação do resultado por parte do árbitro do encontro". Mas, isso é outra triste história e já aqui contada...

Postagem Anterior Próxima Postagem