COMO O MILAGRE SEGUNDO AUGUSTO SILVA, GARANTIU A MANUTENÇÃO E LEVOU O PORTO ÀS LÁGRIMAS...

Aquele Domingo de 27 de Maio de 1962 era especial.

Era o dia do tudo ou nada!

Na Amorosa, reduto vitoriano, jogar-se-ia uma verdadeira final, ainda que por motivos diferentes. Com efeito, o Vitória, orientado pelo jogador-treinador Rola, receberia o FC Porto, num jogo decisivo para ambas as equipas. Assim, os Conquistadores precisavam de um triunfo para colocarem-se a salvo de ter de disputar o play-off de manutenção, então denominado de "Jogos de Competência" enquanto os portistas, caso vencessem, poderiam sagrar-se campeões nacionais.

Por essa razão, o recinto do Vitória teve uma verdadeira enchente, com 20000 adeptos a ocuparem todos os espaços disponíveis, na esperança que as suas cores saíssem vencedoras, ainda que, como Fernando Roriz reconheceu em crónica escrita no Notícias de Guimarães "só uma escassa meia dúzia acreditaria num triunfo do Vitória. Confiança temperada em inúmeras jornadas vitoriosas, tinham os portistas como certo novo êxito para as suas cores; desconfiavam da sua equipa os vimaranenses, com a descrença que lhes marcou o ânimo ao longo de todo o campeonato."

Porém, no futebol, a lógica será sempre um mero pressuposto teórico. Nesse dia, a equipa composta por Varatojo; Caiçara, Freitas; José da Costa, Silveira, Virgílio; Augusto Silva, Ferreirinha, Amaro, Pedras e Nunes " (...) contrariou o que parecia ser o seu destino inevitável, a história do Vitória guardará, sem dúvida, as horas inesquecíveis de Domingo, como testemunho de quanto pode o homem quando se recusa a aceitar, de braços caídos, a situação de vencido."

Na verdade, o Vitória faria exibição como raramente se tinha visto nessa temporada. Um conjunto que, até então, apenas triunfara por oito vezes em vinte e cinco partidas, mas que bem cedo deu a entender "que era o FC Porto que necessitaria de aguardar essa achega da felicidade para lograr atingir o seu objectivo."

Felicidade que chegaria para o Vitória, aos 65 minutos da contenda, quando Augusto Silva, em vias de transferir-se para o Benfica, conjuntamente com o seu companheiro Pedras, bateu o guarda-redes Américo, apontando o único e salvador golo da partida.

Garantia o Vitória a salvação e ficava o país desportivo boquiaberto, com a imprensa desportiva, que já houvera felicitado o Beira-Mar, concorrente directo do Vitória, pela fuga aos jogos decisivos e cujos jornalistas "tiveram uma certa dificuldade em explicar a derrota do FC Porto. É que o mérito do Vitória foi tão evidente, tão flagrante, que não deixava caminho para justificações. Mas a palavra escrita quando bem manejada, dá para tudo. E a explicação foi encontrada: a marcha do desafio Sporting-Benfica (em que o triunfo dos Leões dar-lhes-ia o título), a influir no ânimo dos atletas das Antas, como se alguma vez ele faltasse na Amorosa. Esqueceram-se, somente, que mesmo quando o resultado do derby lisboeta não aquecia nem arrefecia os portistas, ou melhor, ainda os ia aquecendo, porque o 0-0 era por si só bastante e deixava hipóteses para todos os resultados, o FC Porto já não conseguia superiorizar-se de nenhum modo à equipa do Vitória.”

No final a festa fez-se a cores brancas e pretas, numa felicidade impressionante, "desde a expressão aberta, ruidosa e e alegre, até à expressão fechada e patética daqueles que, não se exteriorizando, são por vezes os que mais sofrem. Era o regozijo justíssimo e natural daqueles que, lutando sós, no meio da descrença geral, venceram por seu único mérito." O Vitória mantinha-se no seu lugar de direito!

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