O GUARDA-REDES QUE FUGIU À PIDE A MEIO DE UM JOGO DO VITÓRIA...

Carlos Gomes foi nas décadas de 50 e de 60 o melhor guarda-redes português e provavelmente um dos melhores da Europa.

Formado no Barreirense, cedo chegou ao Sporting, roubando o lugar ao histórico Carvalho e tornando-se numa das referências leoninas.

Porém, com um espírito reivindicativo e incapaz de se manter calado, envolveu-se em demasiados problemas. Bastará lembrar quando às portas da PIDE chamou chacais a dois inspectores, acabando por levar uma valente tareia e nas masmorras da polícia política.

Porém, ainda aconteceria pior do que isso. Apesar das suas queixas salariais, com o dinheiro que foi ganhando conseguiu investir em alguns negócios. Montou uma leitaria e um gabinete de fotografia, onde, segundo ele, sofreu atroz armadilha, que desencadeou esta história.

Assim, a necessitar de uma secretária colocou um anúncio para a contratação de uma funcionária. Apareceu-lhe à frente uma bela e insinuante rapariga, que conhecedora da sua fragilidade perante as belezas do sexo oposto, o seduziu. Não foi de modas e levou-a para a mata do Jamor, onde concretizaram, a suposta recíproca paixão que os consumia. No dia seguinte, pela manhã, a bomba explodiu com a polícia a bater-lhe à porta. Tinham recebido uma queixa de uma jovem que tinha sido "desonrada" por ele, que a tinha forçado ao que ela não pretendia e que, por isso, cogitou atirar-se de um viaduto.

Com esses factos, teria de responder por um processo de violação, que, sempre, suspeitou tratar-se de uma armadilha do Sporting para se ver livre de tão reivindicativo e rebelde elemento. A comprovar isso, a concordância dos Leões em emprestá-lo, durante esse período ao Atlético, já que, mais dia menos dia, seria condenado e preso e não mais voltaria a ser o ídolos das multidões.

Corria o processo e Carlos tomou conhecimento que a PIDE preparava-se para detê-lo. Já não jogava num clube protegido do sistema, era visto quase como um criminoso comum e por isso o seu desaparecimento não causaria muita mossa.

Seria detido após o seu último jogo, que seria contra o Vitória, treinado por Artur Quaresma na Tapadinha. A alinhar com Ramin; Silveira, Freitas, João da Costa; Augusto Silva, Ferreirinha; Caiçara, Pedras, Virgílio, Amaro e Arcángel, o Vitória aos 30 minutos já perdia por duas bolas. Haveria de empatar a contenda até ao intervalo com dois golos do espanhol Amaro, que seriam os últimos que Carlos sofreu em Portugal.

Ao intervalo da contenda, o guarda-redes queixou-se de uma lesão. Seria substituído e rapidamente desapareceria. Haveria de pedir exílio em Marrocos, onde soube que fora condenado à revelia a 10 anos e 6 meses de prisão. Não mais voltaria a Portugal, tornando-se, posteriormente, treinador de referência.

O jogo, esse, numa época em que o Vitória salvou-se da despromoção na última jornada, graças a um golo de Augusto Silva frente ao FC Porto, terminou empatado a três...  mas, ninguém mais o lembrou pelo festim do golo mas pela fuga do melhor guarda-redes português à PIDE e às suas torturas.

Postagem Anterior Próxima Postagem