Estávamos na temporada de 1978/79...
No Vitória vivia-se uma particularidade que, poucas vezes, terá sucedido no futebol nacional. O técnico, Mário Wilson, o homem mais icónico dos bancos vitorianos na década de 70, fruto dos seus bons trabalhos, acumulava funções nos Conquistadores com as...de seleccionador nacional, num curioso binómio que, como está bom de ver, era difícil de conciliar.
Por isso, a temporada que se previa de êxito, rapidamente começaria a descarrilar. Acabaria, definitivamente, por sair dos trilhos naquele desafio que sempre permitiu criar heróis: o derby do Minho, ainda para mais em casa, já que o golo solitário do bracarense Lito selou o adeus ao apuramento europeu... mas, pior do que isso, a garantia que esse lugar seria do eterno rival.
Levantou-se, por isso, um vendaval na Cidade Berço. Wilson, que fora herói de campanhas anteriores, passou a vilão. Por não dar a atenção devida à equipa, por preocupar-se mais com a selecção, por deixar indicações escritas em guardanapos aos seus assistentes e, como consequência de todos esses factores, o sonho de participar nas competições uefeiras ter-se novamente esfumado.
A faltar três jornadas do fim, seria substituído pelo seu adjunto e eterno homem da casa. Daniel Barreto, um dos mais lendários elementos da história para além de centenária que vimos narrando.
Em Belém, contudo, Daniel viveria um inferno...antes e depois do jogo. Assim, a alinhar com Melo; Ramalho, Torres, Soares, Alfredo; Ferreira da Costa, Almiro, Pedroto, Abreu; Jeremias e Mané, a equipa daria azo a uma das mais célebres crónicas de Alfredo Farinha, no jornal A Bola, ao dizer que "E chegamos, como temos chegado sempre, à mesma conclusão: a de que o Vitória de Guimarães ficou a dever a si próprio, neste Campeonato, toneladas de futebol, sendo de presumir, portanto, que no capítulo de rendimentos práticos, isto é, de pontos e de classificação, também tenha ficado muito aquém do que seria lícito esperar e exigir. Pode parecer que, pondo o problema desta forma, estaremos ainda que involuntariamente a tentar pôr Mário Wilson em cheque. Longe de nós tal propósito. A não ser que (e até pode ser que sim...) tivéssemos de o responsabilizar pelo facto de alguns jogadores do Vitória não estarem quadrados... por estarem redondos."
Pese embora a dureza das conclusões, sob o comando de Daniel, o Vitória conseguiria um empate a um graças a um golo de Mané, que de pouco adiantaria para as contas finais.
Daniel Barreto, no final do jogo, demonstraria a sua estatura humana, ao dedicar o ponto e o trabalho efectuado durante a semana ao homem que fora o líder da equipa técnica até essa semana. Selaria aí o seu destino, sendo despedido no final da época... haveria de voltar muitos anos depois ao Vitória, já sob a liderança de Pimenta Machado!