AS MAIS NOVELESCAS ELEIÇÕES DO VITÓRIA EM FORMA DE ROMANCE (E DE NOVELA) ...

PRÓLOGO

Estávamos em 1983.

O Vitória estava há três anos sob o comando de Pimenta Machado. Três anos em que houvera sido coadjuvado por Armindo Pimenta Machado, até que a relação que parecia sólida se desmoronou.

CAPÍTULO I - UM CONVITE A ANTÓNIO, A DEMISSÃO DE ARMINDO E O INÍCIO DE UMA GUERRA "PRIMICIDA"...

A desencadear este desenlace, o movimento denominado de Presidentes dos Clubes do Norte, que pretendia conduzir o, então, presidente vitoriano para a liderança da Federação Portuguesa de Futebol. Armindo terá aceite a partida do seu primo, mas pedido que este se responsabilizasse perante o Vitória por algumas obrigações financeiras. António não terá aceite, não rumou para Lisboa em direcção à Federação e, pouco tempo depois, haveria de reformular a direcção, deixando Armindo de pertencer a esta.

Começava aí, um momento de oposição no Vitória, que levou António Pimenta Machado a mudar de estratégia relativamente à apresentação da sua lista para o sufrágio de 1983. Assim, ao invés de deixar decorrer o prazo para a apresentação de listas, o que era quase uma praxe no clube, para, depois deste estar sem direcção, ocorrer uma Assembleia-Geral de apoio a exigir a continuidade do presidente cessante, desta vez não houve preclusão de prazos.

CAPÍTULO II - A OPOSIÇÃO MOSTRA A SUA FORÇA

Simultaneamente, a oposição começou a mover-se. Com efeito, no decorrer de uma partida entre o Vitória e o Farense, foi distribuído um panfleto de um grupo de sócios, que acusava a direcção que terminara funções de "estar a destruir o clube, de o Vitória ir perder no final da época vários dos seus principais jogadores como: Silvino, Eldon, etc." Este comunicado terminava de modo esclarecedor: "Vota Armindo Pimenta Machado"!

Este, na sua candidatura jogou um trunfo. Apresentou como candidato a presidente da mesa da Assembleia-Geral, o então, presidente da Câmara, Manuel Ferreira, que sempre fora alheio ao mundo vitoriano. A convencê-lo terá estado o argumento, já aqui apresentado na página, que era tradição o presidente da autarquia ser, também, presidente do órgão máximo dos associados. Haveria de aceitar tal honrosa deferência, porém, em Ferreira existia um problema e difícil de contornar: não era sócio do Vitória, algo que, no fundo, não era inédito no clube. Com efeito três dos quatro presidentes da Assembleia-Geral, anteriores a si, tinham-se inscrito como sócios para poderem ser candidatos, procurando-se também fazer valer a ideia defendida por um sócio na altura: " - Estou de acordo com o convite feito a Manuel Ferreira. No Norte, as Câmaras que mais têm apoiado os clubes são as socialistas. No Braga, no Rio Ave, no Leixões e os presidentes das Câmaras são os presidentes das Assembleias Gerais deles. Em Guimarães, precisamos que o PS na Câmara apoie o Vitória."

CAPÍTULO III - A POLÉMICA ENTREGA DE UMA LISTA FORA DE TEMPO

Porém, se como já dissemos que Pimenta acautelou-se, entregando a sua lista no devido prazo, seria por este que a polémica estalaria. Na verdade, no último dia de entrega de candidaturas, elementos da lista que, para mais facilmente se perceber, chamaremos de Oposição, deslocaram-se à residência do Secretário-Geral do Clube, Lourenço Alves Pinto, para entregar-lhe os nomes que iriam apresentar. Este, ter-lhes-á proposto deslocarem-se à sede do Vitória para aí receber a referida lista. Porém, lá chegados, depararar-se-iam com recusa no seu recebimento, pois o prazo para entrega tinha terminado às 19h00m, hora de encerramento da Secretaria. A lista ficaria depositada na Caixa de Correio, o que suscitou uma forte discussão, atendendo a que os estatutos do clube previam a entrega da lista até ao fim do dia, não prevendo qualquer hora para tal.

CAPÍTULO IV - O CONSELHO VITORIANO AVANÇA COM PROACTIVIDADE PARA A RESOLUÇÃO DO PROBLEMA

Com o clube em ebulição, seria o Conselho Vitoriano a lançar as luzes da concórdia. O órgão constituído por sete elementos ( Alberto Magalhães e Sousa, António Manuel Rodrigues Guimarães, Herculano José Fernandes, José Machado de Almeida, Vítor Almeida e Silva, Egídio Pinheiro e Rui Pimenta Machado), que, apesar de ter sido escolhido por Pimenta, procurou dar uma verdadeira demonstração de independência, decidindo não insistir com o, ainda, presidente para se candidatar e procurando dirimir questões estatutárias como a demissão de Armindo Pimenta Machado, bem como a inexistência de convocatória com a data de entrega das listas, bem, como ainda, a ausência da condição de sócio de Manuel Ferreira.

Realce para as declarações de um antigo presidente do Vitória que, sob anonimato, referiu ao Povo de Guimarães que "como foi possível que, hoje, se venha afirmar: O Presidente-Adjunto foi demitido pela Direcção. Eu julgo que com estes estatutos, o Vitória poderá ter dificuldades em arranjar dirigentes. Quem é que aceita ser Secretário ou Tesoureiro, com a possibilidade de o Presidente acordar mal disposto, ou achar que não foi cumprida esta ou aquela tarefa e demiti-lo. Se os Estatutos não o permitissem, ninguém teria sido demitido e com o andar do tempo, as divergências, possivelmente, esbateriam-se. Mais do que isso, permitiam que qualquer presidente aceitasse, ou não, a apresentação de qualquer lista, podendo perpetuar-se no cargo.”

Com tantas dúvidas, o Conselho Vitoriano foi proactivo, pugnando pelo bem do Vitória. Assim, ao fim de três reuniões, decidiu marcar uma Assembleia-Geral, dizendo que "é na verdade, a abertura á concorrência de novas listas propostas, a demonstração mais eloquente da vitalidade do Vitória e a melhor prova da existência de dedicação e interesse de quantos querem dar o seu contributo para um Vitória maior e melhor."

CAPÍTULO V - A DECISÃO DO CV LEVA A NOVA AG...ONDE A SUGESTÃO DE FERNANDO ALBERTO RESOLVE O DIFERENDO

Pimenta seria o primeiro a não se mostra agradado com a hipótese, mas afirmaria que "pessoalmente, respeito a posição do Conselho Vitoriano", enquanto Armindo, como candidato a presidente do Conselho Fiscal da lista opositora, mostrou-se satisfeito com a decisão, sendo o candidato a presidente da direcção, Manuel Rosendo Salgado e Manuel Ferreira continuasse a candidato à Assembleia-Geral.

Na reunião magna realizada na Escola Secundária Francisco de Holanda, mediante proposta de Fernando Alberto Ribeiro da Silva seriam reabertos os prazos para a apresentação de candidaturas, apagando a discussão relativamente aos prazos de apresentação da anterior lista. Manuel Ferreira, já sócio do Vitória de pleno direito, poderia, também poderia ser candidato à presidência da Assembleia-Geral de pleno direito, ficando o acto eleitoral aprazado para 17 de Março.

CAPÍTULO VI - QUANDO TUDO PARECIA RESOLVIDO... MAIS UM GOLPE DE TEATRO E ARMINDO VAI ÀS URNAS NUMA GUERRA DE PRIMOS

Porém, ainda mais um golpe de teatro haveria de surgir antes das eleições. Rosendo Salgado não apareceu na lista que fora, novamente, apresentada. Na verdade, por estar ausente no Brasil, em negócios, na data da reabertura do processo eleitoral, não pôde subscrever a declaração de aceitação de candidatura exigida por decisão da Assembleia-Geral. Após contactos telefónicos, teria de ser substituído por Armindo Pimenta Machado como candidato a presidente da direcção, ficando estabelecido que seria presidente-adjunto em caso de triunfo desta lista.

EPÍLOGO - O RESULTADO FINAL

No dia das eleições, António venceria o acto com 70% dos votos, o correspondente a 1953 manifestações de apoio, ficando-se Armindo com, apenas, 30%. Terá sido, provavelmente, o mais novelesco acto eleitoral vitoriano, só comparável à "Guerra dos Júlios" em 2018...

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