COMO A DISPENSA DO PRIMEIRO BRASILEIRO QUASE FEZ UMA DIRECÇÃO CAIR…

Como já aqui escrevemos, a temporada de 1961/62 foi uma verdadeira desilusão. A ponto do treinador Artur Quaresma que fora herói no ano transacto, ao conquistar um, até então, inédito quarto posto, ser posto em causa, ser vítima de um abaixo-assinado por parte da equipa - como, hoje, já escrevemos - e a acabar por demitir-se.

Porém antes disso, e antes do treinador, pela porta de saída quase iria a direcção do clube, liderada por Casimiro Coelho Lima, e tudo por causa de um jogador que, na altura era um dos maiores símbolos do clube: Ernesto Paraíso, o primeiro brasileiro a actuar de Rei no peito.

Na verdade, por considerar que o avançado brasileiro não era já preponderante na equipa por si idealizada, Quaresma não teve dúvidas. Dispensou-o, perante a estupefacção dos vitorianos, que muito criticaram tal decisão… e cujas lamentações haveriam de ser amplificadas pela crise de resultados que a equipa experimentou. Aliás, diga-se que mal a decisão da dispensa foi conhecida, demitiram-se os dirigentes António Cardoso Rodrigues e Júlio Martins.

Com um ambiente de profunda contestação contra a sua direcção por não ter segurado o craque, o presidente do clube resolveria apresentar a demissão após o jogo com os aveirenses, levando consigo todos os elementos da direcção em solidariedade. Todavia, ainda, antes disso, numa tentativa de apaziguar as muitas críticas sofridas houvera pago do seu próprio bolso o montante referente à desvinculação do jogador.

Porém, como escreve A Bola, desses dias, “Em Guimarães, tanto quanto conseguimos saber, ninguém deseja que os actuais dirigentes mantenham o seu pedido de demissão. Alude-se em seu abono, à dedicação, ao entusiasmo e ao seu espírito de sacrifício, com que sempre defenderam os interesses do Vitória.”

Por isso, havia a esperança que o Conselho Geral do clube pudesse reverter essa decisão, já que “o Conselho Geral do Vitória Sport Clube, reunido para apreciar a comunicação do pedido de demissão do Presidente (…), decidiu tendo em vista o bem do clube, manifestar a sua total confiança e apoio àquela direcção. E, também, porque estão em jogo os sagrados interesses do clube, que acima de todas as correntes de opinião de forma alguma se podem alienar, entende da mais premente é necessária urgência convocar uma Assembleia-Geral no sentido de procurar estender à unanimidade da massa associativa, como se impõe, este voto de confiança…”

Fernando Xavier, o tesoureiro do clube, reconhecia que “a nossa crise só pode resolver-se com calma, com paz e com a compreensão de todos os que pertencem ao clube. O Conselho Geral, que é soberano, resolverá pelo melhor e para um Vitória maior”, que, como vimos, confirmar-se-ia.

Casimiro Coelho Lima continuaria em funções para se demitir a meio da temporada…com o fundamento de estar cansado de insinuações e por, segundo ele, “quem não se sente, não é filho de boa gente”. O Vitória ia mudar, mas isso será objecto de outra história…

Postagem Anterior Próxima Postagem